Título: Arruda resiste à renúncia
Autor: Luiz, Edson ; Puljiz, Mara
Fonte: Correio Braziliense, 24/02/2010, Cidades, p. 25

Governador afastado recebe a visita do arcebispo de Brasília, dom João Braz de Aviz, e do secretário de Transportes, Alberto Fraga, a quem disse que vai ¿enfrentar tudo¿ sem abrir mão do cargo. Ele ficou surpreso ao saber da saída de Paulo Octávio

O governador afastado José Roberto Arruda (sem partido) está preparado com a possibilidade de ficar mais tempo na prisão. Amanhã, o Supremo Tribunal Federal (STF) analisa o pedido de habeas corpus de Arruda (leia reportagem na página 26), mas seja qual for a decisão, ele não pretende renunciar, segundo o secretário de Transportes, Alberto Fraga (DEM), o único auxiliar que esteve ontem com o governador afastado. Arruda soube da notícia da renúncia de Paulo Octávio depois das 20h, quando um dos seus advogados, Nélio Machado, lhe deu a notícia. ¿É verdade?¿, indagou o governador afastado, segundo Nélio.

Como fez pela manhã, durante a visita do arcebispo de Brasília, dom João Braz de Aviz, Arruda lamentou o abandono em que vive na sala onde está preso, no Comando de Operações Táticas (COT) da Polícia Federal. ¿Ele reclamou que, além da mulher, Flávia (Peres Arruda), só duas pessoas o visitou¿, afirmou Fraga, referindo-se a si próprio e ao seu colega da segurança pública, secretário Valmir Lemos. Segundo Fraga, Arruda está abatido e passa o dia lendo e escrevendo. ¿Ele está conformado, mas preparado para enfrentar a situação¿, ressaltou.

A possibilidade de o STF não aceitar o habeas corpus não muda a situação política do governador afastado, segundo Fraga. Arruda não pretende deixar o cargo pelo caminho da renúncia, como fez Paulo Octávio. ¿Já renunciei uma vez, sei o que é isso. Vou enfrentar tudo¿, disse Arruda, segundo versão de Fraga, que chegou às 15h à superintendência da Polícia Federal, onde permaneceu por 50 minutos. Até então, o secretário não sabia que Paulo Octávio renunciaria ao cargo.

Segundo o advogado Nélio Machado, o governador afastado reagiu com surpresa à renúncia de Paulo Octávio, mas não se alongou no assunto. Indagou apenas se era verdade a informação. O advogado informou que não pode conversar reservadamente com seu cliente, já que na porta da sala onde Arruda está ficam dois agentes federais. Além disso, ele diz que não trata de temas políticos ¿ o outro advogado, José Eduardo Alckmin é quem defende Arruda nesta área.

Durante a visita de Fraga, o governador afastado quis saber como estava sua situação na Câmara Legislativa. O secretário lhe informou que o relator do processo de impeachment(1) seria da oposição, o deputado Chico Leite (PT). ¿Ainda dizem que eu estou atrapalhando a Câmara¿, disse Arruda, segundo o secretário.

Segundo o arcebispo dom João Braz de Aviz, o governador afastado quer se defender das acusações de corrupção política e da suposta tentativa de subornar o jornalista Edson Sombra para atrapalhar o curso normal das investigações da Polícia Federal, motivo pelo qual foi preso. Dom João Braz de Aviz chegou à superintendência da PF por volta de 9h30 e ficou cerca de meia hora. ¿Mesmo que sua versão não seja aceita pelas autoridades, o que ele mais quer neste momento é ser ouvido¿, contou o religioso ao Correio, por telefone.

A visita de dom João Braz de Aviz foi uma das poucas exceções abertas pela direção da Polícia Federal. Segundo o arcebispo, Arruda também reclama da saudade dos filhos pequenos e do isolamento de todos, até mesmo dos amigos. O religioso contou que Arruda está mais magro e chorou durante a conversa. ¿Ele se mostrou muito sensível, uma vez que a política vive uma situação muito delicada. É um momento muito difícil para ele, que acabou se tornando um elemento de uma cultura política corrupta. É preciso refazer os caminhos da política para que o ocorrido sirva de exemplo para todos¿, destacou.

