Título: Usiminas ajusta plano de expansão e investe para ampliar seu mercado
Autor: Ribeiro,Ivo
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2009, Empresas, p. B1
Há exatos sete meses, o engenheiro metalúrgico Marco Antônio Castelo Branco assumiu o comando da siderúrgica mineira Usiminas com carta branca dos acionistas. A missão era acelerar o crescimento da empresa, modernizar sua vetusta gestão, ainda com traços da época de estatal, e iniciar seu plano de internacionalização. A crise financeira global deflagrada em setembro interrompeu grande parte desse projeto, mas não arrefeceu o ânimo do executivo, que trocou uma confortável posição na fabricante francesa de tubos Vallourec pelo desafio de imprimir uma nova gestão na maior fabricante de aços planos do Brasil e explorar o máximo de potencial de valor dos seus ativos.
Ele foi apanhado em pleno vôo pela crise. "A partir de 15 de setembro tive de dançar no ritmo da nova música", diz. E tem tido que trabalhar muito mais do que imaginava que iria. O executivo já tinha deflagrado em julho um plano de investimentos de US$ 14 bilhões para a Usiminas até 2012, com vistas a atender a expansão da demanda no país e no exterior e recuperar mercados perdidos nos anos de bonança. Esse programa, agora, passa por ajustes, com alongamento do prazo de execução e com priorização dos projetos.
A nova usina de aço, em Santana do Paraíso (MG), por exemplo, terá a primeira fase, de 2,5 milhões de toneladas, feita dentro do prazo previsto, 2011, com aplicação de US$ 2,5 bilhões. Mas a segunda etapa já foi postergada em dois anos, para 2014. Na mineradora de ferro, adquirida em fevereiro, o projeto de expansão mais porto, de quase US$ 2 bilhões, só irá à apreciação do conselho daqui a um ano.
"A Usiminas precisa dessa primeira fábrica, que terá um aço de maior qualidade e com custo mais competitivo, para ampliar sua atuação em mercados mais exigentes, como tubos para petróleo, chapas revestidas para automóveis e material para indústria naval", afirma. Ela irá suprir novas linhas desses produtos em fase de construção, as quais devem ficar prontas até o fim do próximo ano. Na pior das hipóteses, se o mercado se mantiver ruim, o aço dessa usina substituirá o de outros altos-fornos em Ipatinga (MG), mais antigos.
Com a crise, o foco nos planos da Usiminas foi imediatamente redirecionado. Primeiro, para redução de custos e adaptação da oferta à nova demanda - a empresa estava vendendo 85% no mercado interno e as exportações travaram. "Iniciamos um programa para obter todo tipo de melhorias nas operações, o qual já identificou ganhos anualizados de R$ 200 milhões. Parece pouco mas representa 4% do Ebtida (resultado operacional)". A meta é capturar o máximo desses ganhos ao longo de 2009.
Castelo Branco está ciente de que este será um ano muito difícil. Ele prevê que a queda de 30% nas vendas do quarto trimestre comparado ao terceiro vai se repetir de janeiro a março. "Vivenciamos no país um movimento de retração preventivo que leva todo mundo a priorizar a queima de estoques e isso deve durar algum tempo".
Esse cenário fez a empresa adotar uma estratégia mais ágil para ampliar sua fatia no mercado doméstico, onde enfrenta o avanço da concorrência, principalmente da ArcelorMittal, além da disputa com a mais antiga rival, CSN. Com baixa dívida e um caixa na casa de US$ 2 bilhões, o primeiro movimento foi a compra há três semanas da Zamprogna, empresa do Sul do país que atua em distribuição e centro de serviços de aço e na fabricação de tubos para várias aplicações. Entre dinheiro e dívidas, o negócio somou R$ 565 milhões.
Essa operação, apesar de considerada cara por especialistas, segundo o executivo foi mais um passo na criação de um negócio bem maior, com enormes ganhos de sinergias e com raio de atuação ampliado no país. Assim, sob uma única gestão, a Usiminas quer ter maior controle dos canais de vendas de aço.
A Usiminas Soluções e Serviços almeja ser uma megadistribuidora de aço, com receita em torno de R$ 2,5 bilhões e vendas de 1 milhão de toneladas/ano - 25% desse mercado. Está prevista para ficar pronta antes do fim de março, com a união de quatro empresas: a controlada Dufer, Rio Negro, na qual tem 70%, Fasal (50%) e a Zamprogna. Só falta equacionar detalhes societários com parceiros japoneses e com a família com quem divide o controle da Fasal. Castello Branco não descarta outras aquisições, em especial no Nordeste.
Essa aquisição já é fruto de uma gestão mais dinâmica na empresa, admite o executivo, afirmação corroborada por um representante dos acionistas controladores - Nippon Steel, Camargo Corrêa, Votorantim, Vale e fundo dos empregados. Já está em vigor uma nova estrutura organizacional, mais enxuta. "Reduzimos em 40% o número de pessoas que dependiam do presidente para tomar decisões", informa Castello Branco, que substituiu Rinaldo Campos Soares, hoje no conselho, depois de 18 anos no cargo. Soares foi nomeado na época de estatal e permaneceu como presidente após a privatização.
Uma das primeiras ações foi criar uma diretoria de planejamento estratégico, fusões e aquisições, para a qual trouxe um profissional do setor financeiro. O processo de compra da Zamprogna já contou com o executivo dessa área, Ricardo Toledo. Para a diretoria de Recursos Humanos, que não existia, foi recrutada Denise Brum, a primeira mulher que se tem conhecimento a ocupar um cargo no alto escalão da Usiminas. "É a única pessoa que trabalhou comigo no grupo Vallourec que trouxe para cá". O executivo diz que essa diretoria terá a mais importante tarefa na empresa, a de preparar as pessoas para o período de transformações pelo qual passará a Usiminas.
Uma iniciativa foi a criação de um "banco de idéias". A participação dos funcionários foi massiva, informa, orgulhoso. "Recebemos 13 mil sugestões, das quais premiamos nove com medalhas de ouro, prata e bronze." Algumas já foram postas em prática e já estão surtindo ganhos para a Usiminas. "O objetivo foi estimular um maior comprometimento de todos e o empreendedorismo dentro de cada um".
Para implantar e gerir o que chama de sistema de gestão do conhecimento na empresa, foi também criada a diretoria de Pesquisa e Inovação. Com isso, quer desenvolver processos de produção mais eficientes e produtos que o mercado irá requerer no futuro.
Ao mesmo tempo em que deu nova cara às diretorias comercial, financeira e operacional, transformando-as em vice-presidências, mantendo e promovendo talentos da casa a esses cargos, Castello Branco introduziu na empresa um Comitê Executivo. Formado por 11 diretorias, incluindo RH, e presidido por ele, o Comex discute assuntos de alta relevância e busca agilidade para as tomadas de decisões. O comitê reúne-se duas vezes por mês. "Ali, cobro os resultados e discuto com cada líder de área as grandes decisões".
O próximo passo, para retratar as mudanças, será lançar uma nova marca para a Usiminas. "Vamos buscar um proposta estética que traduza a modernidade e agilidade que estamos imprimindo na empresa".