Título: Aço chinês cria atrito entre Transpetro e siderúrgicas
Autor: Góes , Francisco
Fonte: Valor Econômico, 05/02/2009, Brasil, p. A3

A possibilidade de nova importação de aço da China pela Transpetro, a subsidiária de logística da Petrobras, elevou ontem o tom da discussão entre a empresa e a siderurgia nacional. O Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) reagiu contra a importação que, segundo a entidade, poderia atingir até 42 mil toneladas. A Transpetro rebateu as informações do instituto, a quem acusou de fazer lobby em favor da Usiminas.

O debate tem como pano de fundo licitação aberta pela Transpetro, em janeiro, para a compra de 18 mil toneladas de aço destinadas à construção de navios tipo Suezmax no estaleiro Atlântico Sul, em Suape (PE). Onze empresas da Coreia do Sul, China, Macedônia, Romênia, Ucrânia, Indonésia e Brasil participaram do processo. A Usiminas ficou em último lugar na licitação. A empresa apresentou preço 60% mais alto do que a melhor oferta, feita por companhia chinesa. A proposta dos chineses foi de US$ 750 por tonelada CIF (posto no estaleiro, em Pernambuco).

O valor é cerca de 30% inferior ao US$ 1,1 mil por tonelada do último lote de aço comprado pela Transpetro da China, em agosto do ano passado, antes da crise. Em nota, a estatal informou que como os preços ofertados alcançaram um patamar competitivo, optou por aumentar a encomenda de 18 mil para 42 mil toneladas. Decidiu-se adquirir, portanto, volume adicional de 24 mil toneladas nas mesmas condições de preço da encomenda original.

Segundo a Transpetro, a Usiminas foi convidada a oferecer a sua melhor oferta. Na negociação, a siderúrgica aceitou baixar o valor, mas apenas para um lote de 18 mil toneladas. "A Usiminas se recusou a fornecer outras 6 mil toneladas no preço internacional", afirmou a estatal. O presidente da Transpetro, Sérgio Machado, disse que ao tentar proteger a siderurgia coloca-se em risco a construção naval brasileira.

"A Usiminas é grande para ser forçada a fazer o que não quer, mas a indústria de base não pode matar a cadeia produtiva no Brasil", disse Machado. Na nota, a Transpetro disse repudiar "as articulações da Usiminas de tentar impor preços e ameaçar a sobrevivência da nascente indústria naval brasileira".

A Usiminas divulgou nota na qual afirma que "se solidariza com o governo federal no seu esforço de fazer renascer a indústria naval brasileira". A empresa manifestou preocupação, porém, com o fato de que a abertura de licitação internacional (pela Transpetro) "está sujeitando a indústria nacional e o país a práticas desleais de comércio". Segundo a empresa, essa preocupação foi discutida em audiência do IBS com o presidente Lula, no fim de janeiro. "A Usiminas ressaltou que entende ser necessária a adoção de urgentes medidas de defesa de mercado e sugeriu a introdução temporária do preço mínimo para importação dos produtos siderúrgicos até que o movimento de redução dos estoques mundiais se encerre", disse a empresa na nota.

O vice-presidente executivo do IBS, Marco Polo de Mello Lopes, atacou a decisão da Transpetro de importar aço da China. "Em um momento em que o mundo inteiro está incentivando o consumo e se protegendo contra a importação predatória, uma empresa pública resolve privilegiar o produto estrangeiro", disse. Para ele, o Brasil possui uma vantagem em meio à crise global, já que o mercado interno ainda deve crescer, enquanto as economias dos países ricos estão em recessão. Para o setor siderúrgico, a turbulência provocou uma sobra de aço no mercado internacional, que está sendo vendido a preços baixos no país.

Executivos dizem que a Transpetro conseguiu uma cotação de US$ 600 por tonelada do aço importado, "o que não pagaria nem o preço de custo". Fonte próxima à Transpetro disse que a reação do IBS "envenenou" a discussão entre a empresa e a Usiminas. As negociações para a compra das 42 mil toneladas de aço ainda não foram finalizadas.(Colaborou Raquel Landim, de São Paulo)