Título: PT confia na absolvição e quer Palocci can didato ao governo de SP
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2009, Política, p. A8

Na volta do recesso do Judiciário, o Supremo Tribunal Federal (STF) decide se aceita ou não o pedido do Ministério Público Federal de abertura de processo contra o ex-ministro Antonio Palocci, acusado do crime de quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. O PT e grande parte do governo apostam na liberação de Palocci. Primeiro por entender que juridicamente sua situação é diferenciada em relação aos demais acusados. Mas também porque precisa do ex-ministro para o jogo político-eleitoral de 2010. Ruy Baron/Valor - 28/10/2008

Palocci: bem relacionado nos meios empresarial e financeiro, ex-ministro é o candidato que petistas consideram ideal para a disputa ao governo do Estado

Com Palocci desvencilhado das acusações, o PT terá um nome de peso em São Paulo seja para as eleições ao governo do Estado, seja para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, o ex-ministro da Fazenda é o candidato que petistas consideram ideal para a disputa ao governo do Estado. Palocci é bem relacionado nos meios empresarial e financeiro, alguém, enfim, em condições de montar um palanque altamente competitivo para o PT em São Paulo.

Com esse perfil, Palocci evidentemente também seria uma opção para a Presidência da República, na hipótese de a candidatura da ministra Dilma Rousseff não decolar nas pesquisas. Mas os petistas dizem que, por enquanto, o que dirigentes partidários pensam mesmo é no governo de São Paulo. Pode ser, mas o plano de vôo que petistas traçam, para depois de uma eventual absolvição de Palocci, é indicação de planos ambiciosos.

O primeiro passo seria a volta do ex-ministro ao governo, de onde saiu em março de 2006, três semanas depois de o caseiro Francenildo Costa conceder uma entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", na qual afirmou que o ex-ministro freqüentava uma casa onde se realizariam festas e negócios suspeitos, em Brasília. Palocci não voltaria para a Fazenda, onde executou uma política econômica festejada (exceto pela esquerda do PT). Uma hipótese é o Ministério da Saúde, onde ganharia uma "face social" - a exemplo de José Serra, o provável candidato do PSDB à Presidência. Não custa lembrar que Palocci é médico.

Em resumo, o único problema de Palocci seria a denúncia do Ministério Público Federal ao STF. Politicamente, supõe-se no PT que as denúncias contra a gestão de Palocci em Ribeirão Preto podem passar como questiúnculas da província, sem afetar uma eventual campanha do ex-ministro. A questão a ser resolvida, portanto, é a da quebra do sigilo.

O processo, cujo relator é o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo, corre em segredo de Justiça. Mas, segundo apurou o Valor, o PT avalia que são grandes as chances de Palocci ser isentado. O argumento é que a situação do ex-ministro difere substancialmente em relação aos demais implicados no caso.

O que estaria em discussão, segundo essa avaliação, é se Palocci deu ou não a ordem para quebrar o sigilo de Francenildo. A leitura de todas as páginas da denúncia diria que não. Para incriminar Palocci haveria apenas o argumento de que ele era o beneficiário da quebra do sigilo. Mas se era o beneficiário, "não há nada que diga que teve atividade diretamente ligada à quebra do sigilo", segundo petistas.

"O ex-ministro é inocente e assim pretende se ver declarado pelo Supremo", diz Guilherme Batochio, advogado de Palocci. "Está comprovado que ele não teve qualquer participação no episódio". Segundo Batochio, "há várias incongruências, sobre as quais não posso falar porque o processo está em segredo, mas que vão ser exploradas devidamente quando do julgamento".

No PT avalia-se que são muito boas as chances de Palocci em São Paulo, até porque o PSDB não disporia de um candidato que se possa dizer amplamente favorito à sucessão de José Serra. E não há entre os petistas um nome de peso como Palocci. Nem mesmo Marta Suplicy, desgastada não só por ter perdido a eleição para prefeito de São Paulo, mas também pelo fato de ter chegado atrás de Gilberto Kassab (DEM) já no primeiro turno.

Depois de Palocci, os nomes discutidos no PT vão do ministro da Educação, Fernando Haddad, ao do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia. Entre um e outro sobram nomes: Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo, Emídio Souza, prefeito de Osasco, e Elói Pietá, ex-prefeito de Guarulhos

A perspectiva de Marinho, no entanto, é ficar oito anos na prefeitura de São Bernardo do Campo, que o PT há 20 anos tentava retomar. Elói joga com a possibilidade de se candidatar ao governo para se credenciar a uma vaga para o Senado. Emídio está em seu segundo mandato de prefeito em Osasco e tem pretensões maiores. Mas a aposta feita hoje é em Palocci - "se não for ele, a bússola do PT vira biruta de aeroporto", diz um petista histórico, conhecedor dos humores de seus colegas de partido em São Paulo. Palocci, embora diga que vai ser absolvido, prefere não falar do futuro.