Título: Indústria cai e Argentina já teme recessão em 2009
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Fonte: Valor Econômico, 23/12/2008, Internacional, p. A9

O superávit comercial da Argentina diminuiu em novembro em relação ao mesmo mês do ano passado e a produção industrial caiu, em relação a outubro e ficou estável em relação a novembro de 2007. Os dados dão indícios de que o país está entrando em uma desaceleração forte após seis anos de crescimento recorde, sendo que já há economistas prevendo recessão.

Argentina teve um superávit comercial de US$ 952 milhões em novembro, comparado ao superávit de US$ 1,03 bilhão do mesmo mês no ano passado, disse o Indec, o instituto nacional de estatísticas do país. As exportações caíram 6%, para US$ 5,1 bilhões, enquanto as importações caíram 5%, para US$ 4,1 bilhões, disse o instituto.

Pelo lado da produção industrial o declínio em novembro foi de 0,9%, em relação a outubro. Na relação anual, a estagnação é o pior resultado desde outubro de 2002 - desde então vinha crescendo ininterruptamente. Em novembro do ano passado, a produção cresceu 10%, quando comparada ao mesmo mês de 2006.

Isso mostra o quão rápido as indústrias estão colocando o pé no freio, afetadas pela queda na demanda e pela dificuldade de obter crédito.

Analistas acham que a Argentina deve registrar em outubro o mais baixo crescimento econômico em mais de cinco anos, enquanto as fábricas cortam a produção e as exportações e as vendas internas desaceleram.

A atividade econômica do país deve ter crescido 4,9%, segundo a mediana das estimativas de quatro economistas consultados pela Bloomberg. O dado oficial será divulgado hoje, em Buenos Aires.

A economia da Argentina está sentindo os efeitos da crise internacional. O país cresceu 6,5% no terceiro trimestre, o pior ritmo de expansão desde 2003.

"A produção industrial caiu bastante em outubro, especialmente no setor automobilístico e no agroquímico", disse Fausto Spotorno, economista da Consultoria Orlando Ferreres, de Buenos Aires.

"Devemos ter mais do mesmo em novembro", analisa Spotorno.

"As condições monetárias estão dramaticamente mais apertadas e os preços das commodities estão despencando", disse Vladimir Werning, economista do JPMorgan Chase, em um relatório divulgado na semana passada. "Juntas, essas pressões aumentam a possibilidade de um cenário de 'pouso forçado' para a economia argentina", disse. O JPMorgan espera que o PIB da Argentina se contraia 1% em 2009.

Para prevenir a contração, o governo tem anunciado quase todos os dias novas políticas de estímulo. Ontem, a presidente Cristina Kirchner anunciou corte nos impostos de exportação de produtos agrícolas para, segundo ela, incentivar a produção.

Mas analistas dizem que essas políticas são poucas, estão sendo tomadas muito tarde e não devem sustentar o crescimento econômico do país em 2009.