Título: Reunião de chanceleres prepara nova viagem de Lula à China
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2009, Brasil, p. A4

Após visitas presidenciais mútuas, acordos de cooperação, um grupo de alto nível e outras iniciativas para reafirmar a "aliança estratégica" entre os dois países, Brasil e China fazem um esforço, neste ano, para dar resultados concretos à aproximação entre os governos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltará à Pequim no primeiro semestre, talvez em abril, acompanhado de uma comitiva de empresários, após uma série de encontros entre altos funcionários brasileiros e chineses programados para o início do ano, segundo informou o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim.

No primeiro desses encontros, Amorim recebeu ontem o ministro de Relações Exteriores da China, Yang Jiechi, com quem discutiu, segundo relatou o chanceler chinês, apoio daquele país a investimentos no Brasil em infra-estrutura, energia e agricultura. Yang Jiechi confirmou que o banco de desenvolvimento da China negocia financiamento a "instituições financeiras" do Brasil, conforme noticiou ontem o Valor, que revelou as conversas com o BNDES para financiar parte dos R$ 100 bilhões em desembolso previstos neste ano em financiamentos do banco.

"Acredito que, no futuro, vamos ver resultados cada vez maiores dessa cooperação financeira", comentou o diplomata chinês, lembrando que a China ingressou recentemente como sócia do Banco Interamericano de Desenvolvimento, outra fonte de financiamento importante do governo brasileiro. Amorim apontou o financiamento para a fabricação de óleo de soja no país, e à indústria e pesquisas de etanol combustível e energia renovável, como setores com grande potencial de cooperação para os dois países.

Os dois chanceleres falaram apenas em termos genéricos ao tratar dos contenciosos comerciais entre os dois países (que, como lembrou Amorim, são tratados por outros ministérios, nos dois países). Segundo Yang Jiechi, eles concordaram em aprofundar a coordenação entre os governos para evitar medidas protecionistas.

O embaixador da China no Brasil, Chen Duqing, à saída, classificou de "exagero" os temores de uma "invasão" de produtos chineses competidores das indústrias têxteis, siderúrgicas e calçadistas. "Os dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que 50% das importações vindas da China é de máquinas e equipamentos para a indústria", argumentou.

Yang Jiechi, em tom otimista, garantiu que o governo chinês aposta num crescimento de 9% neste ano (no mercado, há previsões de que o crescimento na China cairia para até 6% ou menos). As medidas de estímulo ao consumo em setores como o automotivo e à construção civil na China serão capazes de manter alta a demanda por aço e outros produtos, previu.

"Temos de adotar uma atitude proativa para intensificar o comércio e investimento na China e no Brasil", defendeu. "A economia da China foi afetada pelos impactos da crise financeira internacional, mas, de modo geral, anda bem e o governo tem feito medidas para aumentar o consumo interno numa cifra de cerca de U$ 500 bilhões", disse o diplomata.

No mesmo tom, Amorim comentou que a China provoca "fascínio" e "temor" pelas características de sua economia. "Queremos colocar mais ênfase no fascínio, na atração que a China possa representar", disse. Amorim comentou que as negociações com a China devem permitir um acordo sanitário que abrirá, "em breve", mais mercado no país para exportações de carne e alimentos do Brasil.

A delegação chinesa confirmou que impedimentos ambientais foram os maiores responsáveis pelo cancelamento dos investimentos na siderúrgica que a chinesa Baosteel pretendia fazer, em associação com a Vale, no Maranhão, e, depois, no Mato Grosso - fiasco que a Vale atribuiu às condições negativas do mercado de aço mundial. "Foram sete anos de tentativas", disse Duqin para Amorim. O chanceler chinês afirmou, porém, que não estão descartados futuros investimentos em siderurgia da China no Brasil. "Acho que a cooperação siderúrgica será aumentada."