Título: Analistas pedem integração regional para combater crise
Autor: Lima , Marli
Fonte: Valor Econômico, 11/12/2008, Brasil, p. A3

A criação de uma moeda única para a América do Sul, primeiro para transações comerciais internacionais e, depois, para substituir as moedas atualmente em uso na região, foi o principal assunto de ontem no seminário "Crise: rumos e verdades", organizado pelo governo do Paraná para discutir caminhos para enfrentar o atual cenário econômico. Desde domingo, políticos, economistas e empresários do Brasil e do exterior estão mostrando em Curitiba pontos de vista e dando sugestões sobre o assunto. O tema do dia era o impacto do que está acontecendo no mundo sobre a integração dos países sul-americanos.

O professor e economista Marco Naranjo Chiriboga, ex-diretor de estudos do Banco Central do Equador, afirmou que a única saída para enfrentar a crise é a integração. Ele ressaltou que tudo o que disse era opinião pessoal, não uma posição oficial de seu país, mas explicou à platéia que o Equador não tem moeda própria e usa o dólar americano. "Se usarmos dólar para pagamentos internacionais, a crise vai nos pegar de modo contundente", disse. Ele explicou que o país não possui reservas internacionais porque em 2000 trocou o sucre, moeda que era usada pela população e que estava muito desvalorizada, pela moeda americana.

Chiriboga acrescentou que a negociação para criação da moeda de compensação para pagamentos de operações de importação e exportação está mais avançada entre Equador, Venezuela e Bolívia, e a meta é começar a usá-la em 2009. A intenção é agregar outros países, em especial o Brasil, mas o economista disse que o imbróglio que envolve financiamento do BNDES para a construção de uma usina hidrelétrica pela Odebrecht naquele país tem complicado as conversas. Segundo Chiriboga, a obra tem danos estruturais e seu custo foi alto, por isso o Equador pediu reparação e questionou o pagamento da dívida em corte internacional.

Além da idéia de moeda única, que havia sido defendida por Requião no dia anterior e ontem recebeu críticas de economistas que participaram do debate, outras sugestões foram dadas. O ex-ministro da Fazenda da Argentina e diretor da estatal de energia daquele país (Enarsa), Aldo Ferrer, defendeu a criação de uma empresa sul-americana de energia nuclear como medida para consolidar a integração. Ele afirmou que a crise atual não diz nada de novo para o mundo e acrescentou que quando os países estiverem com a casa em ordem, serão capazes de resistir à especulação financeira. "Não podemos perder tempo para iniciar o desafio da independência de nossos países", completou.

José Felix Rivas Alvarado, diretor do Banco Central da Venezuela, disse que é preciso ver menos a rede de televisão CNN, "que tem impregnado o mundo com a crise americana".

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, era esperado para o debate da tarde, mas não compareceu ao evento, que chegou a ser criticado por políticos locais por ser patrocinado por empresas públicas. Requião, que diz ter organizado o seminário para ir além do que a "grande imprensa" mostra, disse em defesa da moeda única: "Com a nossa moeda, poderíamos influir no mercado, se perdemos a moeda, perdemos a soberania."

Hoje os debates tratarão de propostas para o futuro do Brasil e terão a participação de Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES.