Título: Indústria reduz faturamento, emprego e capacidade instalada em novembro
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2009, Brasil, p. A4
A indústria foi marcada, em novembro, por forte queda no faturamento em relação ao mês anterior, fato que veio acompanhado de reduções da atividade, do emprego, e da utilização da capacidade instalada. A crise global deu seus primeiros sinais em outubro, mas o levantamento mensal da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que, em novembro, o faturamento real foi 9,9% menor (descontados os efeitos típicos do período) que em outubro. Foi a maior queda desde março de 2003.
Os indicadores industriais da CNI, em novembro, também revelam retração de 7% do faturamento sobre novembro de 2007. Para a entidade, esse é um sinal de acumulação de estoques. Com relação às horas trabalhadas, novembro teve diminuição de 1,5% sobre outubro, a segunda consecutiva e a maior da série histórica. Na comparação com o mesmo mês em 2007, houve aumento de 1,4%.
Em novembro, o emprego industrial recuou 0,6% sobre outubro, interrompendo 31 meses seguidos de crescimento na comparação com o mês imediatamente anterior. No confronto dos meses de novembro de 2008 e 2007, houve crescimento de 2,9% no ano passado. Com relação à massa salarial real, a elevação em relação a novembro de 2007 foi de 3,4%. A CNI não informou a comparação dessazonalizada entre novembro e outubro desse indicador.
O quadro de retração afetou a utilização da capacidade instalada (UCI) em novembro. Ela baixou de 82,6% (outubro) para 81,6%. Em novembro de 2007, a UCI estava em 83,4%.
Na avaliação dos economistas da CNI, Flávio Castelo Branco e Marcelo Souza Azevedo, a redução da atividade de quatro segmentos - veículos automotores, metalurgia básica, máquinas/equipamentos e alimentos/bebidas - foi decisiva para a queda do ritmo industrial em novembro. Juntos, eles responderam por 62% da diminuição do faturamento entre outubro e novembro e 48% da redução nas horas trabalhadas na mesma comparação. Do início do ano passado até setembro, esses segmentos também foram os líderes do movimento de expansão da atividade industrial.
O comportamento desses quatro segmentos industriais, segundo Castelo Branco, tem relação direta com a crise, especialmente com as restrições de crédito e do mercado externo que reduziram espaço das exportações. Uma retração nas empresas produtoras de bens de capital sinaliza redução de investimentos.
Segundo a CNI, o segmento de vestuário foi o único que teve aumento (7,6%) de faturamento em novembro na comparação com outubro, o que foi explicado pelas maiores vendas de fim de ano e do verão. As maiores quedas nessa comparação (do faturamento de novembro com o de outubro) foram em veículos automotores (29,5%), metalurgia básica (26,2%), couros/calçados (17,5%) e outros equipamentos de transporte (16,7%).
Como 2008 começou com ritmo de atividade econômica muito forte, quatro indicadores industriais ficaram com variações relevantes de janeiro a novembro, apesar do impacto negativo da crise a partir de outubro. Nesse período, o faturamento real cresceu 6,4% na comparação com os mesmos 11 meses em 2007. As horas trabalhadas elevaram-se 5,6% nessa comparação. O emprego expandiu-se 4,2% e a massa salarial real aumentou 5%.
Castelo Branco explicou que prefere aguardar a decisão de hoje do Banco Central sobre a taxa básica de juros para decidir se vai reavaliar as projeções econômicas que a CNI fez, em dezembro, para a economia em 2009. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) esperado pela entidade, de até 2,4%, parece excessivo, mas, ao mesmo tempo, ele reconheceu que esse ajuste mais brusco pode durar menos tempo. Outra incógnita, na sua opinião, é o impacto que as primeiras medidas econômicas do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que tomou posse ontem, vai provocar nas expectativas mundiais.
No cenário brasileiro, Castelo Branco ressaltou que o emprego é o que mais preocupa porque traz impactos para a renda e, daí, para a demanda das famílias. Ele defendeu o cumprimento do orçamento de investimentos porque traz duas conseqüências positivas: mantém a atividade em alguns setores e eleva a eficiência da infra-estrutura.
A redução da taxa básica de juros e dos spreads bancários também não pode faltar nessa receita da CNI. Para Castelo Branco, a política monetária ficou inerte, mas os spreads ficaram mais altos, o que significa aumento de juros. Argumentou que, em todo o mundo, os juros caíram e há muito espaço para esse movimento no Brasil sem colocar em risco as metas de inflação. "Isso vai amenizar o ajuste produtivo e será positivo para o emprego. Por outro lado, é preciso admitir que a crise não pode fragilizar o sistema financeiro", comentou.