Título: BC indica intenção de cortar Selic
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 11/12/2008, Finanças, p. C1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve ontem os juros básicos em 13,75% ao ano, mas sinalizou que poderá vir a promover uma distensão monetária nos próximos meses para reduzir os riscos de uma desaceleração mais forte da economia brasileira.

Em nota divulgada logo após o encontro, o BC disse que a maioria dos membros discutiu a possibilidade de baixar os juros. Diz o comunicado: "Tendo a maioria dos membros do comitê discutido a possibilidade de reduzir a taxa básica de juros já nesta reunião, em um ambiente macroeconômico que continua cercado por grande incerteza, o Copom decidiu por unanimidade ainda manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, sem viés, neste momento", afirma o BC. "O Comitê irá monitorar atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação com vistas a definir tempestivamente os próximos passos de sua estratégia de política monetária".

Essa é a segunda reunião seguida em que BC mantém os juros básicos inalterados. Em abril, quando os juros estavam em 11,25% ao ano, a autoridade monetária iniciou um ciclo de alta da taxa básica para combater pressões inflacionárias decorrentes do forte aquecimento da economia. Em outubro, o aperto monetário foi suspenso, em decorrência dos efeitos incertos da crise financeira internacional sobre o crescimento da economia e sobre a inflação. As razões tanto para manter quanto para baixar os juros só serão reveladas em detalhes na semana que vem, quando sai a ata da reunião de ontem. Mas os motivos tanto para uma decisão como para outra já vinham sendo amplamente explicitados pelo BC em seus documentos e pronunciamentos oficiais.

Na ata de sua reunião de outubro, o Copom enfatizou que, a despeito da crise internacional, o forte ritmo de expansão da economia vem colocando riscos importantes ao cumprimento da meta de inflação de 2009, de 4,5%. Essa visão foi reforçada pela divulgação anteontem pelo IBGE de uma expansão de 6,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre. Mesmo antes dos números do PIB, o BC já vinha apontando sinais de superaquecimento no mercado de trabalho e o alto uso da capacidade instalada na indústria, além da deterioração das expectativas inflacionárias. O BC vem insistindo também que a desvalorização do real representa riscos adicionais ao cumprimento da meta.

Na própria ata de outubro, porém, o Copom reconhecia que a crise internacional representa um risco para a trajetória de crescimento econômico. O crédito bancário, em especial, foi afetado pela falta de linhas de financiamentos internacionais ao Brasil. Além disso, as notícias sobre a crise estariam afetando o consumo e o investimento. Desde então, surgiram alguns números negativos sobre a atividade econômica, e a inflação deu sinais de recuo. A produção industrial registrou queda de 1,7% entre setembro e outubro e Índice de Preços ao Consumidor - Amplo (IPCA) de novembro foi de 0,36%, abaixo dos 0,45% observados em outubro.

Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings, o BC agiu conforme o esperado pelo mercado financeiro. "O BC começa agora a preparar as expectativas para um corte na próxima reunião do Copom, no dia 21 de janeiro", afirma. Ele espera um movimento de queda das taxas de juros futuros no curto prazo, pois os 13,25% ao ano projetados para o final de 2009 estão elevados demais, no entender do economista. Segundo ele, fica a dúvida agora se o corte será de 0,25 ponto percentual ou 0,5 ponto percentual. "O BC vai ter de sinalizar claramente na ata do Copom, a ser divulgada na semana que vem, quais os indicadores que ele estará olhando", afirmou Agostini. Na certa, o BC vai continuar a observar as expectativas para a inflação em 2009 e até 2010, mas também passará a olhar os indicadores de emprego, renda, produção, afirma. "Ele precisa deixar claro qual será o foco de sua atenção", afirma.

Agostini defendia um corte de juros já nesta reunião. "Mas, apesar disso, mantivemos a aposta de que o BC iria manter as taxas, dado o seu conservadorismo", diz. O debate na mídia sobre as pressões do governo pela queda dos juros e a possibilidade do fim da autonomia do BC só exacerbou esse conservadorismo. "O BC fez questão de provar que não cede às pressões", afirmou.

O presidente do IBEF SP, Walter Machado de Barros, classificou a decisão do Copom como a "perda de uma grande oportunidade". Para ele, o PIB do terceiro trimestre surpreendeu e o BC, dentro de sua postura mais prudente, não apenas ganhou argumento para não sucumbir às pressões, como também tempo para avaliar se o crescimento verificado no trimestre anterior "respingará" nos últimos três meses de 2008. "Cremos que essa é a visão do BC, mas não a da cadeia produtiva. Acreditamos até que esse crescimento do PIB, paradoxalmente, se tornará forte argumento para o corte dos juros já no início de 2009. Isso porque a base de comparação com o quarto trimestre será incrivelmente alta, aumentando a possibilidade de estagnação ou mesmo de retração próxima a 1%, cenário mais provável para este quarto trimestre. O corte nos juros terá de vir em janeiro", prevê ele.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, afirmou que o Copom deveria ter alterado a dinâmica da política monetária e promovido uma inflexão na trajetória da taxa de juros.