Título: Relatório inova ao criticar Rússia e Arábia Saudita
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2005, Internacional, p. A57

O relatório do Departamento de Estado americano sobre os direitos humanos no mundo foi especialmente crítico em relação à Rússia e à Arábia Saudita. Esse tom crítico indica uma nova disposição americana em pressionar seus aliados para que eles coíbam abusos. O relatório anual vem num momento em que os próprios EUA vêm recebendo críticas em relação ao modo como Washingotn trata os prisioneiros no Iraque e em Guantánamo. Entre os países mais criticados pelos EUA, persistem Myanmar, Coréia do Norte, Irã, China, Zimbábue e Cuba, mas a adição de Rússia e Arábia Saudita foi novidade. Washington critica a excessiva tendência de centralização do poder por parte do Kremlin, mas contrabalança essas críticas ao dizer que o governo russo vem trabalhando como um aliado-chave dos EUA na guerra ao terrorismo. Os americanos expressaram sua "preocupação quanto à erosão da transparência governamental", por causa das restrições à imprensa. Eles reclamam também da crescente pressão política sobre o Judiciário. Ao criticar a Arábia Saudita, os EUA cutucam seu maior fornecedor de petróleo e principal aliado militar na região do golfo Pérsico. Os americanos falam dos limitados direitos das mulheres no reino, apesar da extrema sensibilidade dos sauditas em relação a esse tópico. Apesar de falar em certos progressos, o Departamento de Estado adverte que "o número de violações e excessos em relação aos direitos humanos excedem em muito os avanços". O presidente dos EUA, George W. Bush, delineou como uma das prioridades de seu segundo mandato a promoção dos direitos e da democracia em todo o mundo. Com Washington fazendo dos direitos humanos uma questão central de suas relações bilaterais, as autoridades americanas começaram a falar mais abertamente sobre as supostas violências de seus aliados. "Estamos preocupados que esses relatórios percam autoridade moral por causa do nível de violações aos direitos humanos acontecendo sob o governo Bush" disse Ajamu Baraka, diretor do U.S. Human Rights Network, associação de 160 organizações americanas de defesa dos direitos humanos. Autoridades árabes dizem que estão melhorando suas atuações no campo dos direitos humanos, mas as críticas dos EUA acabam se tornando contraproducentes, já que o forte antiamericanismo em seus países provoca apoio popular àqueles que resistem às mudanças propostas por Washington.