Título: Safra de cana do Nordeste deve recuar até 6%
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 07/01/2009, Agronegócios, p. B9

A colheita de cana no Nordeste do país prometia um volume robusto de 65 milhões de toneladas, considerado um marco para a região, que nos últimos anos sofreu revés com a seca. E tudo parecia perfeito: um ótimo regime de chuvas durante esta safra e produtividade acima da média. No entanto, com a crise financeira global, os produtores de cana, boa parte pequenos e médios, reduziram drasticamente a aplicação de insumos nos canaviais.

"Nossa expectativa agora é de que a colheita fique entre 61 milhões e 63 milhões de toneladas", afirmou Renato Cunha, presidente do Sindicato das Indústrias de Açúcar e Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar/PE). Se confirmadas as estimativas, será uma queda de até 6% sobre a temporada anterior. "Nosso recorde foi na safra 1986/87, quando a colheita atingiu 71 milhões de toneladas", disse.

O Nordeste representa atualmente cerca de 15% da produção nacional de cana. Nesta safra 2008/09, que na região vai de setembro a março, a produção de açúcar deve ficar em 4,9 milhões de toneladas e a de álcool em 2,3 bilhões de litros. "Cerca de 62% da produção de açúcar da região será exportada. Os embarques de álcool devem ficar em 550 milhões de litros", afirmou.

Nesta safra, o consumo mensal de álcool combustível subiu em média 20%, para 200 milhões de litros, segundo Cunha. A alta reflete os preços mais atraentes do álcool em relação à gasolina.

Analistas consultados pelo Valor afirmaram que, apesar da crise financeira, que atingiu em cheio o setor sucroalcooleiro por conta da limitação de crédito, as usinas da região deverão se beneficiar mais da valorização do dólar e da recuperação internacional dos preços do açúcar que parte das empresas instaladas no Centro-Sul do país.

Na próxima semana, Cunha deverá ir a Brasília para discutir os leilões que deverão ser realizados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para a compra de 1,8 milhão de sacas de 50 quilos de açúcar da região. Essa medida faz parte de um pacote de ajuda anunciado pelo governo federal para socorrer os pequenos e médios fornecedores de cana daquela região. Nesse mesmo pacote, o governo concederá um subsídio de R$ 5 por tonelada de cana, caso o valor de mercado não atinja R$ 40,92, com um limite máximo por produtor de R$ 50 mil.

"As usinas sucroalcooleiras da região continuam trabalhando para aumentar a produtividade dos canaviais, que hoje está em 67 toneladas por hectare. Há muito espaço para avançar [na região Centro-Sul a produtividade média chega a 100 toneladas por hectare]", afirmou Cunha.