Título: Governo trabalha com a possibilidade de o PMDB presidir Câmara e Senado
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2009, Política, p. A6

O Palácio do Planalto já trabalha com a hipótese de o PMDB presidir o Senado e a Câmara, muito embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não considere essa a solução "ideal" para a disputa pelo comando das duas Casas do Congresso. Lula pretende se reunir semana que vem com o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) para discutir a sucessão no Senado. Um encontro que senadores pemedebistas têm procurado adiar, por receio de que Lula apele a Sarney para que abra mão de sua eventual candidatura em favor do senador Tião Viana (PT-AC). Estava prevista para ontem à noite uma reunião do presidente com dirigentes do PMDB. Ruy Baron/Valor - 27/8/2007

Sarney: ex-presidente evita dizer que é candidato ao comando do Senado, ao mesmo tempo em que tenta fechar a maioria necessária para ser eleito

A eleição será no início de fevereiro, mas a aproximação da data em vez de simplificar tem tornado mais complexas as negociações. Setores mais ligados a Sarney avaliam que a eleição de Tião Viana para o Senado, e de Michel Temer (PMDB-SP) para a Câmara ajudaria os paulistas - leia-se a candidatura José Serra a presidente - em detrimento dos nordestinos. Na semana passada, Sarney conversou com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), sobre esse e outros assuntos. Tasso estava inclinado a votar em Tião Viana, mas deve mudar se o ex-presidente for efetivamente candidato.

Sarney evita dizer que é candidato ao posto, enquanto tenta fechar a maioria necessária para ser eleito. O curioso é que se desistir, Sarney pode apoiar o PT, em nome do bom entendimento com o PMDB. A dificuldade é que pelo menos 18 dos 20 senadores pemedebistas são contrários a um acordo com o PT, pois acreditam que travarão uma disputa renhida com os petistas nas eleições para os governos estaduais, Senado e Assembléias Legislativas, em 2010.

Lula pretendia conversar ainda ontem com Sarney. No domingo, o chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, ligou para o senador e o convidou para o encontro com o presidente. Sarney alegou que estava gripado. A conversa foi adiada.

O presidente da República está atento à disputa no Congresso. Não quer ser surpreendido como aconteceu em 2005, quando o ex-deputado Severino Cavalcanti foi eleito para a presidência da Câmara. Naquele ano, o governo Lula atravessou a sua maior crise política e chegou a responder, simultaneamente, a três CPIs no Congresso. Por isso, ontem, a eleição para as Mesas da Câmara e do Senado tomou boa parte da reunião da coordenação política de governo, a primeira depois da volta de Lula das férias.

Depois da reunião, o ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro, ainda teve uma conversa reservada com Lula. O Planalto torce para que Sarney desista, o que tornaria a vida do governo mais simples de ser equacionada. Como essa hipótese é considerada a menos provável, Lula e Múcio devem arregaçar as mangas e ampliar as conversas em busca de uma solução que contente aos dois lados. "O Congresso terá que se acostumar com a possibilidade de o mesmo partido comandar as duas Casas. Não é o ideal e não é comum, mas já aconteceu", afirmou Múcio.

Segundo o ministro, Lula pretende ter uma intensa participação nas articulações com vistas à eleição, nos próximos 15 dias. "Não se trata de interferência em um assunto que é do Congresso. Lá estão 14 partidos que fazem parte da coalizão de governo. Queremos conversar para garantir a governabilidade. Para nós, o ideal é Tião Viana no Senado e Michel Temer na Câmara. Mas respeitamos a decisão dos senadores", disse Múcio.

Na Câmara, por enquanto, a movimentação dos candidatos é de demarcação de território. As conversas e articulações começam mesmo quando a situação do Senado se definir. Se o PMDB fizer o presidente do Senado, mesmo sendo Sarney, novas variáveis políticas, regionais, pessoais, entrarão em ação na Câmara. E aí o segundo turno passa a ser uma hipótese forte, segundo a avaliação dos partidos.

No fim da tarde de ontem, Tião Viana esteve com o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), que é candidato à reeleição, apesar de haver dúvida jurídica sobre sua candidatura. Viana, por seu turno, reiterou que sua candidatura é irreversível. "Não estou em busca de emprego", disse, numa referência às especulações de que poderá ser nomeado para um ministério como premio de consolação.

Lula também quer conversar com o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP). A preocupação do presidente é com a reação dos petistas caso Tião Viana seja alijado do processo. Em seu blog na internet, o ex-ministro José Dirceu defendeu anteontem que os petistas traiam o acordo firmado com o PMDB para eleger Michel Temer na Câmara, se isso vier a ocorrer - uma discussão que até então estava restrita aos bastidores.

Enquanto isso, o PMDB procura recompor internamente a bancada do Senado. Renan Calheiros (PMDB-AL) deve voltar ao cargo de líder da bancada (já dispõe das assinaturas de 14 dos seus 20 integrantes); o líder atual, Valdir Raupp (RR), deve ocupar a vaga da senadora Roseana Sarney (MA), que se licenciará por motivos de saúde. Esse é o pacote "Sarney presidente", que falta ser acertado com Lula. Garibaldi junta munição jurídica para tentar sustentar sua candidatura.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, declarou que Sarney é próximo do partido, mas disse que a bancada não tem vetos ao nome de Tião Viana.