Título: Itaú e Lojas Americanas fecham acordo
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2005, Finanças, p. C3
A Lojas Americanas (LASA) e o Banco Itaú anunciaram, ontem, a criação em parceria de uma nova financeira para financiar as vendas da rede de lojas de departamento. A financeira, cujo funcionamento ainda depende de aprovação do Banco Central (BC), tem como nome preliminar Americanas Taií (a financeira do Itaú) e deve entrar em operação no segundo semestre, com capital inicial de R$ 80 milhões, dividido meio a meio. O Itaú investirá no negócio R$ 240 milhões, sendo R$ 200 milhões de ágio, e a LASA, R$ 40 milhões. Já ao final deste ano, a nova instituição deverá estar financiando 10% das vendas da Lojas Americanas, que faturou R$ 2,3 bilhões em 2003 e R$ 1,9 bilhão de janeiro a setembro deste ano, informou o diretor de relações com investidores da rede de varejo, Roberto Martins de Souza. Em cinco anos, a meta é quintuplicar esse valor e financiar metade das vendas da rede, o que elevaria a carteira para R$ 1,2 bilhão a R$ 1,3 bilhão considerando o faturamento de 2003, disse o diretor de crédito ao consumidor do Itaú, José Francisco Canepa. O Itaú não espera impacto nos resultados nos primeiros três anos, lembraram os analistas do CSFB, Tufic Salem e Roberto Attuch. As ações preferenciais da Lojas Americanas subiram 2,15% ontem para R$ 47,50; e as preferenciais do Itaú recuaram 1,74% para R$ 450, em um dia em que a Bovespa caiu 1%.
Segundo os analistas, o acordo ajuda a reduzir o endividamento da Lojas Americanas. Mas foi considerado salgado para o banco que havia pago R$ 380 milhões para ter acesso aos clientes do Pão de Açúcar, que tem vendas maiores e uma rede bem mais ampla (550 lojas). As metas são mais ambiciosas, porém. Em dez anos, a nova financeira deverá ter emitido 6 milhões de cartões private label para a Lojas Americanas, 3,8 milhões de cartões com bandeira e ter uma carteira de 3,2 milhões de contratos de crédito pessoal e crédito ao consumo, sem contar a venda cruzada de seguros de garantia estendida, de vida e produtos financeiros como capitalização, contabiliza Canepa. É a terceira vez em um ano que a Lojas Americanas muda de parceria no crédito ao consumo. Em março do ano passado, trocou o Cacique pelo Unibanco, agora substituído pelo Itaú. Desta vez, o acordo tem 20 anos. A volubilidade anda solta nesse mercado. O próprio Unibanco anunciou na semana passada que seu HiperCard passará a emitir os cartões de crédito da Wal-Mart, no lugar da GE Financial Services, quebrando uma parceria global que as duas empresas americanas cultivavam. É o segundo grande acordo do tipo selado pelo Itaú que, em julho, fechou joint venture semelhante com o Pão de Açúcar. Na semana passada, ao divulgar o lucro líquido recorde de R$ 3,776 bilhões, o presidente do Itaú, Roberto Setubal, antecipou que algumas novidades estavam no forno. O pioneiro, porém, é o Unibanco, que fechou os primeiros contratos do tipo na década de 90. Para Álvaro Musa, sócio da Partner Consultoria, o acordo consolida um modelo de negócios que é bom para as três partes: banco, varejista e consumidor. "Ganha o varejista, pois gera tráfego na loja e fideliza o cliente; ganha o banco, pois pode alcançar o consumidor de baixa renda de pequena lucratividade individual; e ganha o consumidor, que passa a ter mais liberdade de escolha e conveniência ao receber esses serviços dentro do local onde realiza suas compras", disse Musa. Ao mesmo tempo, acrescentou o especialista, a estratégia "possivelmente, incitará a concorrência entre as instituições financeiras em busca de novas parcerias". O próprio Musa, porém, reconheceu que as oportunidades estão diminuindo. Praticamente todos grandes varejistas já têm parceiros. Musa prevê que, a partir do próximo ano, o mercado deverá passar por uma depuração porque os bancos vão descobrir o ganho efetivo da estratégia. "Pode haver uma grande superposição de clientes porque o mercado alvo não muda tanto assim. Os clientes do Pão de Açúcar podem ser também clientes da Lojas Americanas", explicou. Por enquanto, o Itaú espera que os dois acordos vão "consolidar a posição da Taií no financiamento ao consumo", disse Canepa. Até o final deste ano, a financeira terá 150 pontos próprios e estará em 250 das 550 lojas do Pão de Açúcar; em 160 da Lojas Americanas e 20 da sua promotora de vendas, a Facilita, que passará a ser controlada pela joint venture, totalizando 570 pontos. Em 2006, o número subirá para quase 900. Isso explica o ágio elevado, dos quais R$ 100 milhões serão pagos em seis anos, dependendo de metas atingidas.