Título: Exportação menor de gás reduz receita da Bolívia e afeta Petrobras
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2009, Internacional, p. A9

A Petrobras Bolívia (PEB) será uma das empresas mais afetadas na Bolívia pela redução das importações de gás decidida pela sua controladora no Brasil, mesmo após a decisão do governo brasileiro de reduzir o corte, que antes era de 11 para 6 milhões de metros cúbicos por dia. Pelos cálculos da consultoria Gás Energy, a perda de arrecadação da Bolívia será de US$ 120 milhões mensais nos três primeiros meses de 2009, comparados ao último trimestre do ano passado. O cálculo já considera exportações de 24 milhões de m3 ao preço médio de US$ 5,60 por milhão de BTU, ante a média de US$ 7,98 no trimestre anterior. Assim, a receita que era de US$ 276 milhões/mês no fim do ano passado cairá para US$ 156 milhões.

Metade da perda é do governo, que terá redução da receita obtida com o Imposto Direto de Hidrocarburos (IDH) da ordem de 50%, o que significa uma perda de US$ 60 milhões mensais. A outra metade será dividida entre a Petrobras, Andina (da qual a Repsol tem 49%), e a estatal boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB).

A Petrobras e suas sócias nos campos de San Alberto e San Antonio respondem por 74% da produção de gás destinado ao Brasil, segundo o acordo de suprimento firmado entre os dois países. Por isso, a brasileira sofrerá com a redução de mercado. A Petrobras Bolívia tem o equivalente a 25% do contrato de suprimento com o Brasil, sendo que a Repsol e a YPFB têm outros 25% cada uma. O restante está dividido entre empresas menores.

Como grande parte da receita se destina ao pagamento de custos de produção de gás, a perda líquida será maior da estatal boliviana, que se soma às perdas do país. Fontes da Petrobras reconhecem ao Valor que a queda nas vendas trará perdas, mas dizem que a PEB não terá prejuízo e sim "queda de receita", sendo que os efeitos disso sobre o resultado da controladora serão "irrelevantes" devido ao tamanho da operação na Bolívia.

Marco Tavares, diretor da Gás Energy, que estava em Santa Cruz de La Sierra na sexta-feira, disse que os bolivianos estavam "desesperados achando que o Brasil decidiu cortar o gás sem entender a conjuntura, tendo tomado uma decisão política".

Na avaliação do executivo, essa era a razão principal para a decisão do governo brasileiro de voltar atrás e não implementar um corte maior. "O perigo era o Evo Morales chegar no dia 26, data do plebiscito para implementação da nova constituição, em meio a uma crise de abastecimento ", afirma Tavares.

O presidente da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos, José Magela Bernardes, concorda e explica que a queda de produção de gás se reflete na produção de derivados como o diesel e o GLP.

"Para a Bolívia, a medida [a redução das compras pelo Brasil] é um verdadeiro desastre , uma vez que trará perda das exportação e ela também será forçada a importar mais produtos refinados, em especial o diesel, já que a produção de líquidos para refino local está fortemente ligada à produção de gás", disse o executivo ao Valor.

Magela não vê opção viável para colocação do gás que vai sobrar - mesmo após o governo boliviano ter conseguido que o volume do corte fosse menor na reunião de sexta passada - e acha que a alternativa será a redução da produção.

Além de tentar elevar as vendas para a Argentina - que historicamente consome menos gás no verão e mais no inverno em função do uso do gás para calefação - a Bolívia indicou que pode voltar a fornecer 2,2 milhões de metros cúbicos de gás/dia para a térmica de Cuiabá, no Mato Grosso.

O suprimento não faz parte do acordo binacional e foi suspenso quando a Bolívia enfrentou dificuldade para fornecer o total previsto no contrato com o Brasil. A paralisação da TermoCuiabá respingou em Furnas Centrais Elétricas, compradora dessa energia e que teve que recorrer ao mercado "spot" para comprar a energia necessária para honrar seus contratos.

A opção de exportar para a Argentina, que pode repassar uma parte do gás boliviano para o Chile, também não parece ser viável nesse momento, dadas as condições previstas pelo governo argentino para exportação de gás, que torna o gás boliviano muito caro. O Chile tem outras alternativas como usar diesel e GNL importado pelo Pacífico, já que os preços de referência do gás estão muito baixos.