Em relação à aceitação do governador afastado da prisão que já dura 13 dias, o arcebispo diz que Arruda não tem se queixado. ¿O local onde ele está é simples, mas razoável. Arruda está aceitando a situação e não tem reagido de modo anormal a prisão. É claro que todo mundo que está preso quer ficar livre logo, mas não vi nele um homem revoltado¿, assegurou.

1 - Trâmite Três processos de impeachment contra o governador José Roberto Arruda já foram aceitos pela Câmara Legislativa. Até o fim da semana, o relator dos processos, deputado Chico Leite (PT), deve apresentar seu parecer. Ele sempre se posicionou a favor da saída de Arruda do comando do Executivo local.

Já renunciei uma vez, sei o que é isso. Vou enfrentar tudo¿

Governador afastado José Roberto Arruda, durante conversa com o secretário de Transportes, Alberto Fraga

Mesmo que sua versão não seja aceita pelas autoridades, o que ele (Arruda) mais quer neste momento é ser ouvido¿

Dom João Braz de Aviz, arcebispo de Brasília, que ontem esteve na superintendência da PF para visitar Arruda

O número 10 m2 Tamanho da sala onde Arruda está preso na Polícia Federal desde a última sexta-feira

Protesto tímido

Pouco depois da visita de dom João Braz de Aviz, um grupo de quatro manifestantes que trabalhavam como ambulantes na Rodoviária do Plano Piloto foi para a frente da Superintendência da PF para criticar o governador afastado José Roberto Arruda. O deficiente físico Antônio Mendonça, 54 anos, José Borges da Rocha, 52, Irinéia Eulália Gomes, 57, e Angela Lopes, 52, reclamaram que tiveram suas barracas de doces e salgados retirados em 26 de setembro de 2008, segundo eles, sem nenhum aviso prévio. ¿Fomos para casa dormir e, no dia seguinte, quando chegamos para trabalhar, nossas bancas não estavam mais lá. Tinha gente que trabalhava lá há 30 anos e agora não tem mais de onde tirar o sustento de casa¿, disse Irinéia, mostrando as fotos do tempo em que era vendedora na Rodoviária.

A primeira-dama, Flávia Arruda, como faz todos os dias, levou o almoço do marido na PF ontem. O governador afastado está preso desde o dia 11 na Polícia Federal. Na última sexta-feira, ele foi transferido de uma sala de 40 metros quadrados para uma de 10 metros quadrados, com beliche, mesa, cadeira, ar-condicionado e frigobar, no Comando de Operações Táticas (COT) da Polícia Federal, no Setor Policial Sul. (MP)

Roriz fala sobre crise política

Helena Mader

O ex-governador Joaquim Roriz lançou ontem as bases de seu projeto político para 2010. Foi ao ar, nas redes abertas de televisão e rádio, seu primeiro pronunciamento público depois do início da crise. Principal nome do Partido Social Cristão (PSC) no Distrito Federal, Roriz foi a grande estrela do programa político do partido. Sem mencionar nenhum nome em seus discursos, ele chamou a situação política da cidade de ¿escandalosa¿ e vergonhosa¿, conforme antecipou o Correio em sua edição de ontem. A expectativa no meio político é que Roriz concorra ao governo do DF nas eleições de outubro.

Os assessores optaram por um pronunciamento mais informal, em que o ex-governador fala sem olhar para as câmeras. Ele diz que vê a crise com muita apreensão. ¿É realmente um quadro altamente preocupante. Mas vejo por outro lado que a crise não é em Brasília, não é com os brasilienses, a crise é com o GDF. Não vamos misturar uma coisa com a outra¿, afirmou. ¿A responsabilidade cabe única e exclusivamente àqueles que estavam governando. Porque Brasília é muito maior do que uma crise passageira¿, garantiu Roriz, em seu discurso televisivo.

O programa ainda vai ao ar amanhã e no próximo sábado. Ao todo, serão 30 inserções de 30 segundos cada. Além das transmissões locais, Roriz também gravou um rápido pronunciamento para a transmissão nacional da legenda. Vai falar de suas realizações na área de meio ambiente, quando era governador. Ele vai citar a despoluição do Lago Paranoá e a criação da primeira Secretaria de Meio Ambiente do Brasil.