Título: Governador, cinco dias depois
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 24/02/2010, Cidades, p. 23

Wilson Lima acompanhou, de seu gabinete, a leitura da carta de renúncia de Paulo Octávio. Diferentemente da semana passada, quando chegou a falar como chefe do Executivo sem que ainda o fosse, ele se limitou a divulgar nota oficial

Enfim, governador. Com a prisão de José Roberto Arruda e a renúncia de Paulo Octávio, seu substituto direto, o presidente da Câmara Legislativa, distrital Wilson Lima (PR), chega ao cargo mais alto da administração pública no DF. A partir de hoje, Lima chefiará 120 mil funcionários com a chave de um cofre de R$ 21 bilhões.

Passava um pouco das 16h quando Lima foi avisado por colegas de que em instantes seria o novo governador do DF. O distrital teve reação diferente da de cinco dias atrás, quando por pouco não foi promovido à chefia do Executivo. Na última quinta-feira, Paulo Octávio ensaiou renunciar. Desistiu na última hora. Tarde demais para Wilson Lima, que àquela altura havia concedido entrevista ao Correio falando de seus planos como governador, entre os quais, buscar uma ¿coalizão¿ no Executivo, ¿dar uma outra cara ao governo¿ e quem sabe até se mudar para a residência oficial de Águas Claras: ¿Estou estudando¿.

Ontem, mesmo depois da leitura da carta de renúncia no plenário da Câmara Legislativa, às 17h20, Wilson Lima evitou a imprensa. Passou a tarde inteira em seu gabinete de presidente. Recebeu vários deputados, que o cumprimentavam pela ascendência política em razão da linha sucessória distrital. Dos 23 colegas, 18 colegas tomaram a bênção do novo governador em exercício. Já era noite quando Lima deixou a Câmara, calado, mas sorridente.

Por meio de uma nota oficial, Wilson Lima disse que assumia interinamente a chefia do Executivo sem pretensões. ¿Não escolhi estar nesta posição. Não a almejei, mas não posso fugir à responsabilidade e ao dever de assumi-la¿, disse. Mas aceita cumprir a missão com ¿serenidade, humildade e muita reflexão¿.

Soberania O governador em exercício ainda tocou num dos pontos de maior polêmica da crise política no DF: o do risco de intervenção. ¿Há quem defenda como solução a ruptura política e a intervenção federal. Isso equivale a cassar a soberania do povo brasiliense, soberania conquistada no bojo da redemocratização de nosso país.¿

Desde que, no último dia 2, Wilson Lima foi eleito presidente do Legislativo local com o apoio de Arruda, especula-se que seria influenciado por políticos com maior poder de articulação. Mas ontem, ele devolveu os comentários de bastidores por meio de seu comunicado: ¿Não serei empecilho à volta da normalidade. Não criarei um único obstáculo à condução democrática de nossa cidade. Não farei mudanças bruscas e não aceitarei nenhuma ingerência política.¿

De frentista a distrital

Aos 56 anos, nove deles dedicados à política, Wilson Lima (PR) chegou ao governo com poucos votos, mas muitas oportunidades. O distrital nunca teve eleitores suficientes para ficar entre os 24 mais votados, número de assentos na Câmara Legislativa. Mas desde sua primeira disputa, sempre esteve vinculado a coligações que lhe garantiram um mandato.

Em 1998, Lima reuniu 3.931 apoiadores. Quatro anos depois ficou na suplência. Assumiu o mandato com a saída de Carlos Xavier, cassado por denúncias de assassinato. Lima, então filiado ao PSD, era da mesma coligação que o colega peemedebista. Nas últimas eleições, chegou em 33º lugar, mas também contou com a força de sua coligação para permanecer na Câmara.

A carreira política de Wilson Lima, no entanto, tem se mostrado alheia à sua performance nas urnas. Nos últimos seis anos, o deputado teve voto (um dos cinco) na Mesa Diretora, prerrogativa que alcançou como primeiro secretário da Casa, função que cuida da área de pessoal.

Antes de entrar para a vida pública, Wilson Lima foi frentista, vendedor de picolé, mecânico. Era dono de supermercados no Gama, onde mora desde 1968, no Jardim Ingá (Luziânia) e em Valparaíso. A outra base do político é a militância religiosa. Lima é da Pastoral da Família da Igreja Católica, primeira meta de vida do distrital, que entrou em dois seminários, mas desistiu da batina antes de se ordenar. Optou pelo casamento, mantido há 31 anos.

