Título: Produção na China cai e arrasta indústria pesada
Autor: Batson , Andrew
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2008, Empresas, p. B8

A queda na produção de aço da China, um importante indicador mundial para a indústria pesada, se aprofundou em novembro, fazendo com que a produção industrial do país tivesse o pior desempenho já registrado.

A China é o maior produtor e consumidor mundial de aço, e o declínio do setor está atingindo empresas cujo crescimento depende da alta produção desse segmento, desde companhias chinesas de eletricidade até grandes mineradoras como a Companhia Vale do Rio Doce e a Rio Tinto PLC, que produzem minério de ferro.

Os dados de novembro mostram bem a gravidade dessa retração. Em novembro, a produção de aço bruto no país caiu 12,4% em relação a um ano antes, para 35,2 milhões de toneladas. O nível é 18% inferior ao de outubro.

Atingida por esse declínio, assim como pela retração em outros setores, tais como a da indústria química, a produção industrial geral da China cresceu em novembro apenas 5,4% em relação a um ano antes. Em outubro, o aumento havia sido de 8,2% na comparação com 2007. O crescimento de novembro foi o mais baixo no mesmo mês desde que a China começou a registrar esse tipo de estatísticas, em 1994.

Nos últimos anos, a China conseguiu aumentar rapidamente sua produção de aço para suprir o mercado imobiliário, muito aquecido, e também as fábricas que produziam bens de exportação em ritmo acelerado. Agora que esses dois mercados entraram em queda acentuada, o aço é o setor mais atingido pela desaceleração da economia chinesa.

Por causa da importância do aço, o setor está sendo observado de perto, em busca de algum sinal de recuperação, ainda que até os otimistas opinem que a crise vá levar ainda meses para bater no fundo. O ministro da Indústria, Li Yizhong, disse na sexta-feira que o pior ainda está por vir. "Muitos fatores estão se combinando para causar um impacto muito forte no setor. Nossa previsão é que ainda não batemos no fundo, que o impacto continuará a aumentar em dezembro", disse Li.

Muitos economistas privados concordam com essa avaliação. A baixa na demanda de metais, os quais requerem enormes quantidades de energia para ser produzidos, está sendo sentida em todas as áreas da economia chinesa. Por exemplo, a produção de eletricidade caiu 9,6% em novembro em relação a um ano antes; em outubro, o declínio em relação ao mesmo mês de 2007 foi de apenas 4%.

O presidente Hu Jintao passou o último fim de semana visitando fábricas no cinturão industrial do nordeste do país, inclusive uma fábrica de aço. "Devido aos efeitos da crise financeira internacional, no ano que vem a situação dos empregos na China será muito séria", disse ele, segundo a agência de notícias oficial Xinhua. Isso reflete o fato de que a indústria pesada hoje desempenha um papel muito maior na economia chinesa.

"Nos últimos dez anos, uma grande parte dos investimentos foi para a indústria pesada. É esse setor que está agora sentindo o problema do excesso de capacidade e de estoques", disse Ben Simpfendorfer, economista do Royal Bank of Scotland.

Mas a indústria pesada também deve ser a maior beneficiária do programa governamental de investimentos, no valor de 4 trilhões de iuanes (US$ 584,4 bilhões), destinado a estimular a economia. Grande parte desse pacote irá para projetos de infra-estrutura, tais como ferrovias e aeroportos, que vão precisar de grandes quantidades de aço e cimento.

"Já temos algumas encomendas" de projetos relativos ao pacote de estímulo, disse Henry Yu, presidente do conselho da General Steel Holdings Inc., fábrica de aço com sede em Pequim. "A implementação do pacote de estímulo terá um impacto mais evidente no primeiro trimestre do ano que vem", provavelmente depois dos feriados do Ano-Novo chinês, que cai no fim de janeiro, disse ele.

Há alguns sinais positivos. O preço dos produtos de aço usados na construção ficou estável ou ligeiramente mais alto no fim de novembro, em comparação com as semanas anteriores, segundo a Associação de Ferro & Aço da China. Hoje, o banco central chinês comunicou que os empréstimos bancários em moeda local aumentaram 16% em novembro, em comparação com 14,6% em outubro - um sinal de que as instituições financeiras talvez estejam atendendo ao apelo do governo para conceder mais crédito a fim de estimular a economia.

Mesmo assim, Li, o ministro da Indústria, disse que as siderúrgicas têm tempo até março para esgotar as montanhas de matérias-primas compradas a alto preço este ano. Como o preço de venda do aço já caiu cerca de 40% a partir do seu ponto mais alto, de julho, é quase impossível para a maioria dos fabricantes ganhar dinheiro. "Não são apenas os pequenos produtores que estão perdendo dinheiro, são os grandes também, de modo que a situação é realmente séria".

Distribuidoras às voltas com grandes estoques de aço comprados a alto preço não querem se arriscar a comprar mais, o que está agravando a queda na demanda. "Há um declínio na demanda real, mas há também o problema da confiança no mercado", disse Yu, executivo do setor. Mas, na sua opinião, "a China será a primeira economia a se recuperar, e o aço será a primeira indústria a reagir".

O panorama do setor pode mudar radicalmente, pois o governo chinês está incentivando a consolidação entre os mais de mil fabricantes de aço do país, para fazer frente ao excesso de capacidade.