Título: Obama, clima, energia e seus agentes
Autor: Sarmento , Antonio Bastos A.
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2009, Opinião, p. A10
Mesmo tendo recebido muito pouca atenção nos meios de divulgação no Brasil, uma das facetas que levantaram forte questionamento durante a campanha presidencial americana foi a que expunha aos eleitores as preferências dos candidatos sobre seus projetos e intenções relacionados com os dilemas entre a questão ambiental e a oferta de energia abundante e barata, talvez a maior preocupação do americano comum em relação a seu futuro.
William Weld, antigo governador republicano do estado de Massachusetts e líder na área de assessoramento ambiental, endossou as palavras do candidato, comentando que, em sua opinião, Obama seria aquele com visão mais abrangente sobre o que precisa ser feito em termos de políticas ambientais dentro e fora dos Estados Unidos.
Os planos do futuro presidente incluem uma vasta gama de propostas focadas em investimentos em combustíveis alternativos eficientes, sem prejuízo do incremento das pesquisas na plataforma continental e o desenvolvimento dos campos em produção nessas áreas. Também está nos planos do futuro presidente um importante estímulo às tecnologias de carvão mais limpas, atingindo ainda o lançamento de uma geração de automóveis cuja emissão de poluentes se reduza progressivamente de baixa até zero. Obama se sentirá em casa para distribuir incentivos aos produtores de Detroit, visando à criação de "green jobs" e o redesenho das linhas de produção, convidadas a por em circulação maior número de veículos movidos a combustíveis limpos.
Em relação ao carvão, Obama não esconde sua intenção impulsionar o desenvolvimento de tecnologias não poluentes, usando parcerias público-privadas como forma de alavancar tecnologias mais avançadas e o surgimento de usinas geradoras a carvão, dotadas de dispositivos de captura e sequestro de carbono. Os pontos críticos dessa questão, entretanto, segundo alguns céticos, são os elevadíssimos custos e a natureza meramente experimental dos processos em uso.
O que está em causa é um engajamento acentuado na luta contra o aquecimento global em termos de maiores restrições as emissões de gases de efeito estufa, com a fixação de um sistema de negociação de tetos em acordos comerciais. O objetivo dessas políticas seria licitar 100% de créditos de carbono para levar as empresas a pagar o preço de cada tonelada de carbono por elas produzida. Parte dos lucros seria canalizada para investimentos em combustíveis alternativos e outras iniciativas ambientais.
Prevê-se que Obama terá uma posição agressiva na execução dessas políticas, até mesmo a ponto de atuar unilateralmente para a redução das emissões nos Estados Unidos, ao mesmo tempo pressionando a China e a India para a conscientização de que é necessário evitar o "suicídio econômico". Na sua plataforma Obama pregou uma redução de emissões globais para 80% abaixo dos níveis de 1990 a ser alcançada em 2050.
Os pontos de estrangulamento de quaisquer projetos energéticos giram, em todo o mundo, ao redor das mesmas realidades, que afetam tanto a capacidade de investimento dos empresários como a de pagamento dos consumidores, o que, afinal, são as duas faces da mesma moeda. Obama pretende criar uma comissão (Grid Modernization Commission) para integração nacional das grades de distribuição de eletricidade, visando administrar problemas de picos de carga, o que poderia baixar os preços ao consumidor.
No setor de petróleo Obama deseja estimular um maior esforço na exploração na plataforma, mas qualquer forma de nacionalização parece estar fora de cogitação. Ameaças de retirar as licenças das firmas morosas não encontram eco e reduziriam a possibilidade de encontrar substitutos, pois a viabilidade de testar essas áreas dependerá sempre das incertezas do preço do petróleo. Não obstante, Obama mira nas reservas de xisto das Montanhas Rochosas e nas formações capazes de gerar suprimentos não convencionais de gás a partir do Texas e do Arkansas.
No campo da energia nuclear as manifestações de Obama ficaram sempre mornas, mesmo porque ele se limitou a considerar como improváveis as aprovações ambientais para estocagem de resíduos nucleares em Nevada. Nesse capítulo, Obama ficou do lado da segurança como diretriz para as atividades pertinentes.
Obama não somente divulgou uma plataforma agressiva para uso doméstico, como enfatizou a intenção de reunir com o G-8 os supostos maiores emissores de gases de efeito estufa, nomeadamente o Brasil, China, India, México e África do Sul para coordenar esforços no combate ao aquecimento global.
Mais importante, porém, que as plataformas divulgadas pelo candidato Barack Obama, serão as escolhas das pessoas que serão incumbidas de por em prática as ações que definirão as atuações das agências reguladoras das questões ambientais e energéticas, a saber, Environmental Protection Agency, Federal Energy Regulatory Commission, e Nuclear Regulatory Commission. Essas escolhas se revelarão, com o tempo, mais decisivas que quaisquer leis que o presidente-eleito fizer aprovar no Congresso.
A equação projeto/realização não é somente um tema de grande visibilidade para o público em geral, assim como para a avaliação do grau de confiabilidade das personalidades públicas e seus partidos nos Estados Unidos, mas é também reveladora das intenções e das competências de todos os líderes nacionais e dos promotores de suas políticas, em quaisquer quadrantes.