Título: Lula espera melhor momento para confirmar candidatura a Dilma
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2009, Política, p. A5

Governistas, oposicionistas e boa parte da população sabem que a candidata preferencial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2010 é a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff. Mesmo assim, o presidente Lula insiste em repetir que ainda não teve uma conversa definitiva com a ministra, em que diria que ela é, de fato, sua candidata oficial. Mais do que um mero capricho, Lula sabe que para tudo há um timing político. Caso confirmasse Dilma como candidata com muita antecedência, ele fecharia a porta para o diálogo com outros partidos aliados, tornaria a ministra vidraça de vez e paralisaria seu governo. E mais ainda: lançaria um candidato em um ano no qual existe a possibilidade de queda de sua popularidade.

Um ministro muito próximo do presidente lembrou que, apesar de todos os esforços do governo e dos bons fundamentos da economia, 2009 ainda é uma incógnita para o Brasil, por causa da crise financeira internacional. Lula sabe que seu principal aliado, o PMDB, é também uma das legendas de comportamento instável, pois tende a se aproximar ou afastar de aliados ao sabor das circunstâncias. Se Lula lançar o debate sucessório antes de saber qual a força real do governo no início da campanha, algo que deve ser deflagrado a partir do segundo semestre, pode amargar a frustração de ver o maior partido do Congresso correr para os braços do PSDB.

Por enquanto, o PMDB mantém os sinais de lealdade. Não perde, contudo, a oportunidade de fazer brincadeiras subliminares quanto à inexperiência da ministra em disputas eleitorais. Quando o nome de Dilma começou a ser cogitado, o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presenteou-a com um bambolê, para que ela "tivesse mais jogo de cintura nas negociações".

Ao mesmo tempo, setores da legenda flertam com o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), ora propondo uma filiação do tucano, ora declarando amor eterno ao neto de Tancredo Neves, onde quer que ele esteja. E outros pemedebistas não escondem o anseio de apoiar José Serra em 2010, a exemplo da parceria já inaugurada pelo diretório paulista, presidido por Orestes Quércia.

Sabedor de tudo isso, Lula adia a definição para não dar argumentos definitivos para quem está à sua volta. "Sem Dilma como candidata oficial, você deixa o espaço livre para todas as legendas debaterem o que quiserem", afirmou um ministro. "Desde candidaturas próprias até pretensos candidatos a vice".

Aliados de Dilma apostam na liturgia do cargo. Uma conversa presidencial com sua principal ministra tem um valor simbólico demais para ser feita de afogadilho. No caso de Lula, isso ganha contornos ainda mais acentuados. "O presidente tem uma relação muito própria e peculiar junto aos seus companheiros. Isto não pode ser desconsiderado".

Um petista próximo ao presidente acredita que Lula, apesar da preferência explícita de Dilma, ainda está testando a viabilidade política de sua pupila. "Dilma tem sorte de que não existem outros nomes dentro do PT para concorrer com ela. Lula sabe que Dilma é uma ótima gestora, mas ainda não é uma líder reconhecida. É esse papel que ela precisa aprender a desempenhar ao longo deste ano".

Batizada de mãe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), principal programa de investimentos do governo federal, Dilma passou 2008 viajando ao lado de Lula. Começou a fazer discursos políticos e, no fim do ano passado, a participar de debates com partidos políticos e entidades sindicais. Neste início de ano, inovou ainda mais: fez uma plástica que lhe tirou rugas do rosto, mudou o corte de cabelo e abandonou de vez os óculos, substituindo-os por lentes, uma estratégia que já adotara em algumas aparições oficiais ainda em 2008.

Leonel Brizola, um dos mais argutos políticos do país, morto em 2004, costumava dizer que "se tem olho de gato angorá, pelo de gato angorá e rabo de gato angorá, não há discussões: é um gato angorá". Para o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), Lula faz um jogo dissimulado ao não confirmar oficialmente Dilma como sua candidata. Dissimulado, mas, ao mesmo tempo, brilhante. "Ele nos deixa livre para debate nomes internos para a disputa futura. Não cria constrangimentos para seus aliados", explicou Casagrande.