Título: Crise e preços reduzem em 20% o consumo industrial de gás natural
Autor: Goulart , Josette
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2009, Empresas, p. B1

A indústria brasileira reduziu em pelo menos 20% o consumo diário de gás natural em dezembro do ano passado, comparado com o mesmo mês do ano anterior. Em volume, isso significa uma queda de cinco milhões de metros cúbicos por dia, segundo dados prévios da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás). A demanda de Gás Natural Veicular, que abastece o segmento automotivo, também registrou forte queda, em torno de 15%.

A forte queda do consumo na indústria e dos taxistas acontece no mesmo momento em que não há mais necessidade de se manter as usinas termelétricas movidas a gás ligadas e que motivou o governo a reduzir o volume de gás natural que vem da Bolívia. Isso significa que o consumo brasileiro de gás caiu em pelo menos 13 milhões de metros cúbicos ao dia. Só a Comgás, que atende o Estado de São Paulo, diminuiu o fornecimento do insumo às indústrias para 8 milhões de m³/dia no mês passado. Eram quase 10 milhões de m³/dia em dezembro de 2007. Além de São Paulo, houve quedas bruscas Sergipe (onde é usado como matéria-prima para a fabricação de fertilizantes) e na Bahia, onde a utilização pela indústria caiu mais de 40%. Na CEG e CEG-Rio, o consumo industrial diminuiu 20% em relação a dezembro de 2007.

São dois os motivos que levaram a indústria a consumir menos. O primeiro foi a adoção de medidas de contenção de custos pelas empresas, com antecipação de férias coletivas ou postergação de entrada de novas unidades em operação, além da própria redução da produção em função da crise financeira. Mas os preços do gás natural também influenciaram a conta feita pelos industriais, já que a queda das cotações dos preços do petróleo no mercado internacional ainda não foi positivamente refletida na conta do consumidor.

Pelo contrário, em São Paulo a agência reguladora autorizou em dezembro um reajuste extraordinário de até 20% nas tarifas. Isso aconteceu porque as distribuidoras paulistas alegaram que estavam em desequilíbrio de caixa em função da alta do dólar e com a metodologia de repasse dos preços do petróleo pela Petrobras, que leva em conta uma média móvel trimestral de uma cesta de óleos. No caso do Rio de Janeiro, os preços subiram antes, em novembro, porque as regras fluminenses de repasse de custos são trimestrais, enquanto em São Paulo os reajustes são anuais, com possibilidade de revisão extraordinária.

O caso do Rio exemplifica bem o descasamento entre os preços do petróleo no mercado internacional e o do gás natural no Brasil. Em novembro, a indústria teve que arcar com um aumento de 6% nos preços apesar da cotação do petróleo ter registrado US$ 57 ante a média de US$ 100 do terceiro trimestre, como lembra a analista da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Tatiana Lauria. As fortes quedas do petróleo no último trimestre do ano só serão sentidas a partir de fevereiro, em que já está prevista uma queda de 8% no preço do gás. "Por este motivo vamos continuar insistindo com a Petrobras que altere a fórmula de cálculo do preço do gás", diz Lauria.

Em São Paulo e no sul do país, o principal impacto é sentido em função do dólar já que o gás fornecido pela Petrobras vem da Bolívia. O diretor de regulação do gás da agência reguladora de São Paulo (Arsesp), Zevi Kann, diz que como as concessionárias precisam pagar o insumo à Petrobras com o dólar do dia do pagamento, a conta acaba ficando mais cara. No caso do gás nacional, é feita uma média trimestral da cotação do dólar e as contas são fixadas em reais. "Mesmo assim, o reajuste de dezembro só será sentido pelo consumidor agora em janeiro", diz Kann alegando que pelo menos a indústria paulista não tomou a decisão de reduzir o consumo com base em preços.

No Paraná, o último reajuste foi feito em agosto. O presidente da Companhia Paranaense de Gás (Compagas), Luiz Carlos Meinert, disse que a a alta foi de 8%, quando entrou no regime de substituição tributária. Em outubro, a companhia decidiu retirar o desconto de 4,5% que concedia aos clientes que pagavam a conta em dia. "Absorvemos grande parte dos aumentos de preço", comentou. Meinert contou que o impacto da valorização do dólar sobre a fatura do gás comprado pela Compagas de setembro a dezembro foi grande. "Agora estamos em situação esdrúxula, porque o custo sofreu redução em dólar, mas só vou saber o valor da fatura do mês de janeiro em 5 de março", explicou, sobre o prazo que tem para fazer o pagamento.

O consumo no Paraná, segundo o presidente da Compagas, não registra reduções significativas. "Existem dois ou três clientes com problemas por causa da crise", disse Meinert. No país, os setores mais afetados são os químicos e siderúrgico. Já a indústria de vidro garante que não tem como reduzir o consumo. O superintendente da Associação Brasileira do Vidro (Abividro), Lucien Belmonte, diz que a indústria precisa manter os fornos ligados e por isso não houve redução.