Título: Obama diz que crise força revisão de promessas
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Fonte: Valor Econômico, 12/01/2009, Internacional, p. A9

A pouco mais de uma semana de sua posse, o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, advertiu ontem aos eleitores que engavetem algumas de suas esperanças.

"Eu quero ser realista aqui: nem tudo o que falamos durante a campanha conseguiremos fazer no ritmo que esperávamos", disse Obama em entrevista à rede de TV americana ABC, que foi ao ar na manhã de domingo.

"Sejam pelas vendas do varejo, seja pela produção industrial, todos os indicadores mostram que estamos na pior recessão desde a Grande Depressão", disse Obama, no programa "This Week". Para tirar o país da recessão, "todos terão de ter algum papel nesse jogo". E prosseguiu dizendo que todos sentirão os efeitos dos esforços para a retomada da economia.

Bill Clinton, o último presidente do Partido Democrata, assumiu o governo também em meio a uma grave crise econômica, com uma perspectiva de um aumento do déficit orçamentário. No período de transição, Clinton reduziu seus planos de gastos públicos e abandonou uma promessa de campanha de cortar impostos pagos pela classe média.

Na entrevista, Obama também fez críticas ao governo Bush dizendo que o pacote de US$ 700 bilhões aprovado recentemente para socorrer o sistema financeiro não tem sido bem fiscalizado. Metade do recurso já foi alocada. Obama se disse "desapontado" com a falta de controle sobre os recursos. E prometeu: "Vamos delinear de maneira muito específica algumas das coisas que vamos fazer com os US$ 350 bilhões restantes".

O Departamento do Tesouro tem sido criticado por não informar com suficiente clareza aos contribuintes e ao Congresso o destino exato dessa injeção de capital nos bancos do país.

Obama assume a Presidência no dia 20 de janeiro e está pressionando o Congresso pela aprovação rápida de um pacote de estímulo econômico de US$ 775 bilhões, que inclui novos gastos do governo e cortes de impostos. Na semana passada, Obama falou todos os dias sobre economia e chamou a atenção para os riscos de uma recessão mais prolongada e mais aguda caso o governo não aja.

No sábado, Obama apresentou um relatório preparado por seus conselheiros econômicos, que prevê que o plano - se aprovado - gerará até 4 milhões de empregos, mais do que o estimado antes.

Outro ponto a respeito do qual muitos de seus eleitores e assessores terão de reduzir as expectativas é em relação a Guantânamo. Obama admitiu que sua promessa de fechar a prisão será mais difícil do que parecia. Muitos dos presos ali são suspeitos de ligação com terrorismo ou potenciais testemunhas de casos contra terroristas.

"É mais difícil do que, creio eu, muita gente imagina", disse, acrescentando que a meta continua sendo acabar com a prisão, onde estão suspeitos de ligação com atividades terroristas, segundo Washington. Obama disse que ainda que algumas das evidências contra os detidos tenham sido obtidas de modo inapropriado - ele não falou, mas se referia à tortura - o fato é que ali estão "pessoas que querem nos explodir", disse.