Título: Bloquinho lança Aldo à Câmara e confronta acordo PT-PMDB
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 17/12/2008, Política, p. A8

O bloquinho de esquerda (PCdoB-PSB-PDT e PV) decidiu ontem lançar o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) à Presidência da Câmara. A idéia é polarizar ainda mais a disputa na Casa e forçar um segundo turno, evitando a vitória antecipada do deputado Michel Temer (PMDB-SP), que ganhou mais força com a adesão formal de PSDB, DEM e PPS, em respeito ao princípio da proporcionalidade. "Ainda não decidimos nossa estratégia, mas a candidatura é natural. O bloco está marcando sua posição e preservando sua identidade política", explicou Aldo. Ruy Baron/Valor

Aldo justifica candidatura: "O bloco está marcando posição e preservando sua identidade política"

Aldo lembra que, na disputa passada, PT e PMDB lançaram o nome de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a Presidência da Casa em uma disputa contra ele próprio. Por isso, por uma questão de coerência, o bloquinho se reuniu e decidiu apresentar um candidato na eleição atual. "Vamos nos reunir agora e ver como será a campanha", disse ele.

Parlamentares do PSB e PCdoB reconhecem que a tarefa inicial não é fácil e que, nesse momento, é utopia se falar em vitória. Duas candidaturas se apresentam com mais força nesse momento: além de Temer, o outro candidato já colocado é o deputado Ciro Nogueira (PP-PI). Temer tem o apoio do PMDB, do PT, dos partidos de oposição e de outros aliados do governo, como PTB e PP. "Mas ele não é bom de votos em plenário. Pode ter sido no passado, mas não é nesse plenário atual", alertou um parlamentar do PCdoB.

Como o voto é secreto, o deputado acha que é possível haver traições e dissidências, mesmo que as cúpulas partidárias orientem os votos no candidato do PMDB. "Não interessa ao PT, ao PSDB nem ao DEM um fortalecimento exagerado do PMDB", disse um integrante do bloquinho. No caso do PT, não há muito como romper o acordo, pois ele levou Chinaglia à presidência. Mas o PSDB e o DEM podem, na visão de alguns deputados experientes, enfrentar algumas resistências em suas bancadas.

Por outro lado, poucos negam que a posição pemedebista é cômoda. Maior legenda na Casa, o partido é namorado por PT e PSDB vislumbrando as eleições de 2010. Se é perigoso um PMDB forte demais, é suicídio jogar contra a legenda nesse momento. "Por isso a cúpula tucana correu para anunciar o apoio a Temer. Para não jogar o PMDB no colo de Lula de uma vez", afirmou um deputado ligado a Aldo.

O lançamento de Aldo responde também à necessidade de o bloquinho sinalizar ao Palácio do Planalto que não se conformará com um papel coadjuvante nessa aliança prioritária com o PMDB. A candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) em 2010 nunca foi definitivamente descartada pelo partido.

Ciro Nogueira tem bom trânsito no plenário, é bem quisto pelos deputados, é articulado. Mas faltaria a ele sustentação política, o que assusta alguns deputados. "Muitos se questionam sobre o perigo de eleger um candidato que não tem o apoio dos grandes partidos, repetindo o efeito Severino Cavalcanti (PP-PE) de 2005", afirmou outro parlamentar.

Mas nem todos no bloco são tão otimistas assim. Levantamento rápido feito por um deputado mostrou que Temer tem, a priori, metade dos votos no PSB e no PDT, dois dos principais integrantes do bloquinho. "Corremos o risco de Aldo tirar votos do Ciro, não do Temer. De que adianta transformar um candidato de seis votos em dois candidatos com três votos cada um?" questionou um crítico da candidatura Aldo.