Título: Exportador espera recuo de 31% na balança
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Fonte: Valor Econômico, 07/01/2009, Brasil, p. A5

O superávit da balança comercial deve recuar 31% em 2009 em relação a 2008, para US$ 17,1 bilhões, conforme previsão divulgada ontem pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). A entidade, que chegou a cogitar déficit este ano, considera o "resultado bom" em um cenário de crise econômica global. O dado supera os US$ 14,5 bilhões previsto pela média das instituições financeiras ouvidas pelo Banco Central para o boletim na semana passada.

A AEB prevê queda tanto nas exportações quanto nas importações do país. Segundo José Augusto de Castro, vice-presidente da entidade, a corrente de comércio deve diminuir 16,7%, para US$ 309 bilhões, o equivalente a apenas 24,8% do Produto Interno Bruto (PIB), reduzindo a abertura da economia brasileira. "É como se tivéssemos regredido no tempo", disse Castro. "O superávit reduz a vulnerabilidade externa, mas é a corrente de comércio que gera atividade e emprego."

As vendas externas devem recuar 17,6% este ano, para US$ 163 bilhões, conforme a entidade que representa os exportadores. Castro atribui o pessimismo à previsão de preços das commodities abaixo de 2008, caso de minério de ferro, soja e petróleo. As projeções apontam que as exportações dos produtos básicos podem cair quase 22% este ano. Nos manufaturados, a queda deve ser um pouco menor, 13%. O especialista afirma que as exportações de produtos que dependem de crédito, como automóveis e aviões, serão bastante afetadas.

A AEB projeta queda de 15,7% nas importações, para US$ 146 bilhões. De acordo com especialista, dois fatores vão influenciar esse resultado: o menor crescimento da economia brasileira e a desvalorização do real. "O câmbio vai contribuir mais para a redução das importações do que a atividade", acredita Castro. Ele também prevê que o drawback verde amarelo (novo incentivo tributário do governo para insumos nacionais) também vai desestimular as compras externas.

Com o PIB crescendo menos, a tendência é uma redução no ciclo de investimento. Segundo a AEB, as importações de bens de capital podem cair 14%. Para matérias-primas e bens intermediários, a previsão é de queda de 9,4%. Outro impacto negativo virá do preço das commodities, principalmente do petróleo. A AEB projeta queda de 34% na importação de combustíveis.

Castro ressalta, no entanto, que a incerteza e a volatilidade dos mercados doméstico e internacional prejudicam as previsões dos reflexos da crise e podem alterar a balança. Se a economia interna resistir bem à crise, por exemplo, as importações vão cair menos, e o superávit será menor. "O cenário está mudando muito rapidamente', disse. (RL)