Título: Agricultores do Sul já contam as perdas com nova seca
Autor: Jurgenfeld , Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 30/12/2008, Agronegócios, p. B10

O Sul do país começa a viver um período de estiagem similar ao cenário que ocorreu entre 2003 e 2005. Depois de registrar um bom cultivo em 2007, os indicativos são de perdas na safra de grãos de verão nos três Estados da região. Zero Hora

Lavoura gaúcha de soja: escassez de chuvas atrasou o término do plantio

No Rio Grande do Sul, os danos têm ficado mais evidentes no norte e no noroeste do Estado. Do início de dezembro até esta segunda-feira, 36 municípios gaúchos decretaram situação de emergência por conta da falta de chuva.

Depois das enchentes no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, a estiagem será o segundo grande impacto do clima sobre a produção agrícola. A seca concentra-se no oeste do Estado, principalmente em Chapecó e São Miguel do Oeste, cidades produtoras de grãos. A Federação Agrícola do Estado de Santa Catarina (Faesc) calcula prejuízos de R$ 500 milhões para a agricultura catarinense, somando as recentes enchentes no Vale do Itajaí com as perdas da estiagem do oeste.

A Secretaria de Agricultura do Paraná, por sua vez, reduziu recentemente a previsão de colheita na safra 2008/09. Em vez do crescimento de 3% inicialmente esperado, a expectativa agora, por conta do clima desfavorável dos últimos meses, é que sejam colhidas 19 milhões de toneladas de grãos na safra de verão. O volume, se confirmado, representa queda de 15% em relação à projeção inicial.

A cooperativa Cotrisa, de Santo Ângelo (RS), estima queda de 66 para 22 sacas por hectare na produtividade prevista para o milho, a cultura mais afetada pela seca, diz o técnico agrícola Aldir Mallmann. Os produtores associados à cooperativa plantaram 43,7 mil hectares do grão nesta safra em 13 municípios e vão começar a colheita na segunda semana de janeiro.

No caso da soja cultivada na região, a estiagem atrasou a conclusão do plantio para além do prazo determinado pelo zoneamento agrícola na região, que terminou dia 20 de dezembro. Segundo Mallmann, ainda não há previsão para as perdas na cultura, que ocupa 257,3 mil hectares e tem uma produtividade prevista de 37 sacas por hectare.

As principais entidades que acompanham o desempenho das lavouras gaúchas - Emater-RS, Federação da Agricultura do Estado (Farsul) e Federação das Cooperativas Agropecuárias (Fecoagro) - ainda não têm dados fechados sobre as perdas no Estado. Até a segunda semana de dezembro, as precipitações foram, em média, 54% menores que o padrão histórico para o período.

Por enquanto, a Emater mantém as projeções de produção de 5,45 milhões de toneladas de milho, ante as 5,22 milhões de toneladas do ciclo anterior. Para a soja, a estimativa é de 7,72 milhões de toneladas, acima das 7,67 milhões de toneladas em 2007/08.

Em Santa Catarina, segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária (Epagri-Ciram), o volume de chuvas foi 25% menor que o da média histórica no oeste em novembro e de 60% em dezembro. A tendência é que entre janeiro e fevereiro a estiagem continue e o Estado, de acordo com a meteorologista Laura Rodrigues.

A estiagem, segundo ela, não tem a ver com fenômenos como La Niña ou o El Niño, que não estão atuando na região. Laura diz que, entre outros fatores, houve nos últimos dois meses um bloqueio atmosférico que não permitiu que as chuvas intensas do litoral passassem para a região oeste.

A estimativa é de quebra de 15% a 20% na safra de milho, cuja produção prevista é de 4 milhões de toneladas. No caso da soja, a expectativa da Faesc é de quebra de 10% - a produção esperada era de cerca de 1 milhão de toneladas. Já no feijão, a Faesc estima que 80 mil toneladas, de uma safra de 150 mil toneladas, já foram perdidas.