Título: Indústria automotiva leva Bahia ao maior crescimento desde 1980
Autor: Patrick Cruz
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2005, Brasil, p. A11

A Bahia vive a expectativa de mais uma vez sua economia apresentar taxa de crescimento superior à registrada pelo Brasil. Em 2004, o Produto Interno Bruto (PIB) baiano avançou 8,5% - o melhor resultado desde 1985 -, indo para R$ 82 bilhões, em comparação com os 5% do PIB do país. Para 2005, estimativas preliminares falam em avanço em torno de 5%; para a economia nacional, as projeções ficam em torno de 3,5%. Com crescimento de pouco mais de 10%, a indústria de transformação, que corresponde a 35% do PIB do Estado, foi a responsável pela alta. No parque industrial baiano, nenhum setor recuou. Entre os principais avanços figuraram o refino de petróleo e álcool, com 13,1% - o setor petroquímico responde por 53% do valor de transformação da indústria baiana -, metalurgia básica (12,6%), e borracha e plástico (11,6%). Entre todos, entretanto, nenhum brilhou mais que a indústria automobilística, que cresceu 49,1%. Em agosto, a unidade da Ford passou a operar em três turnos, o que elevou sua produção para pouco mais de 190 mil veículos. No fim do ano, a companhia suspendeu as férias coletivas, em medida que foi seguida por todas as 25 empresas que prestam serviços a ela. Na montadora, já se acredita que a produção de 2005 poderá chegar a 260 mil veículos, superior à capacidade da fábrica, de 250 mil unidades anuais. Os desembolsos efetivos da indústria para a implantação (no momento, há 79 projetos em andamento no Estado) ou ampliação de fábricas na Bahia somaram R$ 785 milhões no ano passado, montante que será superado com folga pelo menos até 2006. Segundo levantamento da Secretaria Estadual do Planejamento, neste ano os investimentos industriais serão de R$ 8,5 bilhões; no ano que vem, serão mais R$ 11 bilhões. Destacam-se entre eles as unidades das fabricantes de pneus Continental e Bridgestone Firestone, que investirão cerca de R$ 790 milhões cada. "O crescimento da economia da Bahia é o maior desde 1980, ano de criação do pólo petroquímico de Camaçari", diz o secretário de Planejamento do Estado, Armando Avena Filho. "No lado social ainda temos muita coisa para resolver, mas, no econômico, a Bahia é a bola da vez." O destaque deste ano na indústria será o setor de papel e celulose, já que em três meses será inaugurada em Eunápolis, sul do Estado, a fábrica da Veracel Celulose, que será a maior linha de produção de celulose do país. Na Bahia, o setor cresceu 4% em 2004, mas vai avançar "pelo menos o dobro neste ano", acredita Avena. A carência no lado social admitida pelo secretário mostra-se com força nos índices de desemprego. Na região metropolitana de Salvador, o número chegou a bater em 22% no ano passado, o que coloca a cidade no incômodo posto de "capital nacional do desemprego". O número atual fica entre 19% e 20%. Há também críticas relacionadas à excessiva concentração dos investimentos no entorno de Salvador e uma dependência muito grande ainda da indústria petroquímica. Um dos setores industriais que tem levado investimentos ao interior do Estado é o calçadista. Em um espaço de três anos, 58 companhias do ramo instalaram-se na Bahia. Não há um "pólo calçadista". Os investimentos foram pequenos - R$ 96 milhões no total -, mas a chegada dessas empresas é comemorada pelo governo estadual por dois motivos: além de levar indústrias ao interior, o setor calçadista precisa de muita mão-de-obra. Calcula-se que trabalham nessas empresas mais de 20 mil pessoas. Segundo o economista Wilson Andrade, presidente da Bolsa de Mercadorias da Bahia e da Associação Brasileira de Bolsas de Mercadorias, 83% do faturamento da indústria baiana concentra-se na região da capital. O resultado da pesquisa que vai apurar essa concentração ainda é preliminar, mas ajuda a dar uma idéia. O grande peso da indústria petroquímica e a criação do "complexo Ford" também têm reflexos negativos no acesso a empréstimos, segundo ele. As linhas de crédito acabam sendo prioritariamente dirigidas para abastecer esses setores. Há outros entraves para um crescimento mais forte da economia baiana. Um deles é a oferta insuficiente de gás natural, segundo o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Jorge Lins Freire. A produção no Estado é de 6 milhões de metros cúbicos por dia. Um terço desse volume abastece a Fafen, subsidiária da Petrobras que produz uréia, amônia e ácido nítrico, enquanto o restante é distribuído pela Bahiagás. O déficit de gás é de 3 milhões de metros cúbicos diários. No agronegócio do oeste do Estado, a área de plantio cresceu de 820 mil para 900 mil hectares nesta safra. O milho perdeu terreno, mas o algodão, por outro lado avançou 150%, levando a Bahia a superar Goiás e se tornar o segundo maior produtor do país - a liderança continua com o Estado de Mato Grosso. A safra de grãos baiana em 2004 atingiu 5,3 milhões de toneladas. O bom desempenho, no entanto, não ofusca a necessidade que o Estado tem de fazer algumas "correções de rumo", segundo o economista Wilson Andrade. Mesmo com a grande produção de algodão, a Bahia não tem uma indústria têxtil forte para consumir o produto. Boa parte da produção acaba sendo vendida para companhias instaladas em outros Estados do Nordeste. Na pecuária ocorre algo semelhante, afirma o economista. Com um rebanho de cerca de 4,5 milhões de caprinos (o maior do país) e 2,5 milhões de ovinos, o Estado não conta com uma estrutura compatível de curtumes para beneficiar o couro, diz Andrade. Mesmo considerada área livre de febre aftosa há mais de três anos, a Bahia ainda não exporta carne de gado - o Grupo Bertin será o primeiro a fazê-lo, mas apenas em janeiro do ano que vem, conforme o Valor antecipou em dezembro. "A chegada do Grupo Bertin é positiva, mas ele terá apenas um frigorífico e nós precisamos de cinco", disse o economista.