Título: Apoios ainda incertos
Autor: Bernardes, Adriana ; Medeiros, Luisa
Fonte: Correio Braziliense, 15/02/2010, Cidades, p. 20

CAIXA DE PANDORA

Depois de praticamente abandonarem Arruda, deputados da base aliada ainda não definiram se irão ou não dar suporte ao governador em exercício Paulo Octávio

Mesa da Câmara no dia em que foi lida, por Raimundo Ribeiro, a carta em que o governador Arruda comunica seu afastamento do cargo

A correlação de forças na Câmara Legislativa do Distrito Federal está completamente indefinida. O afastamento e a prisão do governador José Roberto Arruda (sem partido) provocaram uma debandada em sua base aliada. O sinal mais claro foi dado na aprovação, por unanimidade, dos três pedidos de impeachment contra Arruda na última sexta-feira, em uma reunião informal feita para definir a postura dos parlamentares. Na reunião havia 14 deputados, entre oposição, aliados e até mesmo envolvidos no escândalo revelado pela Operação Caixa de Pandora.

Ninguém assume oficialmente a debandada nem o apoio incondicional ao governador afastado. Dos 24 parlamentares, Arruda sempre contou com o apoio de 19. Desde o início do escândalo do suposto pagamento de propina e corrupção à cúpula do GDF, a distritais e a empresários da cidade, a bancada do governo no Legislativo vem perdendo integrantes. Nos bastidores, apenas três distritais ainda demonstram alguma solidariedade a Arruda: o presidente da Casa, Wilson Lima (PR); o corregedor, Raimundo Ribeiro (PSDB); e a líder do PMDB, Eurides Brito. Mas até mesmo eles evitam explicitar esse apoio. Eurides, por exemplo, ainda demonstra apoio a Arruda, mas mesmo assim votou a favor do prosseguimento dos pedidos de impeachment.

Apesar da mudança de postura, nada garante que o apoio migrará para o governador em exercício Paulo Octávio (DEM). Pelo contrário, ele pode acabar tendo dificuldades em conseguir apoio no Legislativo local para respaldar suas ações à frente do GDF. Parte da base diz aguardar decisão do partido sobre qual caminho seguir. ¿Até agora meu partido não recebeu convite para participar do encontro entre legendas que o governador em exercício quer promover. Por enquanto, me sinto à vontade para não apoiá-lo¿, afirmou o deputado Bispo Renato (PR). E como Paulo Octávio tem dito que não vai disputar as próximas eleições, é possível que esses partidos alinhem-se com os prováveis candidatos ao Buriti.

A decisão do governador interino em tentar costurar um pacto de coalizão é considerada prematura entre alguns distritais. Não apenas porque Arruda é governador, embora licenciado, mas também porque o nome de Paulo Octávio é citado no inquérito do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Paulo Octávio ainda é alvo de quatro pedidos de impeachment, que foram protocolados no primeiro dia dele no cargo. ¿Arruda está apenas licenciado do cargo e, pelo menos oficialmente, não falou em renúncia¿, avalia Paulo Tadeu (PT), membro da CPI da Codeplan.

O Correio apurou que há uma semana ¿ portanto, antes da prisão ¿ cinco deputados da então base governista reuniram-se com Arruda sugerindo que ele renunciasse ao cargo. O governador teria dito que isso estava fora de cogitação. O vice-líder de governo e presidente em exercício da CPI da Codeplan, Batista das Cooperativas (PRP), deu provas de que a sustentanção de Arruda está ruindo na Casa. Ele antecipou que vai apresentar, na próxima quinta-feira, relatório pela aprovação dos três pedidos de impeachment contra o governador licenciado.

Uma vez aberto o processo de impeachment, Arruda não poderia mais renunciar, sob risco de perder os direitos políticos por oito anos, caso tenha o mandato cassado. O processo de impeachment deve se arrastar, pelo menos, por quatro meses. ¿Se Arruda renunciasse antes da abertura dos processos, reduziria seu desgate político, mas perderia o foro privilegiado¿, disse um dos distritais ouvidos ontem pela reportagem.

Defesa

Os deputados estão mais preocupados no momento em salvar a própria pele. Especialmente os oito distritais citados nas denúncias reveladas pelo ex-secretário de Relações Institucionais do GDF Durval Barbosa. Todos entregaram a defesa contra os processos de quebra de decoro parlamentar para o corregedor da Câmara Legislativa, Raimundo Ribeiro, que garantiu finalizar o relatório ainda esta semana. A situação dos deputados flagrados em vídeo é mais grave. ¿As imagens causam impacto mais forte¿, analisou.

Os argumentos de que o dinheiro mostrado nas filmagens era para a campanha de 2006 e de que os deputados não exerciam o atual mandato são facilmente rebatidos. Distritais cujos nomes são citados no inquérito sustentam que a referência a eles feita por terceiros não pode ser comprovação dos fatos. Raimundo Ribeiro está trabalhando no relatório com base nos autos do inquérito do STJ.

Quinta-feira será dia de decisões importantes na Câmara Legislativa. Além da possibilidade de analisar o relatório dos processos de quebra de decoro parlamentar dos oito distritais citados nas investigações da Caixa de Pandora, os deputados terão que votar os pedidos de impeachment de Arruda e indicar os nomes para integrar a Comissão Especial que irá apreciar o mérito dos pedidos. A recomposição da CPI da Codeplan também faz parte da pauta pós-carnaval.

¿Por enquanto, me sinto à vontade para não apoiá-lo

Bispo Renato, deputado pelo PR, referindo-se ao governador em exercício Paulo Octávio