Título: Amorim rejeita conversa com EUA sobre pontos de discordância na Rodada Doha
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 11/12/2008, Brasil, p. A3

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, rejeitou fazer uma videoconferência com a representante comercial dos Estados Unidos, Susan Schwab, ontem, numa ilustração do ambiente nas negociações da Rodada Doha. Schwab queria discutir individualmente com Amorim e os ministros de Comércio da China e da Índia sobre os principais pontos de confronto na negociação de Doha, a começar pela exigência americana para os três participarem de acordos setoriais na área industrial, por eliminação de tarifas mais rapidamente.

O ministro "declinou" do convite, o que é ainda mais raro para quem sempre se mostrou um dos mais engajados em conversar para tentar levar adiante a negociação global. O argumento no Itamaraty é de que, primeiro, Amorim e Schwab já tinham se falado antes e a americana sabe precisamente que o Brasil não aceitará negociação obrigatória setorial e menos ainda na área química, por exemplo. E segundo, que o ministro tinha viagem ontem para Genebra.

De fato, as conversas de Schwab parecem não ter servido para muita coisa, pelas informações que filtravam da cena comercial ontem à noite. O ministro indiano de Comércio, Kamal Nath, chegou a hesitar em aceitar a conversa. E não teria servido para reduzir as diferenças sobre acordos setoriais e salvaguarda especial na área agrícola.

Nesse cenário, a idéia de uma reunião ministerial organizada pelo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, pode ser engavetada de vez. Para certos negociadores, se os ministros desembarcarem em Genebra, nem vão ter como se falar, no contexto atual em que todo mundo guarda suas cartas na manga.

O ambiente era de compasso de espera em Genebra. "Está tudo plácido", dizia um negociador. A Argentina apresentou uma nova proposta para obter flexibilidade adicional para sua indústria, que foi imediatamente rejeitada pelos Estados Unidos e União Européia.

Por sua vez, a Venezuela de Hugo Chávez, que distribui milhões de dólares pela América do Sul, está pedindo o status de "economia pequena e vulnerável" na negociação de Doha, para cortar menos, quase nada, suas tarifas de importação, algo que foi rejeitado por outros membros.

Ainda na sua luta desesperada para dar um fôlego na negociação global, Lamy conversa hoje com Amorim e depois com representantes da África.