Título: Vale firma parceria em cobre na África
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 17/12/2008, Empresas, p. B10

A Vale do Rio Doce informou ontem ao mercado que acertou parceria com a sul-africana African Rainbow Minerals Limited (ARM) em uma empresa a ser criada após o fechamento de capital da TEAL Exploration & Mining Corporated (TEAL), controlada da ARM, que tem ações listadas nas Bolsas de Toronto e Johannesburgo. A brasileira vai pagar 81 milhões de dólares canadenses (US$ 65 milhões) por uma participação de 50% na nova companhia, na qual terá controle compartilhado com a ARM, que tem negócios de cobre no famoso "cinturão de cobre africano". Segundo nota divulgada, a Vale estuda diversas opções que lhe permitirão alcançar uma capacidade de produção anual de um milhão de toneladas de cobre dentro de cinco a sete anos.

A TEAL pelo seu perfil, está totalmente em linha com a estratégia da Vale. A controlada da ARM tem três projetos de cobre em estágios de viabilidade e de aprovação localizados no cinturão do cobre africano, considerada a mais promissora região do mundo em depósitos de cobre de alto teor. O de Konkola North é considerado o segundo maior recurso conhecido, na Zâmbia. O de Kalumines, mina com produção de cobre e cobalto na República Democrática do Congo, onde se pretende construir uma grande operação dos dois metais utilizando depósitos já conhecidos de alto teor esperado e baixa profundidade. E, o projeto de Mwambashi, também na Zâmbia. Esses três projetos em conjunto prevêem atingir uma capacidade anual de 65 mil toneladas métricas de cobre nos próximos três a cinco anos. A TEAL possui ainda um portfólio extenso de cobre, indicando um potencial estimado de mais de 300 milhões de toneladas de minério de alto teor.

A operação com a ARM prevê que a TEAL, após várias etapas que incluem aprovação dos acionistas e das autoridades, terá seu capital fechado e sofrerá uma reestruturação a ser aprovada judicialmente e de acordo com as leis do território de Yucon, no Canadá. Segundo informações da Vale, esta operação teve aprovação unânime do conselho de administração. O próximo passo será uma assembléia extraordinária a ocorrer em fevereiro de 2009, na qual os acionistas da TEAL deverão votar a favor das mudanças. Caso haja aprovação dos acionistas da TEAL, a operação que prevê a criação da nova empresa deverá ser concluída até o final do primeiro trimestre de 2009.

Pedro Galdi, analista da SLW Corretora, não acha muito representativa esta compra da Vale do ponto de vista do valor, mas do ponto estratégico sim. "É uma região muito complicada, com grandes reservas a explorar no futuro, mas a região é de alto risco político, o que encarece o investimento. Mas, a Vale considera o cobre muito importante no seu portfólio e esta operação vai ajudá-la a crescer em cobre". Ontem, na Bolsa de Metais de Londres o cobre fechou cotado a US$ 3.022 a tonelada, em queda de 1,8%. Para Galdi, se continuar a surgir coisas expressivas como esta, e de pouco valor, a Vale vai comprar, pois antes da crise a mineradora já tinha planos de crescer em cobre e carvão.

A empresa está com uma estrutura financeira muito boa para fazer aquisições que não impactem seu caixa de US$ 15 bilhões. Segundo ele, o mercado vem falando que a Vale estaria de olho também nos ativos de minério de ferro da Rio Tinto, em Corumbá (MS), que pôs ativos à venda para quitar sua dívida de compra da Alcan.

Marcelo Aguiar, analista de mineração e siderurgia do Goldman Sachs, considerou o ativo da ARM bem pequeno, mas ele destaca que a Vale quer se tornar uma mineradora com elevada diversificação em metais e para isso tem de operar em diferentes regiões para se beneficiar das condições das melhores reservas, ter apoio dos governos e mais flexibilidade na questão cambial. "Quanto mais diversificada ela estiver por região e commodity, maior apreciação terá dos investidores".

A Vale, na área de cobre, já opera a mina de Sossego no Brasil e tem produção de cobre associada as suas operações de níquel no Canadá. No momento desenvolve dois projetos do metal: Salobo, na província mineral de Carajás, no Brasil, e o de Tres Valles, no Chile.