Título: Ipea vê alta de desemprego até em cenário positivo
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2009, Brasil, p. A3
O Brasil dificilmente escapará de um aumento da taxa de desemprego neste ano. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) fez três simulações das conseqüências do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) sobre o emprego e, em todas elas, conclui que, mesmo no exercício mais otimista, que é de aumento de 4% do PIB, o desemprego vai aumentar.
Neste caso, a taxa de desemprego calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iria para 7,7%, pouco acima dos 7,6% estimados para o ano passado.
Na opinião do presidente do Ipea, Marcio Pochmann, se essa for a realidade, o país teria, praticamente, estabilidade na taxa de desemprego. Mas, na atual conjuntura de crise econômica global, é difícil acreditar que a economia crescerá os 4% esperados pelo governo em 2009.
De acordo com a última pesquisa Focus, realizada em 16 de janeiro pelo Banco Central, com cerca de 100 analistas do mercado financeiro, a expectativa do mercado para o PIB, neste ano, é de crescimento de apenas 2%. Até o sempre otimista ministro da Fazenda, Guido Mantega, já chegou a afirmar que a taxa de 4% para 2009 não é previsão, mas meta que tem de ser construída em conjunto, por governo e sociedade.
As três simulações do Ipea são de desaceleração em relação ao PIB de 5,2% previstos para o ano passado. Considerando um crescimento de 4%, seriam criados "quase 1,3 milhão de postos de trabalho", o equivalente a 1,4% da ocupação total. Nesse caso, 154 mil pessoas seriam levadas ao desemprego, dado o fato de que esse aumento da ocupação é insuficiente para acomodar 1,45 milhão de pessoas que vão se integrar à População Economicamente Ativa (PEA).
No exercício que leva em conta uma expansão de 2,5% do produto neste ano, seriam criados 800 mil postos de trabalho (0,9% da ocupação). Nesse quadro, a taxa de desemprego iria para 8,1%, com 806 mil pessoas agregadas ao universo de desempregados.
A simulação mais pessimista feita pelo Ipea, que considera crescimento do PIB de apenas 1% em 2009, significa geração de apenas 320 mil empregos (0,35% da ocupação) e taxa de desemprego de 8,6% a partir da agregação de 1,12 milhão de pessoas em busca de colocação no mercado de trabalho.
Pochmann julga que as medidas anticrise tomadas até agora pelo governo são "positivas, mas insuficientes". Avalia que é preciso reduzir "drasticamente" a taxa de juros, atualmente em 13,75% ao ano. "A maior parte dos países opera com taxa de juros negativa, abaixo da inflação. No Brasil, os juros reais muito elevados não contribuem para criar uma expectativa de investimento e de defesa do emprego e da produção nacional", diz.
Para o presidente do Ipea, a taxa de juros mantida pelo Banco Central está relacionada a uma conjuntura anterior à crise financeira global. "Não tem um número cabalístico", mas Pochmann explica que reduzir drasticamente os juros, para ele, significa aproveitar 2009 para diminuir quatro ou cinco pontos percentuais na taxa básica, o que levaria a Selic até 8,75% no encerramento deste ano.