Título: Chile anuncia pacote e terá déficit recorde
Autor: Uchoa , Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 07/01/2009, Internacional, p. A7

A presidente do Chile, Michelle Bachelet, anunciou ontem um pacote de estímulo à economia de US$ 4 bilhões. Com isso, o país deve ter o maior déficit fiscal desde a redemocratização, no início dos anos 90, e o primeiro em seis anos. O plano foi bem recebido por empresários chilenos e analistas.

O pacote inclui investimentos extraordinários de US$ 700 milhões em obras públicas, além de cortes de impostos, repasses para famílias de baixa renda e subsídios para a criação de empregos. O governo vai ainda investir US$ 1 bilhão na estatal de cobre Codelco.

Segundo o ministro da Fazenda, Andrés Velasco, a aplicação do plano deve resultar num déficit fiscal de 2,8% do PIB, o maior desde o fim da ditadura Pinochet, em 1991. Por outro lado, ele estima que vá resultar também na criação de ao menos 100 mil novos empregos.

Bachelet terá de rever a meta fiscal de equilíbrio ou superávit fiscal de até 0,5%. Ela disse que o país precisa do estímulo já "e não de algo que tenha impacto no fim de 2009 ou em 2010, pois o problema internacional tem efeitos agora".

Para Rodrigo Valdes, economista-chefe para a América Latina do Barclays, "a meta fiscal não pode ser aplicada automaticamente, pois não funciona numa crise dessa magnitude", disse à agência Bloomberg. "O Chile tem capacidade de gerenciar esse déficit porque fez uma poupança prévia." O país teve superávit fiscal de 8,8% em 2007 e, estima-se, de cerca de 8% em 2008.

O presidente da Confederação de Produção e Comércio do Chile, Rafael Guilisasti, apoiou o pacote do governo. "[O empresariado] chegou ao mesmo diagnóstico do governo: a crise mundial é forte e vem produzindo desequilíbrios que esse pacote combate de forma correta", disse ao Valor.

Guilisasti espera que o Chile consiga crescer de 2% a 3% no ano que vem, previsão mais ou menos em linha com a do governo. "Temos de ser realistas. A crise vai nos atingir, mas essas medidas parecem bem feitas para combater previamente os seus possíveis efeitos."

O presidente da Câmara de Construção Civil, Lorenzo Constant, disse que o pacote vai ajudar todas as empresas ao cortar o custo da concessão de crédito.

A produção industrial do Chile teve contração de 5,7% em novembro, a maior desde que o país saiu de sua última recessão, em 1999. A venda de bens duráveis caiu 24% naquele mês, enquanto os preços tiveram queda pela primeira vez em 21 meses.