Título: Companhias brasileiras de TI começam a investir na África
Autor: Rahal , Manuela
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2009, Empresas, p. B2

Até pouco tempo atrás, o processo de internacionalização das empresas brasileiras de tecnologia da informação (TI) era marcada por rotas relativamente curtas - a estratégia, em geral, era começar pela Argentina ou o Chile, ampliando o escopo aos poucos, com ambições de alcançar o México. Agora, sem abrir mão desses destinos, várias companhias de TI estão atravessando o Atlântico. A nova fronteira é a África. Jefferson Dias / Valor

Alberto Leite, presidente da SupportComm: investimento de quase US$ 4 milhões para atuar em Angola e Moçambique

Entrar nos mercados de Angola e Moçambique é o primeiro passo na estratégia de internacionalização da SupportComm, provedora de serviços para telefonia móvel. Segundo Alberto Leite, presidente da empresa, a empreitada é facilitada pelo fato de não existirem competidores consolidados no mercado africano.

O início das operações, planejado para este ano, tem investimento previsto de quase US$ 4 milhões, feito pela própria empresa em parceria com um fundo de investimento africano. A expectativa é de que a investida comece a dar retorno em 2010. "Podíamos fazer uma operação maior, mas não queremos nos expor tanto ao risco", diz Leite. "Talvez no ano que vem façamos uma rodada de investimento mais forte".

Além de empresas de serviços, como a SupportComm, fornecedores de software, fabricantes de computadores e consultorias estão interessados na África. Os investimentos têm fluído principalmente para Angola e Moçambique por conta da língua, mas o conhecimento de tecnologia dos profissionais brasileiros - até cinco anos à frente dos quadros locais em alguns segmentos -, e a escassez de mão-de-obra local também são pontos favoráveis. "Os jovens angolanos estavam na guerra e o país não pôde formar pessoas capazes de desenvolver software", afirma Marcos Sobral, diretor de negócios internacionais da MV Sistemas.

A companhia já investiu cerca de R$ 1 milhão para ingressar no mercado angolano e estuda abrir um escritório no país. Devido à legislação local, Sobral diz que é mais vantajoso reinvestir no país africano do que remeter o capital para o Brasil. Em Moçambique, onde há restrições para a remessa de dólar, o cenário é semelhante, diz Leite, da SupportComm.

Outro ponto importante para atuar na África é obter contatos com empresas locais. A SupportComm teve uma experiência mal-sucedida ao tentar atuar por conta própria em Moçambique. Para tentar novamente, optou pela parceria com o fundo africano. Caminho semelhante tem sido trilhado por outras empresas.

A Totvs começou a atuar no continente africano há dois anos por intermédio de parceiros portugueses. "Desde então, nossa base de clientes em Angola e Moçambique não parou de crescer", diz Flávio Balestrin, diretor de operações internacionais da companhia. A previsão é de que as relações serão intensificadas em 2009, com a abertura de uma franquia em Angola.

A Unihealth, fornecedora de sistemas para a área de saúde, trabalha desde 2006 em conjunto com uma companhia de logística hospitalar, a Gesa Health, fundada por um brasileiro naturalizado angolano. A Gesa foi o contato para que o ingresso da Unihealth acontecesse no país. "Eles são bairristas no que diz respeito aos negócios", diz Mayuli Fonseca, diretora de novos negócios da Unihealth.

Apesar de não ter uma estratégia específica para atuar no mercado africano, a unidade brasileira da consultoria BearingPoint tem percebido uma crescente procura por parte de empresas portuguesas que não conseguem atender a demanda de projetos na África. "Estamos com uma demanda de 50 profissionais [para trabalhar com software da] SAP", diz Adriano Giudice, presidente da consultoria no Brasil. O interesse é de empresas européias interessadas em atuar no setor elétrico de Moçambique. Os primeiros trabalhos devem começar a ser feitos neste ano.

Para melhorar o relacionamento com os empresários brasileiros, o governo de Angola abriu em 2008 um escritório de representação comercial em São Paulo. "Nem todos os empresários têm coragem de explorar um mercado novo. A representação comercial tem a missão de facilitar esse processo", afirma Mateus Barros José, representante comercial de Angola no Brasil.

Além de um contato ou uma parceria, a abordagem da empresa que deseja participar do mercado africano é importante, diz Djalma Petit, diretor de mercado da Sociedade para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex). "Deve-se chegar à África com o discurso de compartilhar a experiência", diz Petit.

Em agosto do ano passado, a entidade organizou a visita de uma missão sul-africana ao Brasil para conhecer a capacidade das empresas no segmento de software e serviços. Desde então, já foram realizadas outras cinco ações conjuntas com a Softex. "Neste ano teremos um programa de visitas regulares à África do Sul. Será um ano de fechar contratos", afirma o executivo.

A Positivo Informática já tem representações em Angola e Benin para exportação de suas mesas educacionais - um equipamento que vem com um software desenvolvido pela própria Positivo para incentivar o aprendizado de crianças.

Até agora, dez escolas em Benin e cerca de vinte em Angola já usam o equipamento. "Esperamos fechar um projeto grande em 2009", afirma Juliano Fornasaro, gerente de vendas internacionais da divisão de tecnologia educacional da Positivo.