Título: Em dezembro, todas os setores fecharam vagas
Autor: Bouças , Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2009, Brasil, p. A3

As indústrias de alimentos e bebidas foram o destaque negativo do emprego em dezembro, o pior mês da história do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). No último mês do ano passado, de acordo com o Ministério do Trabalho, as empresas desse segmento industrial contrataram 45.718 profissionais, mas demitiram 155.414 pessoas, o que produziu déficit de 109.696 vagas. No total, foram demitidos, no mês passado, 1.542.245 trabalhadores.

Entre oito setores, a indústria teve o pior desempenho em dezembro de 2008, com saldo negativo de 273.240 postos de trabalho. Foram 117.476 contratações e 390.716 dispensas. No total geral, o Caged contabilizou, em dezembro, saldo negativo de 654.946 postos de trabalho sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Foi o recorde negativo da série iniciada em 1999. Com o dado de dezembro, 2008 ficou com saldo de 1.452.204 empregos celetistas, o terceiro melhor resultado desde 2003. Em 2007, o saldo foi de 1.617.392 vagas.

No ano passado, segundo o Caged, foram contabilizadas 16,66 milhões de contratações e 15,2 milhões de demissões. O estoque do emprego celetista, em dezembro, estava em 30,41 milhões de postos de trabalho, número inferior ao recorde registrado em outubro: 31,11 milhões de vagas. Em dezembro, o setor que mais empregava era o de serviços, com 12,08 milhões de vagas, seguido de indústria (7,18 milhões), comércio (6,85 milhões), construção civil (1,72 milhão), agricultura (1,51 milhão), administração pública (547,29 mil), serviços de utilidade pública (341,94 mil) e extração mineral (171,52 mil).

Além da forte demissão nas indústrias, dezembro teve mais dispensas que contratações em todos os outros sete setores. Os saldos negativos foram: agricultura (134.487), serviços (117.128), construção civil (82.432), administração pública (28.466), comércio (15.092), extração mineral (3.121) e serviços de utilidade pública (980). O mês teve 1.542.245 desligamentos e 887.299 admissões.

A crise marcou o último mês de 2008 porque o saldo negativo de mais de 654 mil vagas é praticamente o dobro do normalmente verificado, no Caged, nos meses de dezembro. De acordo com a avaliação do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, o centro do impacto da crise é a indústria porque esse setor estava com estoques altos e tinha criado, durante o ano passado, muitos empregos. "Teremos atitudes fortes na minha área. Para o emprego, a reação mais rápida é na construção civil porque ela absorve profissionais sem especialização", justificou.

Por outro lado, Lupi admitiu que, na indústria, o quadro é mais complexo porque há mais variação e as medidas de apoio envolvem os ministérios do Trabalho, da Fazenda, da Previdência e a Casa Civil. Ontem, antes de divulgar os números do Caged em dezembro, o ministro encontrou-se com o presidente Lula. Revelou que, no Palácio do Planalto, a preocupação é grande e que medidas estão sendo estudadas, mas a desoneração da folha de pagamento não está entre elas. Ele pediu a redução de tributos para alguns setores.

Lupi reconheceu que preocupa a perda "sistêmica" de empregos em três setores: calçados, madeira/móveis e borracha/fumo/couros. Neles, 2008 foi encerado com saldos negativos. Nas indústrias de madeira/móveis o resultado entre contratações e demissões foi negativo em 12.857 vagas. Depois, vêm calçados (8.703) e borracha/fumo/couros (2.899). O ministro comentou que podem ser decididas, "caso a caso", ampliações das parcelas do seguro desemprego. Normalmente, esse benefício vai de três a cinco parcelas, mas a lei prevê até dois pagamentos adicionais.

Outra decisão de governo muito esperada é a redução na taxa de juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anuncia sua decisão amanhã - a meta da taxa Selic está em 13,75% ao ano - e Lupi disse ter certeza que será reduzida. Mas alertou para o fato de os bancos terem de acompanhar esse movimento e baixarem o custo do crédito.

Otimista, Lupi garantiu que o Brasil "não viverá momentos mais graves do que já viveu" e informou que o foco das políticas públicas de emprego, segundo o ministro, é a indústria. No caso das montadoras de veículos, afirmou que a redução do IPI deu certo porque as vendas da primeira quinzena de janeiro já são praticamente as mesmas do mesmo período de 2007. Para o resto da indústria, disse que Lula recebeu dados e começa a estudar medidas setoriais. Se janeiro e fevereiro serão fracos na geração de emprego, o ministro do Trabalho acredita que a recuperação mais forte começará em março. Ele mantém sua projeção de um saldo de 1,5 milhão de empregos no Caged em 2009.

Para o economista da LCA Consultores Fábio Romão, os resultados preocupam porque as demissões superaram a abertura de postos de trabalho temporários. "O resultado mostra que houve redução no número de vagas efetivas", avaliou. Ele estima mais cortes em janeiro e fevereiro, sobretudo na indústria e na construção civil. Para o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, Manuel Enriquez Garcia, as expectativas para o emprego em janeiro e fevereiro são piores para a indústria porque o comércio não vai renovar os estoques. O economista prevê ainda agravamento do desemprego na construção civil, devido à escassez de crédito. (Com Folhapress)