Título: Em crise, setor de etanol dos EUA negocia ajuda com a equipe de Obama
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 18/12/2008, Internacional, p. A11

As usinas americanas de etanol entraram na fila formada pelos diversos grupos interessados em obter benefícios com o ambicioso plano de estímulo econômico que o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, pretende executar assim que chegar à Casa Branca. AP Tom Vilsack, ex-governador de Iowa, será o novo secretário de Agricultura

Representantes do setor sugeriram à equipe de transição de Obama a abertura de uma linha de crédito de curto prazo e um programa de garantias para ajudar a financiar investimentos no setor, que tem enfrentado dificuldades com a queda nos preços do etanol e a contração da oferta de crédito.

"Uma indústria revitalizada pode ajudar a socorrer a frágil economia dos EUA e reduzir a dependência de petróleo estrangeiro", disse ontem a principal porta-voz das usinas de etanol do país, a Associação dos Combustíveis Renováveis (RFA, na sigla em inglês), num comunicado sobre suas discussões com a equipe de transição.

A segunda maior empresa do setor nos EUA, a VeraSun Energy, dona de 17 usinas no país, entrou em concordata em outubro. A perda de rentabilidade causada pela queda nos preços do combustível nos últimos meses fez outras empresas cortarem a produção e suspenderem novos investimentos.

Obama tem dito que projetos ligados ao desenvolvimento de fontes alternativas de energia, como o etanol, serão uma das prioridades do pacote que ele pretende lançar para reanimar a economia depois que tomar posse, em 20 de janeiro. Centenas de associações como a RFA têm feito sugestões.

Obama apresentou ontem o ex-governador de Iowa Tom Vilsack como o futuro secretário de Agricultura dos EUA, oferecendo mais uma indicação da importância que pretende dar ao desenvolvimento de novas fontes de energia. Iowa concentra boa parte da produção americana de etanol e milho, a matéria-prima usada nos EUA para produzir o combustível.

"Tom entende que a solução para nossa crise energética será encontrada não nos campos de petróleo do exterior, mas nos campos de nossas fazendas aqui em casa", disse Obama. Ele também apresentou o futuro secretário do Interior, o senador Ken Salazar, outro entusiasta do desenvolvimento de fontes de energia renováveis.

A indústria de etanol americana produz atualmente o equivalente a um décimo do consumo de gasolina do país. Sua expansão nos últimos anos espalhou muita riqueza nas comunidades rurais em que as usinas se instalaram, mas gerou pressões indesejáveis sobre os preços de alimentos e preocupação com o impacto sobre o ambiente.

Obama tem indicado que sua prioridade será substituir o etanol de milho por combustíveis mais avançados, como o etanol celulósico, que pode ser feito de palha e outros resíduos vegetais, mas ainda não é viável em escala comercial. Há vários projetos de pesquisa em laboratórios do governo americano e empresas privadas.

Membros da equipe de Obama como o futuro secretário de Energia, Steven Chu, têm criticado as políticas adotadas até aqui pelos EUA, que gastam bilhões de dólares todo ano para subsidiar as usinas de etanol de milho e protegem a produção doméstica com barreiras tarifárias que encarecem o combustível produzido em países mais competitivos, como o Brasil, onde o etanol é feito de cana.

Em 2007, quando cogitou se candidatar à Presidência, Vilsack defendeu o fim dessas barreiras em artigos e entrevistas. Ele acreditava que a importação de grandes volumes de etanol do Brasil criaria incentivos para acelerar o desenvolvimento da infra-estrutura necessária para expandir o consumo do combustível nos EUA.

Mas de lá para cá a produção de etanol de milho cresceu muito e o setor ganhou apoio suficiente para prevalecer sobre seus críticos no Congresso, onde as políticas que subsidiam o setor foram reforçadas no início do ano. Não se sabe se Vilsack ainda concorda com as idéias que defendeu no ano passado, nem se irá promovê-las agora.

Num artigo escrito há dois meses para um jornal de Saint Louis, Vilsack sugeriu a criação de um sistema em que fazendeiros e produtores de etanol poderiam acumular créditos que seriam negociados no mercado e ajudariam a combater o aquecimento global, reduzindo os custos que outras indústrias terão se forem obrigadas a reduzir suas emissões de gás carbônico.