Título: Loyola quer "liberalização cambial"
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2005, Finanças, p. C1

Os economistas Ilan Goldfajn, sócio da Gávea Investimentos, e Gustavo Loyola, sócio da consultoria Tendências, defenderam ontem a liberalização e desburocratização do câmbio. Eles marcaram posição na contramão de uma corrente de economistas que, preocupados com o chamado "efeito colateral" da taxa de juros alta - atração de capitais especulativos em excesso -, recomenda a imposição de obstáculos à entrada destes capitais no país. "Uma boa agenda para o BC seria avançar na liberalização cambial", afirmou Loyola ontem, durante sua participação no seminário "Política Monetária e Agenda do Banco Central para 2005" promovido pela Febraban. Partindo do princípio de que a atual política adotada pelo BC "vai funcionar", Goldfajn disse que controle de capitais e imposição de uma barreira ao dinheiro estrangeiro não são recomendáveis. "Acho que o momento é para fazer o contrário, tirar da gaveta o projeto de desburocratização do mercado cambial", disse o economista da Gávea e ex-diretor do BC. Claudio Haddad, presidente do Ibmec, vai além e defende que, "ao invés de colocar empecilhos à entrada de capitais, deveríamos desburocratizar e reduzir tarifas de importação, abrindo uma nova rodada de liberalização de produtos", com o objetivo de ajudar a derrubar a inflação. Haddad disse que a imposição de um imposto sobre a entrada de capitais estrangeiros "é uma solução que tem seus méritos, mas por outro lado, seus custos mais que compensam seus efeitos", afirmou, levantando a hipótese de que, se adotada no Brasil, a medida poderia criar expectativas opostas ao objetivo. Na sua vez de responder a perguntas da platéia, o diretor de Política Monetária do BC, Rodrigo Azevedo, garantiu que a reforma do sistema cambial brasileiro é um dos tópicos importantes da agenda da Diretoria Internacional e que "há uma série de medidas em estudo" nesse sentido, mas não adiantou quais medidas seriam. Os três economistas defenderam o rígido controle da inflação adotado como prioridade pelo BC, mas o único que não duvidava da eficácia das medidas adotadas pela autoridade monetária era Goldfajn. Ele criticou o "imediatismo" e "falta de paciência" dos envolvidos nos debates. "Temos que levar em conta as defasagens da política monetária, de seis a nove meses (para surtir efeitos)", afirmou. Loyola apontou quatro fatores que, para ele, dificultam a tarefa do BC no controle da inflação com instrumentos tradicionais de juros: "inércia inflacionária, choques de ofertas, canal do crédito obstruído e a solidão do instrumento taxa de juros". Claudio Haddad acrescentou à lista de dificuldades na política monetária restritiva o "alto grau de indexação" existente no país, resquício não eliminado do tempo da hiperinflação, e os créditos subsidiados do BNDES, que, na opinião desse economista, jogam contra os esforços do BC. (JR)