Título: Alta inadimplência no mercado de defensivos
Autor: Lopes , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2008, Agronegócios, p. B13

Com as vendas no mercado brasileiro desaceleradas há pelo menos dois meses, as indústrias de defensivos que atuam no país têm na elevada inadimplência de seus clientes um obstáculo a mais para tentar preservar algum otimismo em relação ao desempenho do segmento em 2009. Rafael Jacinto/Valor

Segundo Da Ros, vendas para o ciclo 2009/10 dependerão da comercialização da safra que está sendo plantada agora

Em grande parte graças à performance dos três primeiros meses do ano, o insumo deverá gerar faturamento líquido consolidado de US$ 6,8 bilhões em 2008, quase 26% mais que no ano passado. Com a valorização do dólar, o faturamento líquido em moeda brasileira deverá aumentar menos, 13,3% na mesma comparação, e alcançar R$ 11,9 bilhões.

Apesar desse incremento anual expressivo, as barbas estão de molho porque de janeiro a outubro as vendas já haviam rendido R$ 10,2 bilhões, 31% mais que nos dez primeiros meses de 2007 - o que corrobora a recente freada da receita acusada pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag).

Segundo José Roberto Da Ros, vice-presidente da entidade, esta desaceleração na reta final de 2008 tem relação com as retrações das produções de milho e de algodão na safra de verão que está sendo plantada. O recuo dessas lavouras já foi previsto por Conab e IBGE, que prevêem para este ciclo 2008/09 no Brasil queda de 2,5% na produção total de grãos, para 140,3 milhões de toneladas.

Afora isso, o estrangulamento do crédito para custear o plantio, principalmente em Mato Grosso e Goiás, por causa do recrudescimento da crise financeira global, não ajudou as vendas nesses dois importantes pólos agrícolas nacionais, e não há mais tempo hábil para redesenhar esse quadro. "A safra 2008/09 já foi. Teremos, no máximo, algum repique nos meses de janeiro e fevereiro, mas o grosso das vendas já foi realizado", diz Da Ros.

Diante dessa conjuntura, as empresas do segmento têm poucas esperanças de receber pagamentos em atraso, que seguem gordos. O Sindag estima em US$ 845,7 milhões as dívidas vencidas e não pagas referentes às safras 2005/06 e 2006/07.

A entidade não acredita que o valor, que em 2005 esteve entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões, subirá com eventuais novas dívidas referentes a vendas das safras 2007/08 e 2008/09, mas também não tem indícios de redução. Em 2007 o índice de inadimplência foi de 9,9%.

Conforme Da Ros, o problema está concentrado justamente em Mato Grosso e Goiás. Nesses Estados, berços de grandes agricultores rurais, o crédito rural oficial representa apenas uma pequena parte do financiamento dos produtores, que dependem em grande medidas de tradings e agroindústrias - como as de defensivos - para obter recursos.

Com as vendas de verão de 2008/09 definidas, o segmento volta as atenções para a safrinha de meados do ano que vem e para o próximo ciclo, que começará a demandar volumes mais representativos de defensivos ainda no primeiro semestre de 2009. Desde que exista crédito.

"Em grande medida, as vendas para a safra 2009/10 dependerão da comercialização da produção de 2008/09. Haverá crédito para esta comercialização, inclusive para financiar as exportações?", indaga Da Ros. No caso da safrinha, são os elevados estoques domésticos de milho que preocupam.

Apesar de não ter concluído o balanço de 2008, o Sindag não acredita em grandes mudanças de perfil em relação aos resultados registrados entre os meses de janeiro e outubro. No intervalo, os herbicidas representaram 35% das vendas totais, seguidos pelos inseticidas (31%), fungicidas (26%) e acaricidas (21%).

Não há dados deste ano disponíveis para a divisão de vendas por culturas, mas Da Ros acredita que o mercado segue o padrão de 2007, quando a soja respondeu por 42,6% do total, seguida por cana (12,4%) e milho (11%). Mato Grosso e Paraná lideraram o ranking de vendas por Estado, com fatias de 16,9% e 15% no volume total, respectivamente.

Outro movimento que perdura é a venda de defensivos genéricos, que em 2007 responderam por 54,6% do faturamento do segmento e por impressionantes 83% do volume vendido. Da Ros observa que a participação é grande não só por causa dos preços em média mais atraentes, mas porque por trás desses produtos também estão muitas das grandes companhias que vendem "especialidades" - os não genéricos.