Título: Oposição une-se para ir à Justiça contra Lula
Autor: Maria Lúcia Delgado e Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2005, Política, p. A53

A oposição está determinada a não dar trégua ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. PSDB, PFL, PDT, PPS e até a ala oposicionista do PMDB agiram em diversas frentes para cobrar de Lula explicações - até mesmo em juízo - sobre o fato de ter orientado um funcionário do governo a não revelar supostas denúncias de corrupção cometidas no mandato de seu antecessor. A reação "destemperada" do presidente, avaliam os oposicionistas, é uma sinalização concreta de que está ameaçado o projeto de reeleição em 2006. Tucanos e pefelistas acionaram a Justiça e acentuaram o tom dos discursos no Congresso. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi previamente informado de todas as ações que seriam tomadas. A parlamentares do PSDB, FHC disse estar perplexo com a atitude de Lula. O PSDB vai esticar a corda ao máximo e só recuará se houver um pedido de desculpas formal de Lula, o que, segundo fontes do Palácio do Planalto, não ocorrerá. No governo, a avaliação é que o presidente não cometeu qualquer irregularidade no discurso da semana passada. Assessores tentam passar um clima de tranqüilidade e Lula não deve voltar ao assunto. A estratégia continuará a mesma: acionar ministros e líderes para que contextualizem o discurso de Lula. "A estratégia da base governista é que esse tema saia de pauta o mais rápido", ressaltou o líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA). Os tucanos estão cientes de que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, provavelmente arquivará o pedido de abertura de processo contra Lula por crime de responsabilidade e abuso de poder, o que poderia culminar em impeachment. Apesar disso, parlamentares do PSDB ponderam que Severino foi eleito com o discurso da independência em relação ao Palácio do Planalto, e teve votos tucanos. "Ele deve arquivar sim, mas o custo pode ser dar mais poder ao PP na reforma ministerial", disse um parlamentar da oposição. A esperança da oposição é obter algum resultado no Supremo Tribunal Federal (STF), onde foi protocolado ontem um pedido de explicações em juízo ao presidente da República. "O presidente Lula não escapa desta dicotomia: ou faltou com a verdade ao discursar, ou prevaricou", disse o o líder do PSDB, Arthur Virgílio. "Cabe à Advocacia Geral da União responder em nome do presidente, mas até o momento a AGU não recebeu notificação", informou o porta-voz da Presidência, André Singer. O líder do PSDB anunciou em plenário que recomeça a partir de hoje a coletar assinaturas para a instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as denúncias contra o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz. Trata-se de uma reação do PSDB às declarações do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que, para justificar o discurso de Lula, ameaçou a oposição dizendo que "o feitiço pode virar contra o feiticeiro". No pedido de explicações feito ao STF, o PSDB faz quatro perguntas ao presidente da República: a) se ele realmente tomou conhecimento de "processo de corrupção grande" e, mesmo assim, não ordenou a sua devida apuração; b) que seja esclarecido com quem Lula conversou; c) onde se deram os eventuais fatos; d) por que Lula disse que não tinha intenção de "achincalhar" o governo anterior. Além de recorrer ao Supremo, a oposição acionou a Procuradoria Geral da República. Em representação criminal protocolada no Ministério Público, o PFL pede que seja investigado se o presidente praticou o delito previsto no 319 do Código Penal, ou seja, se prevaricou. O PDT e o PSDB apoiaram a iniciativa. Em outra ponta, o deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) protocolou em Pernambuco outra representação semelhante à do PFL. No Rio, o ex-governador e presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, questionou o presidente: "Se ele teve a coragem de encobrir corrupção do governo passado, o que ele fará se ocorrer corrupção no governo dele?" Garotinho conversou com o líder do PMDB na Câmara, Saraiva Felipe (MG), solicitando que a bancada tome uma posição oficial sobre as declarações do presidente. (Colaboraram Paulo Emílio, do Recife, e Janaina Vilella, do Rio)