Título: José Dirceu pede a petistas que se rebelem contra pemedebistas
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2009, Política, p. A8

Ex-presidente do PT, José Dirceu pressionou os petistas da Câmara Federal a se rebelarem, já que os pemedebistas negam apoio à candidatura de Tião Viana (PT-AC) no Senado. Segundo o ex-ministro, ainda com forte influência no partido, o que está em disputa é a manutenção da aliança entre PT e PMDB na sucessão presidencial.

Em comentários publicados ontem em seu blog, Dirceu destacou que a eleição para as Mesas da Câmara e do Senado tornou-se uma "ante-sala da sucessão presidencial de 2010" e que o PT precisa tratar a disputa "como parte da construção das candidaturas e alianças".

Com a perspectiva de o PMDB ganhar não só na Câmara com a candidatura de Michel Temer (SP), mas também no Senado, se José Sarney (AP) for candidato, o ex-ministro previu uma "forte reação na Câmara" por parte dos partidos menores e do PT. "O PMDB não quer apoiar Tião Viana e o PT precisa levar isso em conta. Não pode, simplesmente, fazer de conta que não está acontecendo nada", comentou. "Até quando o PMDB, o governo e o PT vão manter essa disputa em silêncio e como se não estivesse acontecendo?", cobrou.

No recado ao partido, ele disse que "há pemedebistas que não aceitam que o PT eleja novamente o presidente da República" e que o PMDB está dividido "entre o projeto tucano e o do PT", como foi em 2002. Ele lembrou que só em 2006/2007 a ala pemedebista que havia apoiado o governo de Fernando Henrique Cardoso passou a integrar e a apoiar o governo Lula.

Dirceu tratou da possível candidatura de Sarney ao Senado como "uma realidade" e analisou que o PT corre o risco de ficar fora da presidência das duas Casas e de não ter o apoio do PMDB em 2010.

O PMDB não está satisfeito com o PT e não com o governo, comentou Dirceu. "Nos bastidores o argumento é de que com Lula, tudo bem, mas com o PT não, é preciso enfraquecer o partido", afirmou, ao lembrar que o aliado comanda cinco ministérios de peso.

Dirceu citou como exemplo das "intenções" do PMDB o quadro eleitoral da Bahia, onde "já se dá como certa a aliança PSDB-DEM-PMDB pró-Serra", com o senador Paulo Souto (DEM) e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB) - este, com participação no governo Jacques Wagner (PT - BA) encabeçando a chapa majoritária. Um disputaria o Senado, o outro o governo do Estado.

No Congresso, os petistas têm cautela ao falar da possível concentração de poder do PMDB e ainda negam a candidatura de José Sarney. Para a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), a candidatura de Tião Viana é irreversível. "Não vislumbro nenhuma hipótese de Sarney disputar sem o PT."

Temer reiterou que as candidaturas nas duas Casas estão desvinculadas e que não teme sofrer retaliações. Deputados do PT declararam que a bancada manterá o voto em Temer, mesmo com a candidatura Sarney. "O pior dos mundos seria o PT trair o PMDB na Câmara. Acabaria com a governabilidade de Lula. Não há razão para isso", disse Virgílio Guimarães (PT-MG). "Não há possibilidade de mudarmos o voto na Câmara", disse. Para Carlos Zarattini (SP), o compromisso de voto em Temer é "incondicional" e o PT já negociou a vice-presidência da Casa, se o PMDB for eleito.