Título: EUA não viram interesse do Mercosul em negociar um acordo, diz Schwab
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2009, Brasil, p. A2

O governo de George W. Bush nunca percebeu interesse do Mercosul em negociar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos, segundo a representante comercial americana, Susan Schwab. Ela foi ontem a Genebra se despedir da cena comercial, já que vai deixar o cargo de principal negociadora americana no dia 20, com a posse do novo presidente, Barack Obama, e voltará para a Universidade de Maryland. Sergio Zacchi / Valor

Susan Schwab, representante comercial dos Estados Unidos: "EUA e Brasil sempre focaram mais na Rodada Doha"

Negociadores do Mercosul de tempos em tempos acenam com a intenção de testar uma negociação com os EUA, mas reconhecem que isso ficou ainda mais difícil com a entrada da Venezuela no bloco. Mas Schwab disse ao Valor que em Washington nunca houve "o sentimento de que o Mercosul estava interessado em fazer um acordo de livre comércio com os EUA".

"Na verdade, isso não foi rejeitado (pelos EUA), simplesmente porque nunca foi ativamente discutido", acrescentou a assessora comercial do presidente George W. Bush. "Os EUA e o Brasil sempre focaram mais na Rodada Doha e acho que tivemos uma boa colaboração."

A representante americana considera em todo caso que "diferentes posições de política comercial dentro do próprio Mercosul tornam complicadas as negociações bilaterais" - sem mencionar explicitamente a resistência de Hugo Chávez ou divergências entre o Brasil e a Argentina.

Susan Schwab assumiu o posto de principal negociador comercial dos EUA em 2006. Em sua despedida em Genebra, ela fez um balanço altamente positivo do governo Bush na área comercial, incluindo a negociação de 16 acordos bilaterais com parceiros "que estavam entre os mais ambiciosos por liberalização na Rodada Doha".

Ela não se desviou dos ataques aos principais países emergentes, culpados ao seu ver pela "falta de ambição" para negociar um acordo na Rodada Doha.

"Há uma enorme diferença entre a contribuição (de abertura de mercado) que devemos esperar do Brasil, China ou Índia e o que devemos esperar do Quênia, por exemplo", alegou.

Schwab rejeitou proposta de alguns economistas, para que a Rodada Doha seja suspensa formalmente por um ano. Para ela, é necessário deixar os negociadores trabalharem calmamente, preparando o terreno para uma retomada da negociação global mais tarde.