Título: Batalha para ficar no DEM
Autor: Araújo, Saulo ;Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 22/02/2010, Cidades, p. 31

Paulo Octávio muda estratégia em relação à desfiliação. Vai tentar convencer partido a aguardar decisão sobre habeas corpus de Arruda

Independentemente de ele ser do DEM ou não, Paulo Octávio reúne as condições de um excelente administrador. É o nome ideal para governar nossa cidade¿ Eliana Pedrosa, deputada distrital (DEM)

Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 30/11/09

A situação política independe da jurídica. Vários políticos já perderam o mandato e foram absolvidos na Justiça. Se ele ficar, vamos buscar a expulsão¿ Demostenes Torres, senador (DEM-GO)

Após desistir da renúncia e continuar à frente do Buriti sem apoio da base governista aliada na Câmara Legislativa, o governador em exercício Paulo Octávio buscará nas próximas horas se viabilizar no Democratas pelo menos até o julgamento do habeas corpus de Arruda no STF, marcado para quinta-feira. Paulo Octávio vai tentar convencer o partido para que aguarde a decisão do Supremo.

Trata-se de uma mudança de estratégia. Na semana passada, Paulo Octávio an unciou, por meio do secretário de Comunicação, André Duda, que o pedido de desfiliação seria entregue ao DEM hoje. Ele já teria falado por telefone com o líder do DEM no Senado, Agripino Maia, na semana passada, para comunicar a decisão de que sairia.Mas a perspectiva do julgamento no STF modificou os planos do governador em exercício.

¿Neste momento o que eu mais peço é oportunidade de governar com o apoio do partido, o que é fundamental. Vou tentar novas conversas com os integrantes do DEM, antes de decidir pela desfiliação¿, disse Paulo Octavio, ao Correio ontem à noite.

Paulo Octávio enfrenta forte oposição de lideranças do partido, como a do senador Demostenes Torres (GO), que reivindica a saída do colega em nome da imagem do partido.

Demostenes disse ontem que a permanência de Paulo Octávio no DEM só causaria mais desgaste. ¿Não existe mais segredo sobre isso. Se ele decidir pela permanência, vamos pedir a expulsão. Não adianta contemporizar. Não existe mais clima¿, afirmou.

Questionado se o partido cogitava a hipótese de protelar a decisão de expulsá-lo, pelo menos até o julgamento dos pedidos de impeachment, Demostenes foi enfático. ¿A situação política independe da jurídica. Vários políticos já perderam o mandato e foram absolvidos na Justiça. Hoje, o partido não permite contemporizar. Qualquer pessoa suspeita deve deixar o cargo¿, afirmou.

Sobrevida

Alguns dos integrantes do Democratas podem ser convencidos a dar uma sobrevida a Paulo Octávio por pelo menos mais uma semana. O argumento é o de que seria menos desgastante para o partido esperar o julgamento do STF em relação ao pedido de habeas corpus impetrado pelos advogados de defesa de Arruda.Em uma eventual vitória do governador afastado no STF, a expulsão de Paulo Octávio teria sido uma punição desnecessária.

Acredita-se que na quinta-feira as atenções se desviem do governador em exercício e ele consiga apoio para administrar o Distrito Federal.

A deputada distrital democrata Eliana Pedrosa, cuja família mantém contratos milionários de prestação de serviços ao GDF, defende a permanência de Paulo Octávio na legenda. Mas ressalta que a discussão mais importante neste momento de crise não é voltada para o racha partidário. ¿Temos que tomar decisões pensando no melhor para Brasília. Paulo Octávio reúne as condições de um excelente administrador e é o nome ideal para governar nossa cidade¿, afirmou Eliana Pedrosa.

Mas não tem sido nada fácil para Paulo Octávio achar distritais dentro ou fora do seu partido dispostos a fazer a defesa incondicional por sua permanência. No último sábado, os distritais deram o tom de como está a situação do chefe do Executivo interino. Dos 24 deputados convocados para uma reunião na residência oficial do vice-governador, no Lago Sul, apenas cinco toparam revelar suas identidades. Em ano eleitoral, a maioria dos parlamentares teme depositar apoio ao político suspeito de fazer parte do esquema de corrupção demonstrado pela Operação Caixa de Pandora.

Encabulado, Lima vai à missa Janine Moraes/Esp. CB/D.A Press Presidente da Câmara, Wilson Lima fez apelo aos fiéis em igreja no Gama: ¿Rezem por mim, que eu vou precisar¿

¿Rezem por mim.¿ A frase foi repetida inúmeras vezes, na manhã de ontem, pelo presidente da Câmara Legislativa, Wilson Lima (PR), durante a missa na Paróquia São Sebastião, no Gama Leste, aos fiéis que o cumprimentavam. Muitos apostaram que Lima, frequentador assíduo das cerimônias dominicais, não iria comparecer ao templo após a entrevista que concedeu ao Correio, na última quinta-feira.

Na ocasião, confiante na renúncia de Paulo Octávio do cargo de governador em exercício do Distrito Federal, o parlamentar já falava como chefe do Executivo local, por ser o terceiro na linha sucessória do GDF, segundo a Lei Orgânica do DF. Mas foi surpreendido pelo discurso de Paulo Octávio, que garantiu que ficaria à frente do Buriti.

Uma senhora se surpreendeu ao vê-lo sentado no segundo banco da igreja. ¿Estava todo mundo falando que o Wilson não viria à missa, porque estaria com vergonha. Mas é um homem bom. Ainda bem que ele não deixou que isso atrapalhasse sua fé¿, comentou Rosa Maria de Oliveira, 64 anos.

Há razões para o deputado ficar apreensivo. Além do constrangimento causado pelas declarações precipitadas, Wilson Lima está preocupado com a sucessão do DF. Como revelou ontem o Correio, a Câmara Legislativa articula a aprovação de uma emenda à Lei Orgânica para eleger um governador-tampão até 31 de dezembro. O distrital não faria parte da lista de possíveis candidatos ao Buriti nesse contexto.

Amarras da Câmara

Enquanto durou a missa, Wilson Lima se manteve discreto. Ao lado da esposa, rezava e cantava os louvores e não deixou de comungar. No fim, quando abordado pela equipe do Correio, parecia encabulado. Em poucas palavras, quase deixou escapar o motivo que o levou a falar como governador. ¿Eu vi a carta, meu filho¿ bom, é melhor não falar nada agora. No momento certo, eu irei me pronunciar¿, encerrou o assunto. A carta a que ele se referia seria a escrita por Paulo Octávio (DEM), comunicando a saída do cargo de governador em exercício.

Apressado, o parlamentar aceitou apenas fazer uma breve explanação sobre a crise política sem precedentes no DF e garantiu que os trabalhos na Câmara não serão prejudicados. ¿Nós estávamos atravessando um período confuso, porque houve uma interferência judicial. Era e ainda é uma fase difícil, mas, no momento em que conseguimos soltar as amarras, a Câmara andou. Hoje, nós estamos fazendo todo o dever de casa. Está tudo encaminhado. Daqui para frente, o trabalho será ainda mais intenso¿, resumiu.

Morador do Gama desde os 15 anos, o goiano do município de Ceres foi eleito com quase 9 mil votos na última eleição. Este é o seu terceiro mandato. A primeira vez que assumiu uma das cadeiras da Câmara Legislativa foi em 1998, pelo PSD. A segunda experiência foi como suplente e, agora, após a crise deflagrada pela Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, chegou à Presidência da casa.

Na Paróquia São Sebastião, os católicos pareciam bem informados do momento delicado vivido por ele e não economizavam nas palavras de incentivo. (S.A.)