Título: Governo tem projeções divergentes para PIB de 2009
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2008, Brasil, p. A3
Qual é a expectativa de crescimento para a economia brasileira no ano que vem? Pelo relatório de inflação, divulgado ontem pelo Banco Central, é de 3,2%. Para o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a perspectiva ainda é de 4%. Já o presidente do BC, Henrique Meirelles, em meio à controvérsia, foi político: "O presidente Lula mencionou hoje [ontem] a meta, o objetivo de crescimento com que trabalha o governo brasileiro é de 4%", disse.
Meirelles, que falou ontem à tarde na 2ª Cúpula Brasil União-Européia, que fora aberta mais cedo pelo presidente Lula, afirmou que a projeção de crescimento divulgada ontem no relatório do BC é um pouco acima de previsões do mercado, que ficam em torno de 2,5%, e também da do FMI, que é de 3%. "O Banco Central, hoje, trabalha com uma previsão um pouco acima dessas, mas essas são condições presentes. Vamos aguardar o que será a evolução das diversas medidas tomadas pelo governo no sentido do crescimento", disse ele. No relatório de inflação, o BC projetou 3,2% para a alta do PIB de 2009.
Na abertura do encontro, porém, o presidente Lula avisou, que vai trabalhar com a perspectiva dos 4% em 2009, "apesar de ter gente que diz que o Brasil vai crescer 2,8% ou 3%". "Quero que os empresários saibam que no governo e na sua equipe econômica nós iremos trabalhar com a perspectiva de 4%. Não haverá um único projeto do governo que será paralisado (...). A gente enfrenta crise procurando alternativas, criando novos paradigmas", afirmou.
Ao lado do presidente da França, Nicolas Sarkozy, o presidente Lula defendeu enfaticamente o modelo de maior participação do Estado e disse que "finalmente chegou a hora da política". Para ele, momentos de crise levam à necessidade de reflexão e de ser mais criativo e o atual momento também chama a atenção do mundo para rediscutir o papel do Estado.
"Não defendo a idéia do Estado que se intromete na economia, querendo fazer aquilo que é o papel próprio de quem entende de administração de empresas. Mas está provado que, se o Estado não for indutor do desenvolvimento, se não tiver força e mecanismos para controlar a atividade econômica do seu país, quando acontece uma crise como essa, não tem banco no mundo, não tem grande empresário no mundo que não se volte para a figura do Estado e pergunte: 'o que faremos agora?' ", afirmou Lula.
O presidente voltou a culpar a especulação financeira pela turbulência internacional e respondeu às críticas dos que o acusam de ser excessivamente otimista sobre a situação econômica brasileira. Segundo ele, os incentivos ao consumo acontecem porque essa é a única solução para reverter o atual quadro. "Sou um otimista. As pessoas acham que eu deveria ir para a televisão chorar, dizer que a crise acabou com o país, mas eu sou o maior estimulador da retomada econômica", disse ele. "Faço mais propaganda do que muitos empresários, que deveriam fazer essa propaganda em relação a seus produtos", completou Lula.
Mais tarde, em sua apresentação, Meirelles afirmou que o Brasil deverá crescer acima da média global em 2009, mas o ritmo deve desacelerar. "O Brasil deverá crescer mais do que a média mundial, mas não será um processo indolor, porque haverá desaceleração, mas não há dúvida de que haverá crescimento", disse. (CV, RR e APG)