Título: Royal Bank of Canada abre no Brasil distribuidora de valores
Autor: Carvalho , Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2009, Finanças, p. C8
O Royal Bank of Canada (RBC) é um dos casos raros de banco estrangeiro que passou praticamente incólume pela crise internacional. Mesmo sendo o 13º maior do mundo em valor de mercado, teve até agora apenas US$ 2,7 bilhões em perdas com a crise internacional, uma conta que já supera os US$ 700 bilhões segundo a Bloomberg. O banco fechou o balanço do ano fiscal de 2008 em 31 de outubro com um lucro líquido de US$ 4,4 bilhões, no azul, embora com queda de 17% em comparação com 2007. Anna Carolina Negri / Valor
Castro Lima, gerente geral do RBC: "As pessoas estão ariscas, com o dinheiro estacionado em CDB e renda fixa, mas querendo se movimentar"
Esse quadro lhe deu segurança para implementar um ambicioso plano de expansão internacional pelos mercados emergentes, que começa exatamente com uma distribuidora de valores no Brasil, cujo alvo é a administração de recursos de terceiros.
"O banco precisava se expandir internacionalmente. Fez uma análise dos Bric e concluiu que o Brasil entre os demais do grupo, que inclui Rússia, Índia e China, apresentava as melhores condições de estabilidade política, econômica. Além disso, apresentava a vantagem de ser no mesmo continente e maior afinidade cultural. O Brasil é o primeiro mercado emergente onde o banco abre operações locais", disse José Luiz Sá de Castro Lima, gerente geral que trabalha do Royal Bank of Canada há sete anos, desde maio de 2001. Lima também supervisiona todos os escritórios da América Latina (além do Brasil, Argentina, México, Uruguai e Venezuela).
Para entrar no Brasil, o Royal Bank of Canada pensou em fazer aquisições, mas decidiu começar do zero. Lima não descarta no futuro alguma aquisição após ter a operação da distribuidora de valores consolidada. "É um plano de longo prazo. Começa com a distribuidora que deve se viabilizar mesmo com a crise porque trabalha em um nicho muito específico", afirmou.
Com o surgimento da distribuidora, aprovada pelo Banco Central (BC) no início de dezembro, Lima deixou as demais tarefas para se concentrar nas operações brasileiras, a distribuidora e o escritório de representação. Lima já montou algumas áreas como a retaguarda, compliance. Falta agora contratar os "advisers", especialistas em investimento. A partir deste mês, começa a abrir as primeiras contas de clientes. "As pessoas estão ariscas, com o dinheiro estacionado em CDB e renda fixa, mas querendo se movimentar", afirmou. Para ele, uma vantagem de começar a operar agora, apesar da turbulência internacional, é que os investidores estão "sedentos por informação". Outra vantagem é que o banco não tem perdas para justificar.
A meta era chegar a R$ 3 bilhões administrados em três anos, mas Lima admite que o valor terá que ser revisto. "Provavelmente teremos que rever essas projeções porque devemos crescer a uma velocidade menor."
O RBC resolveu começar do zero no Brasil e tem como alvo concorrer na área de administração de fortunas, fundos e assessoria de investimento. Lima não descarta uma aquisição mas acrescentou não ter nada em vista, no momento. "O banco está sempre aberto a ouvir propostas, mas não vai comprar só porque está barato. Há muita oferta dos Estados Unidos. O banco tem a disciplina de manter sua estratégia."
O alvo são pessoas físicas de alta renda, que tenham R$ 3 milhões a R$ 5 milhões para investir. A proposta é oferecer um tipo de assessoria de investimento que normalmente só está disponível para quem tem mais dinheiro para aplicar.
"É um nicho que não está bem atendido, uma espécie de private banking doméstico, com capacidade para oferecer alternativa de investimento em moeda nacional e regional. O contato será o mais próximo possível do investidor", disse Lima.
Será uma assessoria totalmente independente. Não terá fundo próprio nem metas de captação. Vai oferecer fundos de terceiros de renda fixa, renda variável e multimercados, e agir como assessor de investimento. Por isso é bastante importante a escolha da equipe de "advisers". O RBC também quer prestar assessoria na compra de ações, em parceria com corretora. "Uma das áreas de expansão pode ser uma corretora, que é complementar", indicou Lima.
Segundo o executivo, os critérios do banco para a seleção dos fundos a serem indicados aos clientes são rígidos e a monitoração constante. Facilita o trabalho o fato de haver no Brasil mais acesso a informação que nos Estados Unidos, disse o executivo, citando como exemplo a divulgação diária do valor da cota.
O RBC não tem interesse em prestar assessoria para investidores institucionais. Também não pretende entrar no varejo bancário. Lima é bastante claro a respeito: no primeiro caso, porque o mercado é muito congestionado e as margens são estreitas. No segundo, porque o mercado brasileiro está passando por um momento de consolidação e o RBC não tem interesse em comprar um banco local.
Lima explica que o Royal Bank of Canada foi pouco atingido pela crise internacional por dois motivos. Um deles é a forte regulamentação do mercado financeiro canadense. Os bancos de países com maior regulação como a Espanha e Canadá sofreram menos. Outro motivo é a estratégia do banco de manter sempre 75% dos negócios em operações tradicionais de banco, pelo seu espírito conservador.
Quando decidiu entrar na área de administração de recursos de terceiros no Brasil, o mercado brasileiro tinha a mesma capitalização que o canadense, cerca de US$ 1,4 trilhão. A indústria de fundos somava US$ 700 bilhões em patrimônio. Agora, os números são consideravelmente menores. O valor de mercado das empresas brasileiras caiu pela metade, para perto de US$ 600 bilhões.
O escritório de representação no Brasil também faz operações com dólares canadenses, oferece custódia internacional, mais serviços do que crédito. Sempre seu foco foi no financiamento ao comércio exterior.
O Royal Bank of Canada chegou a ter operações de varejo na América Latina, na Venezuela e Colômbia. Na década de 80 era um dos grandes credores da América Latina. Vendeu as subsidiárias na região, ficou só com representações e se concentrou no mercado doméstico, que passava por uma consolidação. E ganhou a liderança.
Na década de 90 voltou a buscar uma expansão internacional, priorizando os Estados Unidos e a Inglaterra. Nos Estados Unidos comprou uma das maiores corretoras e um banco comercial no Sudeste ; na Inglaterra, implantou um serviço de administração de fundos de pensão e operações estruturadas.
No Chile, tem uma representação e há dois anos montou um escritório voltado para operações internacionais para atender fundos de pensão que são autorizados a aplicar no exterior. Tem sucursais da RBC Dominion Securities no Chile, Panamá e Uruguai. Na Ásia, tem escritórios em Cingapura, Hong Kong, Mombay e Brunei.