Título: Queda da inflação e risco menor no câmbio permitiram o corte da Selic
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2009, Finanças, p. C2
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central diz, em ata divulgada ontem, que decidiu iniciar um ciclo de baixa na taxa de juros em virtude da queda da inflação projetada entre dezembro e janeiro, que tende a ser menos pressionada pela demanda doméstica. Os riscos de repasse da desvalorização cambial para a inflação, na visão do comitê, também se reduziram. Na semana passada, o Copom cortou os juros básicos em um ponto percentual (pp.), de 13,75% para 12,75% ao ano, superando as expectativas dos analistas do mercado financeiro, que esperavam um corte de 0,75 pp. A decisão não foi unânime: dos oito membros do Copom, cinco votaram por um corte de 1 pp. e três por um corte de 0,75 pp. Ontem, o BC divulgou a ata dessa reunião do Copom, que detalha alguns pontos da decisão.
Segundo o documento, a projeção de inflação para 2009 no chamado cenário de referência, que tomava como base a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano na reunião da semana passada e nas seguintes, caiu abaixo do centro da meta de inflação, definido em 4,5%. Os modelos apontavam que, se o BC não reduzisse os juros, a inflação seguiria caindo, ficando, segundo a ata, "sensivelmente abaixo do valor central de 4,5%" definido como meta para 2010.
Em tese, quando as projeções de inflação do BC estão abaixo do centro da meta, há espaço para reduzir os juros. A ata divulgada ontem aponta, entretanto, que os membros do Copom votaram divididos porque vêem de forma diferente os riscos de a inflação não se comportar exatamente como o projetado nos modelos.
Três membros do Copom, segundo a ata, receiam os mecanismos de retroalimentação inflacionária, ou seja, o risco de a inflação mais alta observada em 2008 contaminar os índices de preços em 2009. Outra preocupação desse grupo é a desvalorização cambial pressionar a inflação. "Uma redução mais comedida da taxa básica de juros proporcionaria a sinalização mais consistente com a tendência prospectiva de convergência da inflação para a trajetória de metas e corresponderia melhor à velocidade ótima de implementação do processo de flexibilização", informa a ata do Copom.
O outro grupo, formado por cinco membros do Copom, apontou dois argumentos principais para cortar os juros mais rapidamente. Primeiro, "os riscos para a atividade econômica e, consequentemente, para o cenário inflacionário prospectivo". Ou seja, eles acham que há o risco de a atividade cair mais fortemente do que o antecipado nos modelos de projeção de inflação, jogando os índices de preço mais para baixo ainda. Outro argumento citado pela maioria do Copom é "a ausência de evidências nítidas de repasse da depreciação cambial ocorrida, em ambiente de redução global das pressões inflacionárias".
Ou seja: os índices de inflação continuam comportados, apesar da disparada da cotação do dólar. E os preços no mundo todo têm sido reduzidos, em virtude da crise financeira mundial, o que poderia favorecer o controle da inflação no Brasil. Uma fonte do BC cita, em especial, a decisão da China de manter os seus preços de exportação, a despeito da desvalorização cambial.
A ata, porém, não deixa claro porque o comunicado divulgado logo após a reunião da semana passada dizia que o Copom iniciava "um processo de flexibilização monetária realizando de imediato parte relevante do movimento da taxa básica de juros". Alguns analistas de mercado financeiro interpretaram a mensagem como uma tentativa de evitar a queda da curva de juros futuros. Os juros futuros caíram, porém, a despeito do comunicado divulgado pelo BC.
Apesar da divergência sobre a velocidade de corte nos juros, há consenso entre os membros do Copom de que o cenário inflacionário melhorou. "Há sinais de que, depois de um longo período de expansão, a demanda doméstica teria passado a exercer influência contracionista sobre a atividade econômica", diz a ata. Para o Copom, a forte desaceleração da economia global tem gerado pressões baixistas sobre os preços do atacado, a despeito do ajuste cambial.
"As informações disponíveis sugerem que o ciclo inflacionário observado nos últimos trimestres tende a ser superado, gradativamente, em processo que deve ser liderado pelo comportamento dos preços livres, uma vez que a inflação dos preços administrados deve mostrar maior persistência." Em outro trecho, a ata diz que, "nesse ambiente, a política monetária pode ser flexibilizada sem colocar em risco a convergência da inflação para a trajetória de metas".