Título: Desaceleração econômica conterá credito
Autor: Carvalho , Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 10/12/2008, Finanças, p. C10

O Itaú Unibanco Banco Múltiplo, mais novo gigante do mercado brasileiro, formado há um mês com a fusão do Itaú com o Unibanco, projeta um crescimento de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009 e de 15% para a carteira de crédito. Os números são bem inferiores ao desempenho esperado para este ano e às projeções com as quais o presidente executivo do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, trabalhava há uma semana. Sergio Zacchi / Valor

Roberto Setubal, presidente executivo do Itaú Unibanco: "Os bancos gostariam de emprestar mais"

No início do mês, Setubal achava razoável a previsão de expansão de 2,8% do PIB no próximo ano, feita por Edmar Bacha, consultor do Itaú BBA, o que o levou a estimar o crescimento do crédito entre 15% e 20% em 2009. Neste ano, o crédito deve crescer 30%

"Os bancos gostariam de emprestar mais, mas a demanda está diminuindo", afirmou Setubal em entrevista após apresentação para a Associação dos analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec).

Nem o Itaú nem o Unibanco estão aplicando algum tipo de restrição ao crédito mas registraram a diminuição no interesse dos clientes. "A demanda por crédito exige confiança no futuro. Mas as incertezas atuais reduzem essa confiança e levam as pessoas e as empresas a evitarem as dívidas", disse Setubal. "As notícias de demissões também afetam o nível de confiança", acrescentou o presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco Banco Múltiplo, Pedro Moreira Salles.

Segundo Setubal, o recuo das taxas no mercado futuro de juro está tendo impacto positivo no juro do crédito. As taxas do mercado futuro de "swap" de 360 dias chegaram a superar os 16% ao ano no final de outubro e agora estão pouco acima de 13%.

Mas, lembrou que há limites. Um deles é a taxa básica de juro (Selic) que está em 13,75% e será reavaliada hoje em reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). "Em algum momento o Banco Central vai baixar o juro. Provavelmente não será agora mas na próxima reunião", disse Setubal. E um dos motivos é que a situação econômica permite descartar a existência de uma inflação de demanda. Outro limite é a expectativa de aumento da inadimplência.

Além disso, lembrou a elevação das taxas de captação dos bancos de cerca de 100% do CDI no início do ano para 106% a 107% atualmente.

Neste ano até setembro, as operações de crédito consolidadas do Itaú e Unibanco cresceram 40,5% em doze meses. No ano fechado, a evolução deve ser de 30%. A carteira consolidada do novo banco atingiu R$ 256 bilhões. O crescimento médio foi de 29,1% nos últimos seis anos.

A carteira está dividida em partes relativamente iguais entre pessoa física e jurídica. Os segmentos mais representativos são o crédito para grandes empresas, com 35%; o financiamento de veículos, com 20%; e o crédito para pequenas e médias empresas, com 18%; o crédito pessoal, com 15%; cartões, com 7%; e as operações na Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai, com 5%.

Apesar de Setubal prever o aumento da inadimplência pela piora do cenário econômico, esse indicador vem caindo nos últimos anos no banco. A inadimplência entre pessoas físicas recuou de 8,8% em setembro de 2006 para 6,8% em setembro passado. Entre pessoas jurídicas caiu de 2,2% para 1,3% no mesmo período.