Título: Indústria despenca e indica queda do PIB
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 07/01/2009, Brasil, p. A3
A produção industrial levou um forte tombo em novembro, sacramentando a expectativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre vai encolher em relação ao terceiro - uma queda entre 0,5% e 1% é considerada bastante provável pelos analistas. Na comparação com outubro, a indústria recuou 5,2% na série com ajuste sazonal, o pior resultado desde a baixa de 11,2% de maio de 1995. O mercado esperava uma redução de 3% a 4%. No bimestre outubro-novembro, a produção caiu 7,9%, voltando ao nível de maio de 2007, o que evidencia a magnitude do impacto da crise global sobre a atividade econômica. De janeiro a novembro, a indústria acumula alta de 4,8%, um número bem menor que os 6% de janeiro a outubro.
Com a avaliação dominante de que o desempenho de dezembro também foi ruim, os analistas revisaram para baixo as previsões para o crescimento da produção industrial em 2008. A expectativa agora é que a expansão será inferior a 5%, e há quem preveja alta de 4%. Em 2007, o avanço foi de 6%.
Além de expressiva, a queda em novembro foi generalizada, como nota o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Das 27 atividades industriais pesquisadas pelo IBGE, apenas 6, ou 22,2%, tiveram alta em relação ao mês anterior, na série livre de influências sazonais. Segundo a LCA, esse percentual é o menor desde os 21,7% de outubro de 2001, mês seguinte aos atentados de 11 de setembro e no ano do apagão de energia. "O resultado de novembro mostra um quadro de acentuação da queda e o alargamento dos setores atingidos. Essa redução começou em outubro e se aprofundou no perfil dos setores", diz Silvio Sales, coordenador de indústria do IBGE.
O recuo mais significativo ocorreu no segmento de bens duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos), cuja produção caiu 20,4%. Sofrendo o impacto das férias coletivas concedidas pelas montadoras e da contração do crédito, a fabricação de veículos teve recuo de 22,6%, o maior desde o início da série histórica, em 1991.
Os outros segmentos tampouco foram poupados. A produção de bens de capital caiu 4%, enquanto a de bens intermediários (insumos e matérias-primas para a indústria) registrou baixa de 3,9%. Foi a quarta redução consecutiva do setor de intermediários, que passou a acumular tombo de 9,6% entre julho e dezembro. Quem menos sofreu foram os segmentos de semi e não-duráveis (como alimentos e vestuário), com queda de 0,7%.
O resultado também foi bastante fraco em relação a dezembro de 2007. A produção industrial recuou 6,2%, interrompendo uma série de 28 altas seguidas nessa base de comparação. Apenas o segmento de bens de capital teve alta por esse critério, de 3,6%. Para a economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados, "a inércia nesse ramo de atividade é bem maior do que dos demais". Ela acredita, porém, que "o segmento deve começar a mostrar de forma mais decisiva os efeitos da crise a partir do primeiro trimestre". A economista Giovanna Rocca Siniscalchi, do Unibanco, concorda com Thaís, observando que o segmento de bens de capital deve sofrer nos próximos meses o impacto dos cortes dos planos de investimentos feitos por várias empresas.
Além do fraco resultado de novembro, as primeiras informações sobre a atividade em dezembro não são das mais alentadoras, segundo Borges. Ele chama atenção para o aumento do número de empresas que reclamam de estoques excessivos, retratado na sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV): em novembro, 15,7% informaram que os inventários estavam acima do desejado, percentual que subiu para 21% em dezembro, o nível mais elevado desde julho de 2003.
"Mesmo com a queda fenomenal da produção em novembro, os estoques aumentaram", afirma ele, que também considerou fracos os dados de consumo de energia elétrica e da Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave) do mês passado. Na comparação com novembro, com ajuste sazonal, o consumo de energia caiu 2% e o emplacamento de veículos ficou estável, segundo seus cálculos. Borges estima que, em dezembro, a produção industrial caiu 1,7% em relação ao mês anterior. Ele revisou a projeção de expansão para a indústria em 2008 de 4,8% para 4%. Thaís, da Rosenberg, acha mais provável um número próximo da estabilidade para a produção em dezembro. Para o ano, ela reduziu a projeção de 5,2% para 4,7%.
Com previsões tão negativas para a indústria, os economistas rebaixaram suas estimativas para o PIB no quarto trimestre e em 2008. Borges passar a apostar que, entre outubro e dezembro, o PIB registrou queda de 1% sobre os três meses anteriores - antes, esperava estabilidade. Para o PIB de 2008, a estimativa caiu de 5,8% para 5,5%. Ele considera provável que o PIB tenha um primeiro trimestre de 2009 ruim, com nova queda em relação ao anterior. Isso configuraria uma "recessão técnica", com recuo por dois trimestres consecutivos.
O estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, também rebaixou sua previsão para o PIB do quarto trimestre. De estabilidade, ele passou a crer numa contração de 0,6% No caso do PIB de 2008, reduziu a projeção de 6% para 5,7%.
O resultado da indústria intensificou a expectativa de que o Banco Central vai cortar os juros já a partir deste mês. Lintz acredita em corte de 0,5 ponto, enquanto Marcos Ross, da MCM Consultores, aposta suas fichas numa redução de 0,75 ponto, dada a magnitude da desaceleração da economia.
Fontes ligadas à autoridade monetária, porém, têm uma visão mais benigna sobre a atividade. Lembram que o recuo de novembro já era esperado, atribuindo o tombo principalmente à queda da produção de veículos e aos seus efeitos sobre a confiança no resto da economia. Nesse cenário, várias empresas passaram a dar férias coletivas e a fazer paralisações para manutenção das plantas. Números de dezembro já mostrariam alguma melhora, como os emplacamentos de automóveis da Fenabrave, que subiram 11,54% sobre novembro (na série sem ajuste sazonal). O crédito também teria começado a reagir, respondendo às medidas tomadas pelo BC. (Com agências noticiosas)