Polêmica Em quase uma década no Legislativo, o distrital emplacou 39 leis ¿ entre elas a do parto solidário (permite à grávida ter um acompanhante na hora do parto), a da fila (obriga os bancos a atender os clientes em, no máximo, 20 minutos) e a do silêncio (estabelece regras para o uso de som no comércio). Também é de Wilson Lima uma lei que está bem em voga: a que proíbe câmeras indiscretas em motéis e casas de massagem. Algumas sugestões polêmicas do distrital acabaram não vingando. É dele a ideia de reservar banheiros para homens, mulheres e gays.

De trato manso, ¿Lima não tem nada de bobo¿ como definiu ontem um dos distritais avaliando a meteórica ascensão do colega. Conhecido por falar pouco e baixo, Lima foi o segundo parlamentar que mais usou os recursos da verba indenizatória. Em fevereiro do ano passado, reportagem do Correio mostrou que o distrital utilizava parte de sua estrutura de gabinete para tocar um projeto social no Gama. Ele afirmou em entrevista ao jornal na semana passada que, quanto aos R$ 21 bilhões do GDF, vai aplicar no que é correto. ¿Quero tudo detalhado. Se não puder pagar, não vai ter¿, garantiu cinco dias antes de ser confirmado como o gestor dos cofres públicos da capital. (LT)

Opinião do internauta

Leitores comentaram no site do Correio a renúncia do governador em exercício Paulo Octávio (sem partido) e o fato de o deputado Wilson Lima (PR) assumir a chefia do Executivo. Veja algumas opiniões:

Márcio Rodrigo ¿Efeito dominó. Muitas pedras ainda cairão.¿

Gustavo Barreto ¿A mídia tem que nos ajudar a não deixar essa história toda cair no esquecimento. Publicar, pouco antes das eleições, uma lista com os nomes de todos os envolvidos neste e em outros escândalos. Haja papel!¿

Reginaldo Reis ¿Já vai tarde! Volte para o seu lugar, de onde você nunca deveria ter saído.¿

Carlos Guilherme Vasconcelos ¿Arruda deve renunciar também. Está sem apoio político nenhum e, agora, todos já abandonaram o barco. Com a renúncia do Paulo Octávio, Arruda fica mais enfraquecido. Sua renúncia é uma questão de tempo.¿

Rogério Basali ¿Brasília não merecia isso em sua efeméride de meio século. É preciso que a sociedade assuma seus próprios rumos. E o risco pior: Roriz passar ileso e voltar!¿

Cláudio Bernardo de Pontes ¿Não duvido nada de ele voltar dizendo que foi a pedido do povo.¿

Luisvaldo Ferreira Almeida ¿Tá na hora de acabar com essa palhaçada em Brasília. Nós não merecemos isso.¿

Antonio Loiola ¿Perguntinha que não quer calar: Quais os motivos para não se ter renunciado na semana passada? Brasília está tomada de assalto por uma bandidagem sem limites.¿

Fabrício Silva ¿Se está renunciando é porque quer voltar nas próximas eleições.¿

Joaquim Rabelo ¿O vice-governador Paulo Octávio tomou a decisão correta. Não tinha as mínimas condições para cuidar do governo.¿

Leandro Lopes ¿Fora, Wilson Lima!¿

Cesar Santos ¿Por favor, Supremo Tribunal Federal, não permita isso.¿

Marcos França ¿Só gostaria que o Roriz não entrasse no governo novamente, porque aí, sim, ele irá acabar com Brasília. Pensem em quem votar este ano.¿

Fabrício Farias ¿Agora falta a renúncia do Arruda, do Wilson Lima e finalmente a intervenção. Vamos moralizar Brasília.¿

Daniela Rodrigues ¿Não podemos aceitar esse Wilson Lima governar Brasília. Ele não tem cacife pra isso. Nesse caso, é melhor a intervenção.¿

Danillo Lagares ¿Graças a Deus! Aleluia! Pena que agora um cidadão com nove mil votos irá assumir. Uma pessoa que nem o Gama conhece direito.¿

Cristian Deudegant ¿Deputado Wilson Lima, você não acha melhor cair fora antes que sobre pra você também? Eleições para o DF já.¿