Título: Captações em recorde de baixa
Autor: Lucchesi , Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2008, Finanças, p. C1

A quebra da Lehman Brothers em 15 de setembro congelou o crédito em dólar e, de uma hora para outra, os países emergentes foram duramente afetados. Começaram a faltar até mesmo linhas à exportação, o mercado de eurobônus desapareceu e os empréstimos sindicalizados - com a participação de vários bancos - deixaram de acontecer.

O resultado foi um último trimestre fraco em captações externas no mercado de dívida. No total, foram obtidos US$ 2,5 bilhões por governo, bancos e empresas do Brasil em outubro, novembro e dezembro, o mais baixo valor desde o último trimestre de 2002, em meio à crise eleitoral, quando o país captou US$ 1,8 bilhão, segundo o Valor Data. É uma queda de 24% com relação ao terceiro trimestre deste ano e de 76% na comparação com os últimos três meses do ano passado.

No acumulado do ano, o total foi para US$ 18 bilhões, o menor volume desde 2002, quando foram obtidos US$ 14,8 bilhões. Muitas das transações desembolsadas pelos bancos no último trimestre só aconteceram porque já estavam assinadas ou fechadas antes. Empréstimos com o seguro das agências de crédito à exportação e com a participação de organismos multilaterais foram e devem continuar a ser o destaque, pois reduzem o risco, a alocação de capital e ampliam o retorno para os bancos.

As perspectivas para o primeiro trimestre de 2009 não são muito animadoras. "O mercado de eurobônus em dólar deve permanecer fechado ainda por um bom tempo", diz Paulo César Souza, diretor comercial do Société Générale. Também os empréstimos sindicalizados com garantia firme de desembolso por um grupo de bancos líderes, que passam a distribuir o crédito para os demais, vão demorar um pouco mais para voltar.

"Os bancos pagam prêmio de risco de crédito muito díspares, que vão de 80 pontos básicos a 410 pontos básicos, e que oscilam muito de uma hora para outra", diz ele. Por isso, segundo ele, fica difícil calcular o custo de captação médio de diversas instituições financeiras que poderiam participar de um empréstimo sindicalizado.

Além disso, deve se manter por um bom tempo a baixíssima disponibilidade de capital para a realização de crédito em dólar, pois as maiores instituições ainda têm perdas para registrar. A desconfiança mútua entre os bancos também continua a dificultar o movimento no mercado interbancário, provocando anomalias e forçando atuação dos bancos centrais.

Já os empréstimos com participação de um grupo pequeno de bancos, os "club deals", tendem a se avolumar no início de 2009. "Há inúmeras transações sendo discutidas neste ano para desembolso em 2009", afirma Souza. Agora, os bancos já fecharam seus balanços deste ano e, após conseguirem ganhos no Brasil, preferem ficar parados e evitar nova exposição a risco.

Para o início de 2009, as instituições financeiras voltarão a pôr seus balanços para funcionar e poderão se unir em pequenos grupos para atender às maiores empresas. "A demanda é forte e a fila de operações é grande, mas o orçamento dos bancos está bem mais limitado", diz Ernesto Meyer, coordenador de financiamento para aquisições e operações sindicalizadas para a América Latina do BNP Paribas. Ele diz que no primeiro semestre muitas transações de "club deals" poderão acontecer, sempre com muita seletividade. "Os orçamentos serão gastos nos dois primeiros trimestres de 2009 e depois haverá um aperto maior", afirma.