Título: China se junta ao clube de países sob risco de deflação
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Fonte: Valor Econômico, 12/12/2008, Internacional, p. A11
A forte queda da inflação na China eleva o risco de o país registrar deflação no ano que vem, segundo uma estimativa do Goldman Sachs e do JPMorgan Chase. Outras grandes economias do mundo se deparam com a mesma expectativa de pressão deflacionária.
A China informou ontem que o IPC anualizado ficou em 2,4%, em novembro, o menor em quase dois anos. O dado havia chegado a 8,7% no meio do ano. Os opositores a uma nova redução na taxa de juros por parte do BC chinês, "perderam seus argumentos", escreveu Yu Song, economista do Goldman Sachs em Hong Kong. Ele prevê redução de 2 pontos percentuais da taxa de juros no ano que vem.
Entre os principais sinais de que tanto os preços ao consumidor quanto os do produtor vão "resvalar para o campo negativo muito em breve" estão a desaceleração dos custos dos alimentos no varejo e a queda de mais de 30% dos preços do carvão, disse o relatório.
"Ao contrário de outros países, a disparada dos preços da China, no meio do ano, se deveu principalmente à escalada dos preços de alimentos, que agora cederam", disse Jing Ulrich, do JPMorgan de Hong Kong, em outro relatório. "Há mais espaço para o BC afrouxar a política monetária, no esforço de evitar uma desaceleração excessiva e de combater a deflação."
Em outros países, a possibilidade de deflação também chama a atenção de autoridades e analistas. Para Tony Tan, vice-presidente do fundo soberano de Cingapura, que administra mais de US$ 100 bilhões, há o risco iminente de "um ciclo deflacionário" na maior parte das economias desenvolvidas.
No Japão, os últimos dados mostram que os preços no atacado caíram 1,9% em novembro, na comparação com outubro. Em relação a setembro, outubro havia registrado um declínio de 1,4%.
A economia japonesa se contraiu no terceiro trimestre mais do que esperado, o que levou alguns economistas a prever que a deflação pode voltar ao país.
O IPC japonês vem declinando em termos anualizados desde julho. O núcleo do IPC, que exclui alimentos e é a ferramenta preferida do Banco do Japão (BC) para medir a inflação, desacelerou também nos últimos dois meses. Segundo Masaaki Shirakawa, presidente do banco, "a situação dos preços mudou drasticamente" e a inflação ao consumidor "pode se tornar negativa logo" no próximo ano fiscal, que começa em abril.
Toshihiro Nagahama, economista-sênior do instituto de pesquisa Dai-ichi, é mais assertivo: "Acredito que a economia japonesa cairá de novo em uma severa deflação no próximo ano fiscal".
Na zona do euro, o IPC anualizado vem caindo desde julho também: de 4% naquele mês para 2,1% em novembro. "O fantasma da deflação pode voltar a nos assombrar nos próximos meses", disse Joerg Kraemer, economista-chefe do Commerzbank, em Londres.
Nos EUA, o IPC também vem caindo desde o mês de julho, quando chegou a 5,6% - em outubro, recuou para 3,7%. John Herrmann, presidente da Herrmann Forecasting, disse que "a retração generalizada dos preços nos EUA mostra que a inflação foi contida e que a deflação está se instaurando". "Isso dá munição ao Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) para continuar cortando os juros."
No Reino Unido, a inflação recuou em outubro mais que o previsto, na maior desaceleração em 11 anos. O IPC subiu 4,5% em relação ao mesmo mês do ano passado, contra alta de 5,2% em setembro. O temor de inflação "é água passada", segundo Matthew Sharratt, economista do Bank of America de Londres. Ele acha que a deflação pode atingir o país já no primeiro semestre de 2009.
Na Rússia, o IPC vem declinando desde setembro, apesar de ainda se manter num nível elevado, acima de 8%. Mas o presidente russo, Dmitri Medvedev, disse que a deflação está se tornando uma grande preocupação para os outros países, e não para seu país. Para ele, a desaceleração da inflação russa "não é assim tão má".