Título: Mercosul só atrapalha negociações, reclama a indústria e a agricultura
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Fonte: Valor Econômico, 07/01/2009, Brasil, p. A5

Com os ânimos abalados pela crise internacional, que deve atingir duramente as exportações brasileiras, os empresários voltam a reclamar da principal prioridade da política externa brasileira, o Mercosul. Para representantes da agricultura e da indústria, o bloco sul-americano representa uma "amarra" para o Brasil nas negociações internacionais e deveria ser repensado.

"É muito difícil negociar acordos bilaterais com o Mercosul amarrado no nosso pé", disse Matheus Zanella, assessor de comércio exterior da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Matheus Zanella. O setor agrícola brasileiro ainda culpa a reticência da Argentina pelas frustradas tentativas de selar um acordo com a União Européia.

Como formam uma união aduaneira, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai só podem negociar acordos de livre comércio em conjunto. A preocupação dos países é não ferir a já combalida Tarifa Externa Comum (TEC) para importação de produtos. A Venezuela está em processo de adesão ao grupo e os empresários temem que a entrada do país do presidente Hugo Chávez prejudique ainda mais as negociações.

Para o representante da agricultura, o Brasil deve procurar saídas criativas para o impasse, como seguir negociando em conjunto, mas apresentar listas separadas de ofertas de redução de tarifas. Ele reconhece que isso pode abalar a TEC, mas diz que a tarifa externa comum já é cheia de exceções.

"O setor industrial brasileiro sempre foi o vilão das negociações, mas está mais ofensivo. A agricultura brasileira é prejudicada agora pelo protecionismo da indústria argentina. Isso não é justo", disse Zanella. A indústria brasileira também não está satisfeita com o Mercosul e mesmo setores protecionistas começam a reclamar.

Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), disse que vai propor ao governo uma avaliação dos ganhos e das perdas do Mercosul. Para ele, o país precisa discutir as vantagens da união, que possui uma tarifa de importação comum, e da área de livre comércio, que prevê apenas livre circulação de mercadorias.

"É hora de repensar o bloco", disse Barbato. Segundo ele, a indústria brasileira também está preocupada, pois o país perde acordos de livre comércio devido à posição mais conservadora da Argentina. "Precisamos tirar o componente político dessa questão do Mercosul e avaliar o lado econômico. Os interesses podem se modificar ao longo do tempo." (RL)