Título: Ritmo de importação surpreende especialistas
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2009, Brasil, p. A4

Importações de produtos importantes no comércio exterior brasileiro mantêm um ritmo expressivo de alta nos primeiros dez dias do ano, segundo divulgou ontem o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Embora o período e o volume de operações sejam ainda muito pequenos para indicar tendências, chamaram a atenção de especialistas, que andam em busca de indícios sobre uma das maiores incógnitas econômicas do país este ano: o comportamento das importações, que vinham crescendo aceleradamente, mas enfrentarão, em 2009, quedas de preços e na demanda interna por mercadorias.

Nas duas primeiras semanas de janeiro, com seis dias úteis, as importações superaram as exportações em US$ 12 milhões, um pequeno déficit atribuído pelo governo à compra de uma aeronave, no valor de US$ 150 milhões. Sem essa operação, a balança comercial teria registrado um superávit de US$ 138 milhões, nota a Secretaria de Comércio Exterior. Devido à compra, as importações de "aeronaves e peças" pularam de US$ 9 milhões diários em janeiro de 2008 para US$ 37,5 milhões diários nos primeiros dez dias do ano. Um aumento de 315%. Outros itens importantes também tiveram aumento expressivo.

A importação de produtos siderúrgicos aumentou em quase 25% quando comparadas as médias diárias do início do ano (US$ 23 milhões) com as de janeiro de 2008. As compras de leite também aumentaram 115% e as de bebidas e álcool, 55%, mas, nesses itens, é muito pequena, ainda, a média de importações diárias, bem abaixo de US$ 2 milhões. As compras anuais de leite e derivados ultrapassam US$ 250 milhões.

Os principais produtos de importação, equipamentos mecânicos e elétricos e eletrônicos, tiveram quedas nos valores médios, em relação ao ano passado. "A importação ainda é a grande dúvida de 2009", comenta um dos principais analistas do setor, o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, que diz ser muito cedo para previsões. Ele confessa ter sido surpreendido pela queda de 11,9% na média diária do total das importações neste início do ano. "Achei que vinha mais forte."

As exportações, em valor, caíram ainda mais, 18,3% quando comparada a média diária dos primeiros dias úteis do ano com a de janeiro de 2008. Além do açúcar, com aumento de 129,3%, quase 10% acima dos valores de dezembro, poucos dos principais itens de exportação tiveram crescimento em relação ao início do ano passado: minérios (14%), soja (19,5%), papel e celulose (16%). É cedo para falar em tendências, mas, neste começo do ano, mais uma vez as commodities estão sustentando a balança comercial", diz Castro, apontando a queda na média do saldo de comércio em produtos manufaturados, que ficou quase a mesma da média para produtos básicos, entre US$ 180 milhões e US$ 190 milhões.

Apesar disso, Castro diz acreditar ser possível que a queda nas importações se acentue durante o ano, com a retração da demanda e dos preços do combustível, a ponto de permitir um superávit, em 2009, maior do que estimam os analistas. O Banco Central prevê um superávit de US$ 17 bilhões em 2009, mas há projeções no mercado que apontam para até US$ 13 bilhões.