Título: PMDB aposta que Sarney aceita apelo de Lula para disputar mesa do Senado
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2009, Política, p. A8

Tão logo retorne das suas férias em Fernando de Noronha (PE), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve reunir-se com a cúpula do PMDB e os seis ministros do partido. Lula vai chamar o maior partido da coalizão que o apóia para tentar um entendimento sobre a sucessão nas Mesas Diretoras do Congresso. O encontro foi acertado antes das festividades de fim de ano, em reunião do presidente com o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO). Ruy Baron / Valor

Sarney: senador pelo PMDB do Amapá vai esgarçar a situação ao máximo e só será candidato se não houver alternativa

Raupp ainda fez uma outra sugestão ao presidente: antes de reunir-se com as principais lideranças do partido, Lula deveria fazer uma reunião em separado com o senador José Sarney (PMDB-AP) para saber se, de fato, ele não quer ser candidato à presidência do Senado.

Sarney na disputa ainda é uma incógnita. Oficialmente, o senador pemedebista tem repetido, diversas vezes, que não quer concorrer à presidência da Casa. Disse isso ao próprio presidente Lula, em conversa reservada no meio de novembro. Fez mais: em dezembro, declarou, perante a bancada, que apóia a candidatura do petista Tião Viana (AC).

Mas as reiteradas negativas não convenceram seus correligionários nem integrantes da oposição. Pelo Senado, a sensação de todos é que Sarney quer, sim, ser candidato. Mas mantém o estilo de fugir de disputas. Afirma que está em um outro momento da vida, prefere não se desgastar e buscar apenas o consenso. "Sarney é bala de prata (expressão folclórica que indica o mítico projétil, o único capaz de matar lobisomens), vai esgarçar essa situação ao máximo. E só será candidato se não houver outra alternativa melhor", disse uma fonte ligada ao partido.

Se Lula receia um PMDB forte demais comandando as duas Casas - a práxis congressual é que a maior bancada tem a primazia em indicar os presidentes da Câmara e do Senado - também se sente desconfortável com a possibilidade de disputas fratricidas em plenário. Mais de uma vez o presidente Lula disse que a falta de diálogo e capacidade de articulação levou à eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) em 2005, na maior derrota política de um governo em eleições para Mesas Diretoras do Congresso, mesmo o tendo redimido em discursos posteriores.

Mas uma conversa do presidente Lula e Sarney poderá mudar esse cenário? Especialistas em PMDB acham que não, pelo menos nesse momento. "Raupp quer jogar para o presidente a responsabilidade da conversa pois sabe que ninguém na bancada ousa pressionar Sarney. Mas Lula também é esperto o suficiente para fugir dessa tarefa", afirmou um político do PMDB.

Mesmo sem Sarney, há setores do PMDB no Senado que não desistem da primazia de ter um pemedebista comandando a Casa no biênio 2009-2010 e, por esta razão, incensaram a candidatura de Garibaldi Alves (RN). O atual presidente da Casa ampara-se em pareceres jurídicos sustentando sua pretensão, já que ele teria sido eleito para um mandato-tampão, o que permitiria que fosse reeleito. Dentre os incentivadores, o principal nome é do senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

Segundo pemedebistas, Renan não quer ver Tião Viana na presidência da Casa, mágoa que guarda desde que se licenciou da presidência e o petista - que assumiu interinamente - demitiu pessoas ligadas a ele. "Isso aqui é um clube de cavalheiros, diferente da Câmara. Hoje, Tião Viana está sendo mais hábil politicamente na construção da candidatura, mas carrega essa mágoa poderosa que Renan tem contra ele".

Integrante do clã Sarney, o deputado Gastão Vieira (MA) confirma que o líder do grupo político não quer presidir o Senado. Mas reconhece que o atual cenário de disputa pode respingar na Câmara, onde Michel Temer (PMDB-SP) é praticamente favorito. "Isso seria ruim. O PMDB do Senado sabe que Michel é fundamental para a coalizão governista". Se as duas Casas acabarem mesmo ficando com o PMDB, a bolsa de especulações fala em uma compensação para o PT na Esplanada dos Ministérios, com uma possível indicação de Tião Viana para a Pasta da Saúde, em substituição ao pemedebista José Gomes Temporão.