Título: BCs vêem retomada só a partir de 2010
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2009, Finanças, p. C4

O ano da retomada econômica fica mesmo para 2010. A atividade econômica global continuará desacelerando "significativamente''. Os grandes países industrializados terão uma contração da atividade econômica, enquanto os emergentes passaram a ser mais duramente afetados pelas conseqüências da crise financeira. Foi essa a avaliação dos principais banqueiros centrais do planeta, reunidos ontem no Banco de Compensações Internacionais (BIS), espécie de banco dos BCs, confirmando que o mundo mergulho na recessão econômica em 2009. Antoine Antoniol / Bloomberg News

Trichet, do BCE: emergentes continuarão crescendo, mas a taxas menores

Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), foi quem apresentou a visão das autoridades monetárias, como presidente do grupo no BIS. Ele explicou que a queda do preço do petróleo, as despesas fiscais suplementares e medidas tomadas pelos bancos centrais para sustentar a economia mundial terão um impacto positivo no longo prazo e essa foi uma das razões pelas quais os banqueiros centrais saíram com o sentimento de que 2010 será o ano da retomada. Exemplificando o aprofundamento da crise, Trichet destacou a desaceleração maior do que esperada nos emergentes.

Notou que até 2007 essas economias ainda se mostravam extremamente resistentes à crise, mas que agora efetivamente há uma "sincronização da desaceleração, a crise é realmente global". Mas Trichet notou uma diferença importante: os emergentes continuarão crescendo, a taxas menores do que em 2008 ou nos anos precedentes, mas em todo caso se expandindo.

Um dos mais atingidos no grupo é a Rússia, que tinha calculado seu orçamento com o barril de petróleo valendo no mínimo US$ 80 - o dobro do preço de hoje. O México, também produtor de petróleo e dependente da economia americana, é outro em estado difícil. A Índia reclama que a economia real é que está afetando seu setor financeiro. Para o presidente do BCE, a ação "rápida'' dos governos e dos bancos centrais e sua magnitude até agora permitiram evitar uma "desintegração" dos mercados financeiros. Mas constata que os mercados não levaram ainda inteiramente em conta as medidas e a confiança continua faltando.

Na mesma linha, o presidente do BC brasileiro, Henrique Meirelles, disse que os mercados ainda não precificaram completamente todas as medidas tomadas pelos governos, porque algumas têm efeito defasado, outras não foram implementadas e ainda há ações a serem anunciadas. Mas Meirelles apontou "já alguns sinais interessantes", como a retomada do mercado americano do crédito hipotecário. Ele notou também que alguns países que sofrerão contração média em 2009, mas já podem mostrar crescimento no final do ano.

A maioria dos bancos centrais tem cortado bastante as taxas de juros nos últimos meses. O BCE poderá baixar de novo sua taxa, que atualmente é a mais elevada entre as grandes economias. o presidente do banco central da China, Zhou Xiaochuan, admitiu que há riscos de o país não alcançar sua meta de crescimento econômico de 8%.