Título: Obama monta um governo centralizado na Casa Branca
Autor: Seib , Gerald F.
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2009, Internacional, p. A9

Quem quiser saber onde o verdadeiro poder vai residir na Wa-shington de Barack Obama, basta lembrar que sua equipe na Casa Branca inclui as seguintes pessoas:

Um ex-secretário do Tesouro e um ex-presidente do Federal Reserve, o banco central americano (Lawrence Summers e Paul Volcker, respectivamente); o homem que comandava todas as forças aliadas na Europa, e outro que comandava todas as forças americanas no Pacífico (James Jones e Dennis Blair); a mulher que já esteve no comando da principal agência ambiental do governo e o homem que chefiou a volta ao poder dos democratas no Congresso (Carol Browner e Rahm Emanuel).

Não há nenhum nome fraco nesse grupo, e a presença deles na equipe de Obama mostra que o poder vai se inclinar para a Casa Branca, e não para os diversos secretários (equivalentes americanos dos ministros) de seu gabinete, que normalmente são o foco da atenção nos períodos de transição.

Como isso sugere, talvez ainda não saibamos todos detalhes do plano de estímulo econômico de Obama, nem qual sua política em relação ao Irã, mas já percebemos bem, durante essa transição, que tipo de presidente ele será e que tipo de governo ele vai comandar.

Esse período tem sido instrutivo tanto pelo que foi dito como pelo que não foi. Pouco foi dito sobre "delegar poder" ou sobre "governo de gabinete", expressões que circularam em outras transições governamentais, sugerindo que a tomada de decisões seria descentralizada, para que o presidente pudesse economizar seu tempo e seu cérebro em apenas alguns assuntos.

Em vez disso, está claro que o foco central da governo Barack Obama será o próprio Barack Obama.

Além disso, Obama pretende ser não só comandante supremo, mas também comunicador supremo, responsável por todas as mensagens, tanto as sérias como as inspiracionais, utilizando novas tecnologias de comunicação e, provavelmente, comunicando-se mais com a imprensa do que seu antecessor.

Internamente, ele não estará na extremidade de um canal de informações, mas sim no meio de uma rede de informações; sua luta contra os advogados do governo e as agências de segurança para conseguir conservar seu BlackBerry para mensagens pessoais e privativas é mais do que simbólica. Seu vice-presidente, Joe Biden, não será um substituto todo-poderoso como Dick Cheney foi para George W. Bush, nem tampouco um homem com tarefas específicas, como Al Gore e Dan Quayle foram para Bill Clinton e George Bush pai. Que papel Biden vai representar é uma das grandes perguntas ainda não respondidas.

Naturalmente, há outras coisas que ainda não sabemos sobre como o 44º presidente americano vai agir. Não sabemos se sua tendência será consultar-se com seu partido no Congresso ou comandá-lo. Quanto ao fato de não ter informado os principais senadores da iminente nomeação de Leon Panetta para chefiar a Agência Central de Inteligência, a CIA, terá sido um deslize ou um lance calculado para não ouvir objeções? Também não sabemos se o seu desejo, já manifestado, de trabalhar com os republicanos será algo real e pessoal ou distante e apenas pró-forma.

O aspecto mais indiscutível do governo que está sendo formado é que a equipe da Casa Branca terá mais nomes de destaque do que qualquer outra já reunida. Isso significa que Obama está continuando, e ampliando, a tendência para concentrar o poder dentro da Casa Branca - e não em diversas secretarias espalhadas por Washington - tendência que vem tomando forma há mais de meio século.

O primeiro grande passo nesse sentido veio com Franklin Roosevelt, que confiava substancialmente num pequeno grupo de assessores pessoais para implementar se-us programas do New Deal e comandar o país na Segunda Guerra.

A formalização dessa tendência começou com a Lei de Segurança Nacional, de 1947, que criou o NSC, sigla em inglês do Conselho Nacional de Segurança. O NSC começou com um comitê de autoridades do gabinete envolvidas em assuntos de segurança nacional, mas acabou gerando um único assessor de segurança nacional e uma equipe significativa, ambos trabalhando diretamente com o presidente.

Nos anos Clinton, foi acrescentado em paralelo um assessor econômico, que chefiava o Conselho Econômico Nacional, baseado na Casa Branca. Depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, foi criado um diretor nacional de inteligência, também baseado na Casa Branca, para supervisionar a comunidade de inteligência, suplantando o diretor da CIA como principal consultor de informações para o presidente.

Agora, Obama acrescentou um xerife para energia e ambiente na Casa Branca (Browner), criou uma equipe para supervisionar a recuperação econômica (Volcker) e nomeou Nancy Killefer, ex-funcionária do Departamento do Tesouro (o Ministério da Fazenda americano), como uma espécie de "czarina do desempenho" da Casa Branca, com o mandato de eliminar programas ineficientes em todas as esferas do governo.

A vantagem para Obama é que uma equipe com tantos nomes experientes lhe permite exercer mais controle sobre as políticas adotadas. Mas há diversos riscos: uma proliferação de chefes pode tornar confusos os limites do comando, e os secretários de seu gabinete podem se ressentir da interferência vinda da Casa Branca (Hillary Clinton, talvez?), gerando embaraçosas lutas pelo poder. Outro aspecto: se parecer que a Casa Branca está dando todas as ordens, não poderá evitar facilmente acusações quando as coisas derem errado.

A única coisa que falta à equipe de Obama é alguém que confirme sua promessa de governar com os dois partidos. Seu gabinete inclui um republicano de verdade, Ray LaHood (membro do segundo escalão, como secretário dos Transportes) e outro que é republicano nominalmente, Robert Gates, na Defesa. O general da reserva Jones, encarregado da segurança interna, tem boas relações com os republicanos, mas não há ninguém comparável na área da política interna. Talvez a equipe precise de mais um czar: o "czar do bipartidarismo".